A produção brasileira de laranja deve encerrar a safra 2025/2026 com aumento de 28% em relação à atual, enquanto a soja seguirá forte e o café enfrentará alguns desafios. Esse é o cenário traçado no estudo “Perspectivas para o agronegócio brasileiro 2026”, apresentado ontem (29) por analistas do Rabobank, banco holandês de atuação global, especializado em soluções financeiras e estratégicas para o agronegócio.
No geral, as projeções apontam para margens apertadas, mas positivas para o segmento, que pode movimentar R$ 3,79 trilhões em 2025 e representar 29,4% do PIB, a maior participação em 22 anos, segundo cálculo do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, em parceria com a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil). O percentual leva em consideração um ecossistema ampliado, agregando serviços, logística, comércio e indústrias do setor.
As safras atual e a próxima enfrentam um momento complexo, de incertezas geopolíticas, desafios macroeconômicos e pressão fiscal interna, com juros básicos de 15% ao ano e inflação acima de 5%.
Um dos destaques do relatório do Rabobank foi a produção de laranja, que deve encerrar a safra 2025/26 em 295 milhões de caixas de 40,8 quilos, 28% superior à de 2024/25. “Essa safra maior permite uma recomposição de estoques importante”, disse Andrés Padilla, senior analyst de lácteos, bebidas, papel e celulose do Rabobank.

O avanço do greening (doença que afeta as plantas cítricas), a volatilidade climática, a escassez de mão de obra e o aumento de custos são alguns dos empecilhos apontados para a colheita não ser ainda maior.
O levantamento registrou ainda que a produção nacional de suco de laranja deve fechar em 993 mil toneladas equivalentes de FCOJ (concentrado e congelado) para o ano-safra 2025/26 — recuperação de 29% frente a 767 mil toneladas em 2024/25 e um pouco acima da média dos últimos 10 anos, de 973 mil toneladas equivalentes.
Em relação ao preço da fruta no Brasil, houve ajuste. O tamanho da safra 2025/26 restabeleceu o equilíbrio de poder de negociação entre produtores e indústria. Após a máxima histórica de R$ 92 por caixa em outubro de 2024, neste quarto trimestre o valor está na casa de R$ 50. Para o Rabobank, parte dessa queda nos preços deve ser compensada pela elevada produtividade da safra 2025/26. E um sinal importante: os produtores de maior escala continuam investindo, tanto em São Paulo quanto em estados vizinhos.
“Parte desse preço mais baixo está sendo compensada por um aumento de produção bastante expressivo. Então, continua sendo um momento positivo para o produtor. A indústria está alinhando com essa matriz de preços um pouco mais baixos, mas também se beneficia de vendas maiores em volume”, afirmou Padilla.
Soja no meio da discussão entre EUA e China
A soja brasileira está no centro das discussões tarifárias entre Estados Unidos, que querem cobrar alíquotas maiores, e a China, que busca reduzi-las. Não exatamente no meio, mas aguardando na sala ao lado a definição desse embate, que deve ter novo capítulo nesta sexta-feira (31), em reunião entre lideranças americanas e chinesas. Na avaliação do Rabobank, a geopolítica definirá os prêmios da soja na safra 2025/26.
A safra atual tem sido marcada por recordes. A produção estimada é de 172 milhões de toneladas. As exportações devem alcançar 111 milhões de toneladas, 10 milhões a mais que o recorde anterior, de 2023.
O crescimento é impulsionado pela procura da China por parceiros na América Latina, diante de algumas restrições comerciais com os Estados Unidos. As vendas para fora devem se manter no mesmo nível no ano que vem.
No entanto, um eventual acordo comercial entre Estados Unidos e China pode reduzir a demanda pela soja brasileira e pressionar os prêmios nos portos nacionais. Assim, os preços internos podem ficar menos favoráveis ao produtor no Brasil.
“Com isso, a soja brasileira deve ficar mais competitiva para as esmagadoras. E isso deve favorecer inclusive as margens de esmagamento para 2026”, avaliou Marcela Marini, senior analyst de grãos e oleaginosas do Rabobank.
No mercado doméstico, o esmagamento de soja deve atingir 58 milhões de toneladas em 2025, um incremento de 3 milhões em relação a 2024, e chegar a 60 milhões de toneladas em 2026.
O avanço é justificado, em parte, segundo a instituição financeira, pela elevação da mistura obrigatória de biodiesel ao diesel para 15%, implementada em agosto de 2025.
Para os especialistas do Rabobank, mantida a tendência atual de produtividade, a produção do ano que vem poderá atingir um novo recorde, de 177 milhões de toneladas. Condições climáticas e operacionais para o avanço do plantio estão acima da média dos últimos cinco anos. Por isso, a perspectiva positiva.
Café com forte volatilidade
Tarifas, Regulamento Antidesmatamento da União Europeia (EUDR) e estoques formam o tripé da volatilidade no café, segundo o estudo do Rabobank. Neste ano, em Nova York, o café arábica oscilou de US$ 4,38/lp em fevereiro para US$ 2,80/lp em julho e voltou a operar acima de US$ 3,80/lp em outubro. Em Londres, o café robusta seguiu trajetória semelhante — dinâmica que se refletiu nos preços internos no Brasil.
No início de agosto, os Estados Unidos impuseram tarifa de 50% sobre o café brasileiro. A medida afetou 18% das exportações do país e um terço das importações americanas de café. A competitividade do Brasil foi reduzida, favorecendo Colômbia, Etiópia, Vietnã e América Central.
Segundo o Rabobank, o Brasil tem buscado diversificar mercados, mas ainda há dúvidas sobre como recuperar, de fato, o espaço perdido quando a oferta se normalizar ou houver renegociação das tarifas.
Os analistas da instituição projetam produção brasileira de café em 62,8 milhões de sacas de 60 quilos, com o arábica caindo 14% na comparação anual (38,1 milhões de sacas) e o robusta alcançando recorde de 24,7 milhões de sacas, alta de 10% ano a ano.

