Uso de Inteligência Artificial dispara na gestão dos grandes bancos no País

Instituições financeiras adotam IA para automatizar decisões, reduzir riscos e melhorar a segurança, mas especialistas alertam para regulação e fraudes

Guilherme Camara
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Imagens: Divulgação

Spencer Gracias, diretor-geral da Kyndryl, afirma que se antes vivenciamos uma revolução digital, agora será inteligente

Spencer Gracias, diretor-geral da Kyndryl, afirma que se antes vivenciamos uma revolução digital, agora será inteligente

O uso da inteligência artificial (IA) no setor financeiro é um fator transformador das estratégias de investimento, finanças e gestão de riscos. Cada vez mais players do setor vêm discutindo os ganhos e perdas que a área pode ter por meio da aplicação dessa ferramenta.

Um dos principais pontos é o uso de algoritmos para analisar os imensos volumes de dados que uma instituição financeira possui, o que permite melhores decisões de investimento por parte de clientes diante de informações mais precisas e detalhadas. É uma maneira de garantir vantagens de escalabilidade, maior diversificação de opções para investir e gestão mais eficiente de portfólios.

“Se antes vivenciamos uma revolução digital, agora ela será inteligente. Estamos diante de uma era em que a IA deixou de ser um serviço remoto e passou a habitar nossos dispositivos, processos e até auxiliar nas decisões de forma contínua. Agentes de IA estão em smartphones, terminais bancários, wearables ou dispositivos IoT, monitoramento de fraudes e compliance quase em tempo real, embutidos em cada ponto da transação”, afirmou Spencer Gracias, diretor-geral da Kyndryl Brasil, maior fornecedor mundial de serviços de infraestrutura de TI, que analisa constantemente uma série de levantamentos sobre o impacto da IA no setor.

“Dentre as diversas inovações digitais recentes, nenhuma cresceu tão rápido quanto a inteligência artificial, que ganhou espaço no cotidiano de parte da população e, principalmente, nos planejamentos das empresas. Os benefícios do uso de IAs são notáveis e trazem entusiasmo, com eficiência operacional em grande parte dos casos”, disse Cassiano Cavalcanti, diretor para a América Latina na Biocatch, consultoria de tecnologia voltada para instituições financeiras.

A IA também tem um papel importante na negociação algorítmica (algorithmic trading), que se utiliza de algoritmos para realizar transações automáticas, considerando condições de mercado em tempo real. Com isso, o cliente nem precisaria tomar decisões, já que a própria IA faria isso em segundos. A ferramenta também é uma grande aliada no diagnóstico e na execução de alocações de capital e até em fusões e aquisições (M&A). Afinal, pode reunir dados que identifiquem alvos e sinergias entre empresas.

A gestão de riscos também é altamente impactada: a IA vem aprimorando esse processo por meio da análise de dados, identificação de fraudes e até em ferramentas de Processamento de Linguagem Natural (PLN), que são capazes de analisar notícias e “medir” o sentimento do mercado para entender os impactos econômicos futuros.

“Por sermos um banco 100% digital, sempre focamos no investimento em tecnologia. Atualmente nossos contratos passam pelo uso da IA para saber se têm algum problema ou inconsistência. Exatamente por isso estamos com vagas abertas para engenheiros de inteligência artificial, já que queremos expandir ainda mais nosso olhar sobre isso”, destacou Igor Senra, CEO e cofundador da Cora.

No relacionamento com os clientes, as mudanças também são perceptíveis. “É crucial que bancos e instituições financeiras possuam uma compreensão profunda do comportamento do cliente. Isso envolve entender e analisar hábitos de transações, conhecer seus dispositivos e avaliar os padrões comportamentais, ou seja, ser capaz de criar uma identidade digital dos seus usuários”, acrescentou Cassiano Cavalcanti, destacando que a IA também pode ajudar nesse processo.

Isso traz alguns desafios: o principal deles é a confiabilidade dos dados que os algoritmos apresentam. Caso alguns dados se mostrem imprecisos ou enviesados, as decisões de investimento podem ser problemáticas e gerar danos financeiros. Além disso, o uso de dados passados pode não acompanhar as projeções de mercado. Outro risco observado é o uso desenfreado de machine learning e deep learning, que não evoluíram ao ponto de deixarem claro como chegam a determinadas decisões finais. Isso vem levantando questões regulatórias e éticas, já que muitos interpretam a IA como uma ferramenta pouco transparente.

“A IA chegou com força no mercado financeiro há cerca de 20 anos e se consolidou, mas a grande novidade é a inteligência artificial generativa, que nos últimos dois anos vem fazendo uma revolução gigantesca na relação homem-máquina”, afirmou José Luiz Marques Santana, diretor de Segurança do C6 Bank, empresa que lançou recentemente o C6 Assistent. Esta nova ferramenta permite, por meio da IA generativa, que os clientes façam Pix de maneira mais simplificada: o assistente recebe arquivos, fotos ou prints, detecta qual a transação desejada e solicita a confirmação do cliente sem que seja necessário digitar chaves. Além disso, a IA obedece a comandos simples, como por exemplo “Pix de 100 reais para alguém”.

A adoção de modelos integrados no setor bancário — incluindo provedores terceirizados, monitoramento contínuo, governança corporativa sólida e atendimento eficaz aos clientes — é necessária para o uso correto da IA. “Assim como uma faca de dois gumes, a inteligência artificial pode ser ameaçadora considerando o aumento de golpes, mas, por outro lado, promete melhores estratégias para a prevenção desses mesmos golpes. Agora, no entanto, estamos às portas de uma nova transformação que demanda rapidez, e ela promete ser ainda mais radical”, garantiu Spencer Gracias.

Combate aos ataques cibernéticos e outras fraudes

Ataques cibernéticos são problemas que extrapolam a esfera financeira: 54% das grandes organizações de diversos setores relataram ter sofrido um ataque cibernético que interrompeu seus sistemas de TI no ano passado, de acordo com o relatório Cyber Gauge, publicado pela Kyndryl em parceria com a AWS.

Mas, à medida que a transformação bancária acontece e o comportamento do consumidor muda, novas tecnologias de pagamento vêm sendo testadas e, nesse contexto, fraudes e golpes financeiros estão crescendo dentro do setor financeiro. A IA pode ser uma forte aliada no combate às fraudes. “Apesar de excelente, a IA ainda é apenas uma ferramenta programada por alguém, e os bancos têm a capacidade de se antecipar e garantir o que todos esperam: segurança, experiência e privacidade. Oferecer ao cliente efetivamente mais proteção — e não só a sensação de estar seguro — é o caminho para que os golpistas entendam que as instituições financeiras passaram à frente nessa corrida”, afirmou Cassiano Cavalcanti.

Os bancos enfrentam um cenário complexo de riscos, que abrangem desde o roubo de dados até apropriações indébitas de contas. Mitigar essas ameaças de forma eficaz exige que as instituições invistam em tecnologia, recursos e tempo. Só no Brasil, segundo dados da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), fraudes digitais custaram em 2024 mais de R$ 10 bilhões às vítimas, um salto de 17% em relação a 2023.

Porém, o número de ataques vem acompanhado de mais investimentos para fortalecer a defesa, de acordo com José Luiz Marques Santana, do C6 Bank. “O Brasil é um dos principais países do mundo em uso de IA para prevenir golpes no sistema financeiro, junto com Holanda e Inglaterra, por exemplo. Nós exportamos conhecimento sobre esse assunto”.

“O ponto é que estamos vivenciando uma nova era em que o trabalho intelectual será cada vez mais acelerado e automatizado. Se a transformação antes era vista como um desafio para as empresas do setor financeiro, agora ela é uma necessidade diante de um cenário em que há uma crescente complexidade de fraudes envolvendo IA. A única certeza é que temos que estar preparados para esta revolução da inteligência, que será ainda mais veloz do que a última”, completou Gracias.

 

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