A indústria global de piscinas de ondas vive um momento de virada. Durante muito tempo, a grande fronteira tecnológica do setor foi criar ondas potentes, previsíveis e consistentes fora do mar. Hoje isso já é padrão entre os principais players. Nos debates mais recentes do Surf Park Summit 2025, realizados no início de novembro em Virginia Beach, nos Estados Unidos, ficou evidente algo que todo mundo ali já sabe: a tecnologia, embora ainda seja um grande diferencial, abriu espaço para o jogo que acontece fora da água, na capacidade de entregar uma experiência completa, desejável e inesquecível para o público.
Segundo o relatório Verified Market Reports, o setor de clubes de piscinas com ondas movimentou US$ 1,5 bilhão em 2024 e deve ultrapassar US$ 3,2 bilhões até 2033. Já o Surf Park Central, principal hub global de pesquisas, dados e inteligência especializado na área, registra mais de 120 empreendimentos em desenvolvimento no mundo. O segmento deixou de ser uma curiosidade e passou a ocupar um espaço relevante na indústria de lazer, atraindo investidores e operadores em busca de uma tese sólida.
Esse avanço é impulsionado por um novo perfil de cliente. O público de alta renda busca ambientes bonitos, funcionais, silenciosos e bem operados, onde cada detalhe eleva a experiência do dia. Procura menos adrenalina e mais curadoria, menos complexidade e mais fluidez. É um consumidor que valoriza o tempo e que não deseja apenas acesso, mas sensação de pertencimento. Gastronomia de alto nível, privacidade, conveniência, bem-estar, natureza integrada ao design e arquitetura inspiradora formam o conjunto de atributos que molda a nova geração de clubes de piscinas com ondas artificiais.
Se antes a competição se concentrava na métrica da onda — altura, formato e duração — hoje ela se desloca para a qualidade da jornada. Isso tem incentivado modelos imobiliários mais sofisticados. Nos Estados Unidos, surgem clubes integrados a hotéis, restaurantes, programas de assinatura, sistemas de timeshare (uso compartilhado de propriedades entre diferentes famílias) e extended leasing (modelos híbridos que combinam locação e residência de longo prazo). Projetos como o PHX Surf, no Arizona, chegam a incluir vilas inteiras construídas em impressão 3D para ampliar o ecossistema de convivência.
O que realmente impulsiona essa mudança é a maneira como esses espaços se encaixam na vida das famílias de altíssimo padrão. Em mercados maduros, clubes de ondas artificiais já ocupam o lugar que golf clubs e country clubs tradicionais tiveram durante décadas. Tornaram-se pontos de encontro contemporâneos, que combinam segurança, conforto, sofisticação e experiências emocionalmente recompensadoras. Lugares onde as crianças têm autonomia, os adultos têm tranquilidade e o tempo ganha outra qualidade.
Enquanto muitos países ainda buscam integrar tecnologia, operação e experiência, o Brasil desponta como referência global. O país deve chegar a 13 piscinas de ondas em operação até 2026, tornando-se o maior mercado do mundo em número de empreendimentos ativos. Mais do que volume, o Brasil se destaca pelo nível de entrega. Projetos como Praia da Grama, Boa Vista Village e outros complexos nacionais operam com padrão de resort cinco estrelas e combinam arquitetura autoral, gastronomia de alto nível, paisagismo sofisticado e uma visão de convivência urbana que supera a média internacional.
Esse movimento também chega a regiões de alto padrão, como Alphaville, na Grande São Paulo. Um território consolidado como sinônimo de qualidade de vida, que sempre ofereceu segurança e conveniência, mas que sentia falta de um lazer estruturado ligado à água. O Reserva Beach Club, projeto em fase de implantação na região, introduz a ideia de um “litoral possível” dentro do ambiente urbano. Mais do que reproduzir a praia, o espaço busca oferecer um ambiente que combina esporte, bem-estar e convivência, e que resgata a leveza de estar à beira d’água no ritmo da cidade.
O surfe urbano consolidou-se como uma matriz de lazer contemporânea, menos associada à adrenalina e mais ao bem-estar, à convivência e ao tempo de qualidade. Isso explica a inclusão de atividades complementares, como tirolesa, arvorismo, áreas infantis, esportes de aventura, gastronomia especializada, bem-estar e eventos esportivos. Cada camada aumenta o tempo de permanência e reforça o valor percebido pelos usuários.
No fim, o que determina a longevidade e a relevância de um clube de piscina com ondas artificiais não é a altura da onda, mas a consistência da operação e a capacidade de criar experiências que façam sentido para a vida real das pessoas. O surfe urbano é uma indústria em maturação que se define pela experiência. As ondas são o gatilho, e o produto é tudo o que acontece antes e depois delas.
A tecnologia vem entregando o que precisava. A tendência de valor agora está no que acontece além da água.
*Maurício Gariglia é CEO da BR Soho

