O cooperativismo é um projeto vivo de sociedade, que coloca as pessoas no centro

As cooperativas não são apenas uma forma de organizar a economia, mas um projeto de sociedade baseado em comprometimento, confiança, pessoas e cooperação

Remaclo Fischer Junior*
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Imagens: Divulgação

"Em um mundo repleto de desafios sociais, ambientais e econômicos, o cooperativismo se mostra cada vez mais atual"

"Em um mundo repleto de desafios sociais, ambientais e econômicos, o cooperativismo se mostra cada vez mais atual"

Se tem algo que aprendi ao longo da minha trajetória no cooperativismo é que há uma diferença significativa entre acumular recursos e gerar prosperidade. No cooperativismo, os resultados não se distanciam das pessoas: eles fortalecem comunidades, impulsionam vidas e movimentam a economia.

Esse modelo nasceu para isso: para ser uma forma justa, democrática e eficiente de organizar a economia. Aqui, cada pessoa tem papel ativo e compartilha não apenas os resultados, mas também o propósito da cooperativa. Cooperar, no fim das contas, é empreender em conjunto. É crescer por meio de um movimento que valoriza a participação e o desenvolvimento mútuo.

Quando se entende que é parte fundamental das decisões e do impacto que gera, a relação com a economia muda. Passa-se a enxergar valor não só no que se recebe, mas também no que se ajuda a construir.

Em um mundo repleto de desafios sociais, ambientais e econômicos, o cooperativismo se mostra cada vez mais atual. Ele não é apenas um modelo de negócio. É um movimento em expansão, que coloca as pessoas no centro e propõe caminhos para um futuro mais equilibrado.

Neste 5 de julho, celebramos o Dia Internacional do Cooperativismo em sintonia com um marco global: a ONU instituiu, por meio da Resolução 78/175, o ano de 2025 como o Ano Internacional das Cooperativas. O tema escolhido — “As cooperativas constroem um mundo melhor” — reforça o papel transformador do nosso modelo na construção de uma sociedade mais justa, inclusiva e sustentável.

Esse é um bom momento para relembrarmos, de forma simples, como o cooperativismo funciona.

Quem entra em uma cooperativa passa a ser um cooperado ou associado. Isso significa ter voz nas decisões, participar de assembleias, contribuir com recursos e acompanhar de perto os rumos da instituição. Ao fim de cada ciclo, os resultados são compartilhados de forma proporcional à participação de cada um. Mais do que isso, os ganhos são reinvestidos em benefício do próprio grupo, com reflexos diretos na sociedade em que estão inseridos.

Cada cooperativa atua de acordo com sua finalidade. As de crédito oferecem soluções financeiras pensadas para os cooperados e alinhadas às particularidades de cada localidade. As de trabalho reúnem profissionais em busca de melhores condições, capacitação e crescimento conjunto. No agronegócio, produtores compartilham estrutura e buscam eficiência nas compras, no acesso ao mercado e na produção.

O que une essas diferentes frentes é a lógica da colaboração. O cooperativismo reconhece o mérito individual, promove a participação coletiva e entrega resultados sustentáveis. É uma forma de crescer com responsabilidade e inclusão.

Hoje, esse modelo está presente em praticamente todos os setores da economia: financeiro, agropecuário, saúde, transporte, consumo, infraestrutura, seguros e serviços diversos.

Os números demonstram sua relevância. São cerca de 280 milhões de empregos ligados ao cooperativismo em todo o mundo, representando aproximadamente 10% da força de trabalho global. No Brasil, mais de 20 milhões de pessoas já são cooperadas, segundo dados da ONU, do Sistema OCB e da ACI.

Tenho visto esse impacto de perto, especialmente no cooperativismo de crédito. Durante a pandemia, por exemplo, as cooperativas ampliaram sua atuação para apoiar empreendedores, instituições, profissionais de saúde e outros segmentos da economia em que atuam.

Essa capacidade de adaptação e compromisso com as pessoas é o que diferencia o cooperativismo. Em vez de buscar soluções externas, ele fortalece quem já está dentro, gerando um ciclo de desenvolvimento contínuo.

Essa lógica não é exclusiva do Brasil. Na Alemanha, a apoBank é um exemplo consolidado de cooperativa voltada aos profissionais da saúde e atua sob o princípio de ser feita por e para esses profissionais. Há experiências semelhantes na França, no Japão, no Canadá, na Espanha — com destaque para a Corporação Mondragon — e nos Estados Unidos, onde milhões de pessoas utilizam cooperativas de crédito em seu dia a dia.

Mas o que mais me inspira, mesmo depois de tantos anos, não está nos números. É o que eles representam. O sentimento de pertencimento nasce quando o cooperado entende que a cooperativa também é sua. Quando ele percebe que não está apenas recebendo um serviço, mas participando ativamente de algo maior.

Essa percepção, tão presente no dia a dia de quem vive o cooperativismo, tem ganhado cada vez mais visibilidade. Já não é apenas uma impressão compartilhada entre nós. Estudos recentes, como os realizados pela FIPE, ajudam a traduzir em dados aquilo que sentimos na prática: o cooperativismo transforma realidades, fortalece vínculos e amplia oportunidades. Mas, no fim das contas, o que move tudo isso ainda são as pessoas. E é nelas que está a verdadeira força do cooperativismo.

Essa é, para mim, a grande força do cooperativismo. Ele é feito por pessoas. E para as pessoas.

Conhecer, valorizar e participar desse modelo é uma forma concreta de promover mudanças reais. Em um tempo que exige mais consciência coletiva, o cooperativismo se apresenta como uma escolha possível, viável e necessária.

Neste ano simbólico, meu convite é simples: que a gente olhe para as cooperativas como elas realmente são. Não apenas uma forma de organizar a economia, mas um projeto de sociedade baseado em comprometimento, confiança, pessoas e cooperação.

*Remaclo Fischer Junior é presidente da Unicred do Brasil

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