Desde que assumiu a presidência da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), em 2023, Roberto Mateus Ordine adotou como sua principal bandeira a reformulação do Centro da capital paulista, até então marcado por prédios deteriorados e frequentes delitos. Com mandato até 2026, o dirigente faz um balanço das iniciativas realizadas até o momento, que resultaram em uma mudança ainda em curso, mas já perceptível em termos de sensação e números. “O Centro de São Paulo está sendo redescoberto”, afirmou Ordine ao BRAZIL ECONOMY.
A frase carrega uma simbologia importante. Remete à fundação da maior cidade do Brasil, em 25 de janeiro de 1554. A sede da Associação Comercial, fundada em 1894, fica a poucos metros do Pátio do Colégio, local de origem e expansão do município.
Por muito tempo, o chamado triângulo histórico, formado pelas ruas Direita, 15 de Novembro e São Bento, foi um polo de comércio relevante, que impulsionou o desenvolvimento econômico e social da região. Com o tempo, porém, foi enfraquecido pela violência e pelo abandono de edifícios históricos.
A partir de 2023, principalmente por meio de três leis de incentivo defendidas pela ACSP, essa trajetória começou a mudar. As legislações redefinem o chamado Triângulo SP como o espaço compreendido entre as ruas Boa Vista, Líbero Badaró e Benjamin Constant.
A tríade de medidas impulsionadoras inclui isenção parcial do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) em até 40% (limitada a R$ 15 mil), redução para 2% na alíquota do Imposto Sobre Serviços (ISS) e isenção de taxas municipais para instalação e funcionamento. Isso atraiu a atenção de empreendedores interessados em retomar a atividade no centro paulistano.
A transformação é visível para quem circula pela região. Mais do que percepção, Ordine comemora os números: nos últimos três anos, 612 novas empresas foram abertas no triângulo histórico. Em crescimento: 129 em 2022; 180 em 2023; e 303 em 2024.
“As empresas estão voltando, e já temos no Centro, novamente, um shopping a céu aberto”, disse o presidente da ACSP, destacando a movimentação em centros culturais, bares, restaurantes, museus e pontos turísticos.
“A Rua Direita e a Rua São Bento, que foram ícones do comércio, estão sendo retomadas por lojas conhecidas e por um comércio forte”, afirmou, citando ainda os rooftops da região – como o Edifício Martinelli, Farol Santander, Balsa Bar, Espaço Priceless, entre outros – como atrativos para quem busca lazer. “A Casa de Francisca é outro fenômeno que tem atraído os jovens para o Centro. E a gastronomia tem sido incrementada de maneira fantástica, com diversos estabelecimentos.”
Ordine projeta crescimento entre 20% e 30% nas vendas na região da Sé. Para ilustrar o avanço econômico, cita o caso da lojinha da Catedral da Sé: “Vendia R$ 5 mil por mês. Passou a vender R$ 5 mil por dia”, disse, lembrando que 600 mil pessoas circulam diariamente pelas linhas de metrô que atendem a região central da cidade.
Na avaliação do presidente da ACSP, a atividade econômica vai se desenvolver ainda mais com a mudança da sede do Governo do Estado para o Centro da capital, prevista para ocorrer até 2030. “Vai ser fantástico”, frisou.
Com investimento de R$ 4 bilhões, serão construídos 12 prédios na região dos Campos Elíseos para abrigar o gabinete do governador e as 28 secretarias estaduais. A estimativa é que 22 mil servidores passem a circular pela área.
Tríade de ações
Se três leis de incentivo fiscal foram fundamentais para atrair investimentos ao centro histórico, outras três ações governamentais – da prefeitura e do governo estadual – “foram igualmente importantes”, segundo Roberto Ordine: zeladoria, iluminação e segurança.
“Temos espaços limpos, iluminados e mais seguros”, afirmou, destacando o reforço do efetivo da Polícia Militar e da Guarda Civil Metropolitana (GCM), além da instalação da central de monitoramento Smart Sampa, da prefeitura, na Rua 15 de Novembro. Os equipamentos contribuíram para 2.754 prisões em flagrante e a captura de 1.481 foragidos – balanço até dia 16 de julho.
A próxima iniciativa prevista é a instalação de portais em entradas e saídas do centro histórico, que deverá começar assim que as reformas das calçadas forem concluídas. É a continuação do redescobrimento do Centro de São Paulo.
