Volkswagen Caminhões aposta em banco próprio e veículos elétricos para crescer

A nova operação financeira começa em 1º de julho com a promessa de taxas melhores, com foco exclusivo para clientes e concessionárias da montadora

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Imagens: Divulgação

Roberto Cortes, CEO da empresa, diz que o agronegócio tem sido importante, mas o transporte urbano também está puxando

Roberto Cortes, CEO da empresa, diz que o agronegócio tem sido importante, mas o transporte urbano também está puxando

Em tempos de recordes (positivos e negativos) na economia – como safra histórica e juros na estratosfera – a Volkswagen Caminhões e Ônibus (VWCO) vai inaugurar um novo capítulo em sua história de mais de quatro décadas no Brasil com o início das operações da Traton Financial Services Brasil. A nova empresa passa a operar no País em 1º de julho, com a promessa de oferecer soluções exclusivas para clientes e concessionárias da VWCO, como crédito direto ao consumidor (CDC), consórcio, seguros e outras linhas especiais de crédito.

O anúncio foi feito nesta quarta-feira (26) em São Paulo pelo COO global da Traton Financial Services, Rene Renkema, acompanhado por Eduardo Portas, CEO da operação brasileira, e por Roberto Cortes, presidente e CEO da Volkswagen Caminhões e Ônibus. “O Brasil é atualmente um dos maiores mercados para veículos comerciais do Grupo Traton. Temos orgulho de fortalecer nossa colaboração com a Volkswagen Caminhões e Ônibus, líder de mercado em caminhões no país, com soluções financeiras personalizadas para clientes e concessionárias. Este é um passo importante após nossa chegada recente ao México”, afirmou Renkema.

Segundo Cortes, o novo serviço é parte da transformação do modelo de negócios da VWCO: “Há 44 anos iniciamos nossa trajetória no Brasil e construímos aqui nossa maior fábrica e centro de desenvolvimento global. Agora, com a Traton Financial Services Brasil, damos mais um passo estratégico. Vamos atender frotistas e transportadores autônomos com soluções que ampliam eficiência e reduzem o custo total de operação”.

A nova instituição nasce com cerca de 100 colaboradores e sede na zona sul da capital paulista. Em um primeiro momento, atuará com CDC para clientes e crédito rotativo para concessionárias, com expansão planejada para incluir seguros, Finame, consórcio, aluguel de veículos e outras soluções financeiras.

“O objetivo é oferecer taxas mais competitivas do que as praticadas no mercado, com agilidade e foco total nos produtos VWCO. Começamos com financiamento de estoques e compras e, no futuro, poderemos integrar outros serviços, inclusive consórcio e seguros, sob o guarda-chuva da Traton”, explicou Eduardo Portas.

Cortes detalha que o novo braço financeiro reflete uma mudança na lógica do setor: “Saímos do foco apenas em produto para um ecossistema completo de transporte. Agora, além de peças, manutenção, caminhões usados e serviços de pós-venda, entregamos também soluções financeiras integradas. Nosso objetivo é oferecer um serviço exclusivo, inclusivo, personalizado e com alto nível de relacionamento”.

Estratégia para enfrentar os desafios econômicos

Apesar do momento desafiador para o setor — com juros altos e incertezas geopolíticas —, a expectativa da montadora é crescer. “Temos uma safra recorde, um PIB que deve crescer 2,5% neste ano e uma necessidade latente de renovação de frota. Esses são vetores que sustentam as vendas”, destaca Cortes. Ele reconhece, no entanto, que a Selic elevada, acima de 10% ao ano, reduz a propensão ao investimento: “Estamos tentando oferecer taxas mais atrativas com nosso próprio banco para contornar esse desafio”.

Sobre a instabilidade global, o executivo vê impacto principalmente no humor dos investidores: “A geopolítica afeta mais a disposição em investir do que propriamente o suprimento de peças. Mas seguimos atentos a possíveis rupturas na cadeia, como fechamento de canais logísticos”.

Projeções e foco no crescimento

Ainda sem divulgar projeções numéricas, Cortes afirma que a empresa espera crescimento nas vendas com o apoio da nova instituição financeira, principalmente por conta da agilidade, exclusividade e personalização no atendimento. O objetivo não é apenas fidelizar, mas aumentar a base de clientes e conquistar novos mercados.

“Todos os setores vão demandar financiamento — não apenas o agronegócio, mas também entrega urbana, transporte de bebidas, ônibus e logística em geral”, afirma. “E estamos apenas começando. Vamos estudar a oferta de aluguel e outros serviços financeiros, com foco exclusivo na marca VWCO”.

Produtos elétricos e visão regional

Além do novo banco, a Volkswagen Caminhões e Ônibus segue investindo na transição energética. Ainda em 2024, serão lançados a segunda geração do caminhão elétrico e-Delivery e o ônibus elétrico e-Volksbus, consolidando a liderança da montadora no transporte sustentável de cargas e passageiros.

Quanto ao cenário regional, Cortes se mostra otimista: “A recuperação da Argentina e a safra recorde no Brasil criam um ambiente positivo. Somos líderes de mercado aqui e enxergamos oportunidades consistentes de crescimento nos países vizinhos, sempre baseados na produção local e em uma cadeia de valor integrada”.

Por fim, sobre o possível acordo entre Mercosul e União Europeia, Cortes foi claro: “Somos totalmente a favor de acordos de livre comércio. Quanto mais liberdade para transacionar, menos barreiras e mais integração produtiva, melhor para todos. É isso que gera riqueza e desenvolvimento sustentável”.

Entrevista com Roberto Cortes, presidente e CEO da Volkswagen Caminhões e Ônibus


“A taxa de juros e geopolítica afetam a disposição para investir”

 

Em um cenário econômico desafiador, com a taxa básica de juros ainda em patamares elevados e tensões geopolíticas que desestimulam investimentos, o setor de veículos comerciais busca alternativas para sustentar o crescimento. Roberto Cortes, presidente e CEO da Volkswagen Caminhões e Ônibus, vê espaço para avanços em 2025, impulsionados por uma safra forte, PIB em expansão e a necessidade de renovação da frota brasileira, cuja idade média ultrapassa os 17 anos. Em entrevista ao BRAZIL ECONOMY, ele fala sobre a criação da Traton Financial Services Brasil, braço financeiro da companhia, os planos de internacionalização, os lançamentos em mobilidade elétrica e a importância de acordos como o Mercosul-União Europeia para ampliar mercados e gerar oportunidades.

 

Apesar dos desafios, o setor de veículos comerciais ainda tem algum fôlego para crescer em 2025?
A gente tem alguns fatores que ajudam. Uma safra boa sempre favorece. O PIB crescendo 2%, 2,5% também colabora. E a necessidade de renovação da frota: quem faz conta vê que vale a pena trocar um veículo velho por um novo.

E do outro lado? O que atrapalha?
A taxa de juros, sem dúvida, é um dos principais entraves. Um juro base de 15% faz com que o financiamento chegue a mais de 20%. Já vivemos momentos com 2% ao ano. Isso trava bastante. Outro fator é a geopolítica, que afeta principalmente a disposição para investir. As pessoas preferem esperar para ver.

Mesmo com isso, vocês devem crescer um pouco?
Crescemos um pouco, sim. Os números mais consistentes vêm de ônibus. Caminhão, nem tanto. Mas vamos compartilhar os dados mais detalhados com você.

Como vocês têm enfrentado esse cenário de juro alto e instabilidade geopolítica?
A questão geopolítica afeta menos o suprimento de peças, e mais o apetite por investimento. Em relação aos juros, estamos lançando a Traton Financial Services Brasil, um novo braço financeiro exclusivo para caminhões e ônibus Volkswagen.

Qual é o diferencial desse novo banco?
É oferecer taxas mais competitivas do que o mercado. Estamos evoluindo de uma empresa que vendia apenas produto, para uma que entrega soluções completas de transporte, incluindo logística, gestão de frota e serviços financeiros.

O Traton nasce com que estrutura?
Começamos com cerca de 100 pessoas, basicamente na área comercial, focadas em relacionamento próximo com os clientes. O banco vai financiar tanto o estoque dos nossos fornecedores quanto os veículos comprados pelos clientes finais.

O objetivo é fidelizar ou crescer?
Ambos. Com taxas melhores e foco exclusivo nos nossos produtos, vamos crescer. É difícil estimar quanto, mas temos certeza de que será acima do que seria sem esse banco.

A atuação será restrita a caminhões Volkswagen?
Sim. Temos outras opções como a Volkswagen Financial Services e bancos comerciais parceiros, mas o Traton nasce 100% voltado para nossos caminhões e ônibus.

Todos os segmentos serão atendidos?
Todos. O agronegócio é importante, mas também o transporte urbano, bebidas, logística, ônibus… Todos os segmentos demandam financiamento.

O banco pode evoluir para outros serviços financeiros?
Sim. Podemos expandir para consórcio, seguros, aluguel e outros serviços financeiros. Hoje, parte disso está com o banco Volkswagen. A ideia é que o Traton incorpore ou complemente essas ofertas no futuro.

Além do banco, quais os lançamentos previstos para este ano?
Estamos na segunda geração do e-Delivery, nosso caminhão elétrico urbano, e lançando também o E-Volksbus, nosso ônibus elétrico. Esses são os principais lançamentos até dezembro.

E pensando em comércio internacional, como vocês veem o possível acordo entre Mercosul e União Europeia?
Somos a favor de qualquer forma de livre comércio. Produzir onde faz sentido é o que gera riqueza. Acreditamos que acordos como esse trazem mais oportunidades do que riscos.

Falando em América do Sul, como está a operação na Argentina?
Muito melhor. A inflação ainda é alta, mas está mais controlada e o PIB cresceu. Abrimos uma operação CKD em Córdoba e multiplicamos nossa participação de mercado por quatro, de 3% para 12%. A combinação de mercado em recuperação com produção local foi decisiva.

Outros países também estão no radar?
Sim, temos um plano ousado de internacionalização. Além de toda a América do Sul, atuamos em países da África e do Oriente Médio. Queremos replicar o que deu certo no Brasil: marca forte, rede sólida, produto adequado.

E no Brasil, qual é a perspectiva?
A idade média da frota é de 17 anos, contra sete ou oito na Europa. Isso por si só já indica uma necessidade de renovação. Com a economia crescendo e com novos serviços, estamos bastante otimistas.

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