“É a economia, estúpido!” Contas públicas, inflação e política monetária procupam

A elite da Faria Lima se encontrou ontem, e o resultado foram críticas ao alto endividamento, xadrez global, os problemas fiscais e a política monetária

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Imagens: BTG Pactual/Divulgação

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André Esteves, do BTG Pactual, falou sobre as expectativas para a economia em 2025

Seja com o microfone na mão ou nos corredores do hotel Hyatt, em São Paulo, os participantes da CEO Conference 2025, promovida pelo BTG Pactual, debateram temas recorrentes: o futuro do Brasil na era Trump, a capacidade do governo de realizar um ajuste fiscal condizente com as necessidades do país e os riscos econômicos advindos da política monetária atual. Felipe Guerra, CIO da Legacy, resumiu a situação de forma contundente: “O Brasil parece um macaco num Airbus, apertando todos os botões, sem saber onde vai parar”, disse, em referência ao descompasso das contas públicas, à alta dos preços e aos riscos de uma política monetária cada vez mais austera.

Essa preocupação também foi levantada por André Esteves, chairman e sócio sênior do BTG Pactual. Para ele, a combinação de uma política fiscal frouxa com uma política monetária apertada é alarmante. “O que me preocupa é essa mistura de políticas que poderiam ser muito mais otimizadas. É como dirigir um carro com um pé no freio e outro no acelerador.” Segundo Esteves, a solução passaria por um ajuste que evitasse uma alta excessiva da Selic, além de um controle fiscal mais rígido. No entanto, ele avalia que essa combinação é pouco provável no cenário atual.

Rodrigo Carvalho, sócio-fundador da Clave, também considera insustentável a manutenção do modelo atual. “Se o Banco Central continuar nesse ritmo, com o câmbio no patamar atual, a Selic precisaria chegar a 16% ou 17% para a inflação convergir para a meta de 3% no terceiro trimestre de 2026”, afirmou. “Não acho que isso vá acontecer.” Para ele, o desfecho dependerá das respostas do governo à queda de sua popularidade. “O governo está preocupado e vai começar a reagir. Por isso, não sei se o plano do BC de parar perto de 15% vai se concretizar.”

A questão dos juros também foi abordada por Rubens Ometto, presidente da Cosan. Segundo ele, além de aumentar o risco de inadimplência e afetar a alavancagem das empresas, a taxa de juros elevada tem levado pessoas e empresas a manterem seus recursos parados em títulos de renda fixa. “Os juros precisam estar mais baixos para o dinheiro circular”, afirmou.

Sobre a condução do Banco Central sob Gabriel Galípolo, Rogério Xavier, sócio-fundador da SPX Capital, lembrou que, embora a autoridade monetária tenha vendido uma grande quantidade de dólares em dezembro passado, “isso não será nem perto do que vai vender em dezembro de 2025″. Ele considera o dólar um investimento relevante para manter em carteira e vê a bolsa brasileira com ceticismo. “Há quem diga que o valuation do mercado acionário brasileiro está barato. Eu, particularmente, não vejo de onde vem essa percepção, considerando o nível de endividamento do país e o efeito de deslocamento gerado por uma taxa de juros tão elevada.”

REAÇÃO

Diante da apreensão do mercado, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tentou acalmar os ânimos e reforçar o compromisso do governo com o equilíbrio fiscal. Ele reconheceu que o ambiente atual é mais tenso do que em outros momentos da história, especialmente diante do cenário geopolítico desafiador. “As pessoas estão mais com o dedo no gatilho”, afirmou. “Mas, neste caso, o dedo no gatilho está dentro da regra do jogo.”

Apesar do discurso oficial, o ceticismo persistiu entre os participantes. Para Rogério Xavier, da SPX Capital, o problema fiscal do Brasil não é exclusivo deste governo. “O grande câncer deste país se chama Congresso Nacional”, afirmou. Ele criticou as emendas impositivas, o apetite por gastos da classe política e a ingerência do Legislativo sobre o orçamento. “Não tem ideologia, não tem Tarcísio, não tem deus, não tem ninguém que vai mudar essa sanha dos políticos de gastarem.”

No cenário global, também surgiram especulações sobre os rumos da economia mundial sob a nova gestão de Donald Trump na Casa Branca. Para André Esteves, o republicano trouxe questões relevantes para o debate. “Por que o TikTok pode operar nos Estados Unidos, mas o WhatsApp não pode na China? Por que os Estados Unidos devem pagar pela segurança da Europa enquanto a Alemanha decide ser dependente do gás russo?” Segundo ele, são tópicos sensíveis que precisam ser discutidos. “Mas a maneira como Trump aborda essas questões não é a melhor. Eu sou mais sutil do que o approach dele.”

Diante de tantas incertezas, a máxima cunhada por James Carville na campanha de Bill Clinton em 1992 segue atual: “It’s the economy, stupid!”

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