Pelo nome, a primeira impressão é que se trata de uma empresa estrangeira: Lwart. Mas a companhia é 100% brasileira e vem fazendo história na logística reversa de óleos lubrificantes usados ou contaminados (OLUC). A denominação da empresa deriva das iniciais dos quatro irmãos fundadores: Luiz, Wilson, Alberto e Renato Trecenti. A Lwart acaba de completar 50 anos de atividades, comemorados em 30 de janeiro, em busca de uma marca relevante: tornar-se a segunda maior produtora de óleo lubrificante verde do planeta, atrás apenas de uma empresa americana.
“Se estamos em vias de nos tornarmos a segunda maior rerrefinadora do mundo, é porque sempre nos mantivemos fiéis ao nosso propósito de gerar valor para a sociedade e para o meio ambiente, impulsionando o desenvolvimento sustentável”, afirmou Thiago Trecenti, CEO da Lwart Soluções Ambientais.
E não é só isso. A companhia planeja exportar o produto para a Europa e os Estados Unidos. “Mesmo existindo espaço para vender no Brasil, a Lwart entende que precisa sair do país”, afirmou Marcelo Murad, diretor de Óleos Básicos da empresa, com exclusividade ao BRAZIL ECONOMY.
Para o executivo, a Europa tem mostrado grande apelo por sustentabilidade e busca reduzir o consumo de produtos feitos diretamente a partir de recursos naturais, como o petróleo. A empresa tem trabalhado para obter licenças de órgãos reguladores em alguns países e já iniciou testes de vendas no exterior.
A Lwart realiza o refino dos óleos já utilizados ao extrair as moléculas que continuam presentes mesmo nos líquidos queimados e emprega hidrogênio para modificar as partículas. Assim, é possível gerar um produto do chamado Grupo II, de alta qualidade, com as mesmas características — “ou superiores”, segundo Murad — dos óleos produzidos a partir do petróleo. A Lwart é a única produtora de óleo básico do Grupo II na América Latina. “Não é mágica, é tecnologia”, destacou o diretor.
De cada litro de óleo usado, a Lwart transforma 75% em lubrificante novo. “Temos o maior percentual de reuso do mundo”, frisou Murad, ressaltando os avanços na modernização do processo de rerrefino, já que, anos atrás, a taxa era de 68%.
Entre os clientes da Lwart estão grandes players como Lubrax, Petronas, Raízen e Chevron (licenciada da Ipiranga).
O plano de crescimento da Lwart
O investimento de R$ 1 bilhão foi anunciado pela Lwart ainda em 2023. Cerca de 40% desse aporte já foi aplicado, principalmente na construção de uma nova linha de refino na atual planta da companhia em Lençóis Paulista, no interior de São Paulo.
Recentemente, a empresa concluiu a captação de R$ 500 milhões por meio de debêntures verdes, que estão sendo aplicados em iniciativas e projetos elegíveis, conforme seu framework de finanças sustentáveis.

Todos os equipamentos principais, entre eles vasos de pressão, bombas, reatores e evaporadores, já foram encomendados. Para erguer a nova linha de produção, a engenharia civil básica já foi concluída, e a obra propriamente dita deve ser iniciada em março. A conclusão está prevista para o fim do ano, com o refino de óleos entrando em operação no início de 2026.
A partir daí, a capacidade de processamento do OLUC crescerá 50%, passando dos atuais 240 milhões de litros por ano para 360 milhões de litros anuais. Com esse volume, a empresa se tornará a segunda maior rerrefinadora do mundo e incrementará seu faturamento anual, atualmente na casa de R$ 1 bilhão.
O investimento bilionário também ataca outras duas frentes. Uma delas é o aumento do número de unidades de armazenamento temporário de óleo em todo o país. Esses locais recebem o óleo coletado em 22 mil pontos por mês, distribuídos por 3,6 mil cidades brasileiras, antes de serem refinados.
Entre os pontos de coleta estão postos de gasolina, oficinas de troca de óleo e até eventos importantes de automobilismo, como o GP São Paulo de Fórmula 1, o Rally dos Sertões e a Stock Car. A Lwart é responsável pela logística reversa do óleo lubrificante dos veículos dessas categorias.
Atualmente, a empresa conta com 19 unidades de armazenamento. A previsão é que mais seis entrem em operação no curto prazo. Três delas estarão em São Luís (MA), Sinop (MT) e na região de Uberlândia (MG). As outras três ainda estão em fase de estudo.
A outra frente de expansão da Lwart está na coleta. Para isso, a empresa planeja adquirir 200 caminhões, que se somarão à atual frota de 420 veículos. “Vamos ampliar nossa coleta para realmente buscar esse óleo que hoje não está indo para o destino correto”, frisou Murad. Além disso, a companhia está construindo uma central termelétrica para atingir a autossuficiência energética em sua planta.
Carros elétricos não assustam a Lwart
A evolução dos carros elétricos no Brasil e no mundo não preocupa a produtora de lubrificantes. Os veículos 100% elétricos, movidos a bateria, não precisam de óleo. E segundo um estudo da Global EV Drivers Alliance (GEVA), sobre a aderência deste mercado, apesar de 92% dos consumidores preferirem automóveis elétricos, 75% preferem um veículo que tenha a opção tradicional — pelo menos até a nova cadeia industrial se fortalecer.
A mesma percepção, conta Murad, foi sentida nod estudos internos e na observação do mercado da companhia. Por aqui, ele avalia a frota de carros elétricos será majoritariamente composta por veículos híbridos — que ainda necessitam de lubrificantes, ainda que em menor escala — e continuará utilizando motores a combustão por pelo menos mais duas décadas, especialmente em veículos pesados.
“Sabemos da dificuldade de infraestrutura para recarga de veículos elétricos, que não é barata. A tendência é que o setor de lubrificantes permaneça em alta por décadas ainda”, concluiu Murad. Assim, a estrada para o crescimento da Lwart está pavimentada.