Efeito tarifaço: impacto pequeno no PIB e na inflação, projeta Fabio Kanczuk, do ASA

Diretor de macroeconomia da instituição financeira avalia os impactos econômicos e políticos do movimento de Trump. Lula está mais perto da reeleição, diz o economista

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Imagens: Leo Martins/Divulgação

Fabio Kanczuk, diretor de Macroeconomia do ASA, diz que os EUA devem começar a sentir os impactos daqui a quatro meses

Fabio Kanczuk, diretor de Macroeconomia do ASA, diz que os EUA devem começar a sentir os impactos daqui a quatro meses

Os impactos da tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos aos produtos brasileiros, a partir de 1º de agosto, são mais políticos do que econômicos, na avaliação de Fabio Kanczuk, diretor de Macroeconomia do ASA, empresa fundada por Alberto Joseph Safra em 2020 e que atua nos segmentos de asset management, corporate, private e wealth management.

Em explanação feita na manhã de terça-feira (15), de forma online para jornalistas, Kanczuk apontou que as exportações para os Estados Unidos têm uma relação de pouco menos de 2% com o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro.

“Colocando elasticidades típicas, enxergamos o efeito sobre o PIB do Brasil em algo entre 0,3 e 0,4 ponto percentual a menos”, afirmou o economista, pós-doutor em Economia pela Universidade de Harvard, ex-diretor de Política Econômica do Banco Central e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda.

A análise está alinhada com a projeção da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), divulgada também na terça-feira (15), que alertou para a possibilidade de as tarifas dos Estados Unidos afetarem a atividade e reduzirem o PIB brasileiro em 0,4 ponto percentual no curto prazo.

No ASA desde 2022, Kanczuk observou que a taxação terá influência na atividade econômica e, com isso, ajudará a trazer a inflação minimamente para cima.

“É uma demanda externa que está caindo, não interna. Uma empresa que produz suco de laranja, por exemplo, vai ter que fazer triangulação, transhipping — exportar para alguém que depois exporta para os Estados Unidos. Começa a ficar pior para a empresa produtora de suco no Brasil. Cai a lucratividade, cai o salário para os trabalhadores. O efeito é muito mais indireto do que um impacto típico sobre a atividade econômica. Então, o impacto na inflação é pequeno, em torno de 0,1% apenas.”

O impacto maior ocorre no câmbio, que reflete no cenário eleitoral, discorreu Kanczuk. Segundo ele, “o mercado, as pessoas e o consenso de analistas” interpretam o salto do dólar — de R$ 5,45 para R$ 5,55 no período de uma semana (de 8 a 15 de julho) — como um aumento de 10 pontos percentuais na probabilidade de reeleição de Lula: de 45% para 55%.

Ao considerar os parâmetros atuais, num cenário de 100% de probabilidade de vitória do petista na eleição presidencial de 2026, o dólar estaria em R$ 6,00. Mas, para o economista, o câmbio, com suas muitas variáveis envolvidas, muda rapidamente, e é difícil projetar valores mesmo no curto prazo.

Apesar disso, ele não observa uma tendência de alta mais duradoura do dólar, pois o movimento não foi originado por uma manobra econômica interna.

“O câmbio andou, o resto não. Então, a gente não acha que é um movimento com duração grande. Foi mais um ajuste do que a continuidade de um processo”, frisou Kanczuk, ao comentar também os impactos da medida de Donald Trump na própria economia americana.

Para o economista, os Estados Unidos devem começar a ver os ponteiros econômicos mexerem em quatro meses, e o ano de 2025 deve fechar com PIB estável, em 0%, e inflação próxima de 4% ao ano — no acumulado de doze meses até junho, a inflação americana foi de 2,7%.

“A inflação vai subir, pois importar ficará mais caro. Com isso, a inflação sobe e a atividade econômica, com um pouco mais de defasagem, tende a cair. Um PIB próximo de zero abre margem para dúvidas sobre a possibilidade de recessão”, afirmou o diretor do ASA, ao destacar que o mercado ainda está subestimando essas possibilidades, já que os efeitos demoram a aparecer na prática.

Jeferson Bittencourt, head de Macroeconomia do ASA
Jeferson Bittencourt, head de Macroeconomia do ASA
Foto: Leo Martins

Crítica fiscal

Em uma análise mais crítica às ações do governo Lula, Jeferson Bittencourt, head de Macroeconomia do ASA, focou nas expectativas para a política fiscal no segundo semestre de 2025 e em 2026, quando se encerra o atual mandato do presidente.

“O novo arcabouço fiscal foi concebido, claramente, para garantir crescimento real das despesas e proteger gastos com investimento”, afirmou.
“Os esforços que estão sendo empreendidos pelo governo para corte de gastos, apresentados no final do ano passado, são pouco ambiciosos”, disse Bittencourt, ao observar que pouco tem sido feito para melhorar a trajetória dos resultados primários e conter o crescimento da dívida pública.

Para o ex-secretário do Tesouro Nacional, com o atual conjunto de regras, a perspectiva é de um déficit de R$ 78 bilhões em 2025, sendo que o primeiro semestre registrou saldo negativo de R$ 8 bilhões. Assim, R$ 70 bilhões seriam contraídos entre julho e dezembro.

Nesta terça-feira (15), a comissão especial que analisa a PEC 66 (Proposta de Emenda à Constituição nº 66) aprovou um texto que retira os precatórios do teto do arcabouço fiscal. O projeto, que ainda precisa ser aprovado pelos plenários da Câmara e do Senado, inclui as despesas na meta fiscal de forma gradual e dá um fôlego aos gastos do governo.

Bittencourt também relacionou as iniciativas econômicas ao período eleitoral que se aproxima. “Parece que a popularidade do presidente vai se tornar um tema muito mais importante a partir de agora, a ponto de se tentar reabrir a discussão sobre a taxação das remessas de pequeno valor do exterior — a famosa ‘taxa das blusinhas’ —, que vai exatamente no sentido contrário do ajuste fiscal e de todo o discurso sobre a necessidade de aumentar receitas”, afirmou.

“Esse peso da popularidade é um dos grandes vetores de risco para esse cenário alternativo, de um ajuste fiscal pior do que o cenário base”, concluiu o economista.

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