Em meio à busca por alternativas mais rentáveis do que a renda fixa tradicional, os Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs) vêm ganhando destaque no mercado financeiro brasileiro. De acordo com o anuário da Uqbar, o patrimônio líquido dos FIDCs alcançou R$ 635,74 bilhões em 2024, crescimento de 42,11% em relação ao ano anterior. O número de fundos ativos também aumentou, somando 3.043 no período.
Os dados mais recentes da Anbima indicam que, desde dezembro de 2024, os FIDCs ultrapassaram os fundos de ações em volume de patrimônio. Em junho de 2025, esse valor chegou a R$ 687,39 bilhões. Apesar de a indústria de fundos como um todo ter registrado captação líquida negativa de R$ 37,8 bilhões no primeiro semestre de 2025, os FIDCs foram uma das poucas classes com mais aportes do que resgates.
O avanço expressivo dos FIDCs está relacionado à sua capacidade de atender tanto empresas que precisam de capital quanto investidores que buscam retorno diferenciado. “Os FIDCs cumprem um papel relevante no financiamento da economia real. São instrumentos eficientes para antecipação de recebíveis, com estruturas que permitem segurança jurídica e atratividade para os investidores”, afirmou João Peixoto Neto, CEO da Ouro Preto Investimentos. “Temos uma janela de cinco anos em que o mercado terá um crescimento expressivo, e quem estiver bem posicionado poderá aproveitar essa onda”, acrescentou.
Além de representar uma opção atrativa de investimento, os FIDCs também têm se consolidado como alternativa de financiamento para empresas em busca de liquidez.
Os Fundos de Investimento em Direitos Creditórios são fundos de renda fixa que investem em recebíveis de empresas — valores a receber provenientes de operações como vendas parceladas, boletos, cheques, aluguéis e financiamentos. O fundo adquire esses créditos com desconto e, ao receber o valor integral no vencimento, gera rendimento para os cotistas.
Na prática, os FIDCs antecipam recursos para empresas em troca da cessão dos direitos creditórios, permitindo que os investidores lucrem com os juros embutidos nessas operações.
De acordo com informações do Governo Federal, os FIDCs funcionam como um condomínio de investidores que aplicam seus recursos em carteiras compostas por direitos creditórios oriundos de diversos setores, como comércio, indústria, serviços, imóveis, leasing e até hipotecas.
A remuneração para os investidores decorre da diferença entre o valor pago pelo fundo na aquisição dos créditos e o valor nominal recebido no vencimento desses títulos.
Tipos de FIDC
Segundo a B3, existem no País quatro modalidades principais de FIDCs:
- FIDC Aberto: permite o resgate de cotas a qualquer momento, conforme regras do regulamento.
- FIDC Fechado: o resgate só pode ser feito no encerramento do fundo.
- FIDC Não Padronizado (FIDC-NP): investe em créditos de maior risco, como dívidas inadimplentes ou de empresas em recuperação judicial.
- FIDC Setorial: especializado em recebíveis de setores específicos do mercado.
Os FIDCs são, em sua maioria, voltados para investidores qualificados — pessoas físicas ou jurídicas com mais de R$ 1 milhão aplicados no mercado financeiro ou que possuam certificações específicas. No entanto, conforme a B3, alguns fundos permitem a entrada de investidores em geral, desde que observadas as normas mais restritivas da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Entre os principais atrativos dos FIDCs estão a possibilidade de diversificação da carteira, a classificação de risco por agências especializadas, o suporte de consultorias de crédito para avaliação dos ativos e o envolvimento de diversas instituições no controle e fiscalização das operações.
Para a economista Luana Tavares, gestora especializada em ativos estruturados, os FIDCs têm um papel cada vez mais estratégico na alocação de grandes investidores. “A sofisticação das estruturas e o avanço dos processos de originação e análise de crédito tornam os FIDCs uma excelente forma de acessar ativos com boa relação risco-retorno, especialmente em cenários de maior incerteza macroeconômica”, disse.
Esses fatores aumentam a transparência e a segurança para os investidores, além de oferecerem retornos potencialmente superiores aos da renda fixa tradicional.
Fundo brasileiro entre os 10% melhores do mundo
Um dos destaques entre os FIDCs brasileiros é o Oasis FIC FIM CP, da gestora WIT Asset, que recentemente recebeu a nota máxima de cinco estrelas da Morningstar, uma das principais agências globais de análise de investimentos. A classificação posiciona o fundo entre os 10% melhores do mundo.
Com uma estratégia voltada ao crédito privado e foco na relação entre risco e retorno, o Oasis FIC FIM CP tem superado o CDI todos os meses nos últimos três anos — mesmo em um cenário marcado por incertezas geopolíticas e instabilidade econômica.
A gestora atribui o bom desempenho à atuação ativa na análise de dados, controle de riscos e diversificação do portfólio, com ênfase nos FIDCs como instrumento de geração de valor.