Reconstrução do Grupo João Santos, ex-gigante do cimento, envolve R$ 920 milhões

Com passivo na ordem de R$ 13 bilhões, companhia nordestina começa plano de Recuperação Judicial em 43 empresas e planeja reabertura de uma unidade

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Imagens: Divulgação

Grupo João Santos

Unidade fabril do grupo em Itapetinga, na Bahia

Outrora entre os maiores conglomerados do Brasil, o pernambucano Grupo João Santos tenta colocar fim à tempestade perfeita em seus negócios, que se aprofundou nos últimos anos, mas se desenrola desde a morte de seu fundador, João Santos, em 2009. Desde então, brigas familiares, débitos trabalhistas e tributários e até investigações policiais permeiam a história da gigante do ramo do cimento. Agora, o plano é reconstruir. Com a homologação do plano de recuperação judicial pela 14ª Vara Cível de Recife, a empresa inicia a negociação de ativos imobiliários considerados não estratégicos para sua principal atividade, a indústria do cimento. O objetivo é alcançar uma arrecadação inicial de aproximadamente R$ 920 milhões.

“A nova gestão está focada no soerguimento e na manutenção do legado e solidez do Grupo, resgatando o prestígio que marcou sua trajetória junto ao mercado e à sociedade brasileira e a importância econômica de seus negócios para o Nordeste e o país como um todo”, disse Nivaldo Brayner, que, ao lado de Guilherme Rocha, é co-presidente do Grupo João Santos. Segundo o pedido de recuperação judicial, o grupo tem passivo na ordem de R$ 13 bilhões, envolvendo débitos tributários, trabalhistas, de fornecedores e bancários.

Segundo Brayner, a maior parte dos imóveis a serem vendidos no processo faz parte do patrimônio da Companhia Agroindustrial de Goiana (CAIG), razão social da Usina Santa Tereza, localizada na Zona da Mata Norte de Pernambuco. No mesmo local, há um complexo industrial onde estão as fábricas da Fiat e de indústrias cervejeiras, como Heineken e Itaipava.

O executivo explica que o montante obtido com a alienação dos imóveis terá como destino o pagamento de 100% dos créditos trabalhistas devidos a 20.592 funcionários e ex-funcionários, ou seja, 89,8% dos credores trabalhistas das empresas do Grupo. Outras 944 pessoas – 4% do total de credores trabalhistas – receberão 50% de seu crédito. O Grupo tem dois anos para honrar suas dívidas trabalhistas e com fornecedores. Também serão pagos os montantes devidos no empréstimo DIP celebrado com a gestora ARC Capital e no reperfilamento firmado com a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN).

Como parte da reconstrução, o plano de Brayner é reabrir mais uma das fábricas de cimento fechadas na administração anterior. A próxima a ser reaberta será a Itacimpasa, no município de Itaituba, no Pará, a 900 quilômetros da capital, Belém. “Para voltar a funcionar, essa unidade está recebendo investimentos que irão gerar, pelo menos, 300 novos postos de trabalho”, disse.

Grupo João Santos
Fábrica cimenteira Cibrasa é uma das que ainda estão em operação do grupo no Pará

DÍVIDAS TRIBUTÁRIAS

Com relação às dívidas tributárias, a renegociação com os estados da Bahia, Espírito Santo, Maranhão, Minas Gerais, Pernambuco e Rio Grande do Norte já avançou, e os débitos foram renegociados integral ou parcialmente, reduzindo o passivo em R$ 414,5 milhões. “Em outros dois estados, o Grupo voltou a ser contemplado com benefícios fiscais, após a renegociação de suas dívidas tributárias. Foi o caso do Espírito Santo e do Rio Grande do Norte”, disse.

Segundo Guilherme Rocha, a regularização tributária é parte fundamental para obter os benefícios fiscais e viabilizar o processo de reconstrução do grupo. “Essas negociações nos trarão novas condições para a reabertura das fábricas e, finalmente, a suspensão de medidas judiciais de cobrança das dívidas, agora regularizadas”, afirmou.

Ao longo de 2023 e 2024, a nova gestão reabriu duas fábricas, que se somaram às duas unidades que estavam em funcionamento – das 11 que operavam no auge do Grupo, quando dominava 14% do mercado de cimento do país. Hoje, a produção de cimento está concentrada nas fábricas de Cachoeiro do Itapemirim (ES), Codó (MA), Capanema (PA) e Mossoró (RN), o que gerou, em 2024, um faturamento superior a R$ 1 bilhão. Com um plano desenhado e objetivos traçados, o Grupo João Santos caminha para cimentar um futuro que reflita a imponência de seu passado.

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