O funil é muito estreito. Antes de investirem em uma startup, a Wayra Brasil e o Vivo Ventures – fundos de Corporate Venture Capital da empresa de telecomunicações –, analisam centenas de empresas. São analisadas entre 500 e 700 companhias por ano, para que sejam escolhidas três ou quatro que receberam aportes e terão suporte da expertise da Vivo. A telecom fechou 2024 com R$ 130 milhões em negócios realizados com startups, alta de 30% em relação ao ano anterior. Na busca ativa por projetos promissores que são transformados em soluções práticas, a Vivo tem focado principalmente em serviços financeiros, consórcios e soluções para o agronegócio.
Pela Wayra, que atua no early stage da Vivo/Telefônica, desde 2012 foram investidas 87 startups. Dessas, 25 estão ativas, com R$ 120 milhões gerados em negócios entre elas e a Vivo.
Já o Vivo Ventures, criado em 2022 e que aporta em startups em estágio de desenvolvimento mais avançado (Series A em diante), já investiu em sete startups o montante de R$ 147,8 milhões, de R$ 320 milhões disponíveis.
Segundo Phillip Trauer, managing director da Wayra Brasil e do Vivo Ventures, os fundos funcionam como catalisadores da inovação para a Vivo. “Entendemos que investindo nessas companhias a gente consegue não só capturar as sinergias, mas aprofundá-las, e também surfar o upside de retorno que elas proporcionam”, disse ao BRAZIL ECONOMY.
Um dos principais destaques dos aportes é a Agrolend, fintech que oferece crédito a pequenos e médios produtores rurais no Brasil. O investimento em uma participação minoritária da empresa foi de US$ 1,55 milhão. A startup financia o desenvolvimento de produções agrícolas e incentiva a aquisição de insumos, equipamentos e tecnologias que aumentam a produtividade e a rentabilidade dos produtores.
“Temos olhado com carinho para o setor agro. A Vivo tem uma base de 80 mil produtores clientes. É um investimento estratégico porque podemos explorar diversas avenidas de sinergia”, disse Trauer. “Conectar o campo é o nosso core”, disse, ao ressaltar que já estão em estudos produtos de financiamentos para hardwares, softwares e IoT (internet das coisas), como antenas e drones.
Outra startup investida citada pelo executivo é a Klubi, única fintech autorizada pelo Banco Central a operar no mercado de consórcios no País. Está completamente dentro dos parâmetros de atuação da Vivo, pois é concentrada em um consórcio digital de smartphones. A empresa captou R$ 45 milhões em rodada Série A liderada pela L4 Ventures, da B3, e pelo Vivo Ventures. A Klubi ultrapassou R$ 1 bilhão em créditos originados.
É o segundo investimento do Vivo Ventures na companhia. O primeiro foi em 2022, que resultou no desenvolvimento conjunto de um consórcio de celular, o Compra Planejada – passou a fazer parte do portfólio da Vivo.
Em um ano, o Compra Planejada alcançou a marca de 80 mil planos vendidos, gerando R$ 300 milhões em créditos originados. O diferencial do modelo é o recebimento do valor total do crédito contratado na metade do prazo escolhido (24 ou 36 meses), ou antes, por meio da antecipação das parcelas.
“É uma parceria representativa, que vem contribuindo muito para o crescimento dessa startup. A ideia é gerar ainda mais relevância na Vivo também”, frisou Trauer.
AMADURECIMENTO DO MERCADO
Além de falar sobre as ações da Wayra e do Vivo Ventures, Phillip Trauer analisou o atual momento das startups brasileiras. “Está amadurecendo”, disse.
O Brasil historicamente teve uma discrepância grande de valuations em relação aos Estados Unidos. Esse gap diminuiu na pandemia, “diante de todas as distorções de mercado”, avaliou o executivo. Foi naquele momento em que os investidores internacionais apontaram seus alvos para o País, mas sem muitas bases sólidas. “Jogaram cheques sem muitos escrúpulos, sem fazer muita conta”, analisou ele.
Os valores de mercado entre Brasil e EUA ficaram muito próximos. Mas agora, o investidor estrangeiro, com viés itinerante, itinerante parou de olhar para o território brasileiro e o volume de capital caiu drasticamente.
“Isso é positivo para o mercado porque é mais fácil alocar sem muitos competidores com ‘bolsos infinitos’ e também porque há mais tempo para fazer diligência nas companhias e os value assets ficam mais realistas”, afirmou Trauer. “É um momento saudável, de forma geral, tanto para o empreendedor quanto para o investidor.”