“O governo deve fomentar, não interferir no mercado de trabalho e de serviços”

Em entrevista exclusiva ao BRAZIL ECONOMY, Heverton Peixoto, CEO da Omni&Co, afirma que é importante garantir os direitos desses trabalhadores, sem desestimular o crescimento do setor de transporte por aplicativos

Guilherme Camara
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Imagens: Divulgação

Heverton Peixoto, CEO da Omni&Co, comemora o bom momento, mas chama atenção para a indefinição do governo

Heverton Peixoto, CEO da Omni&Co, comemora o bom momento, mas chama atenção para a indefinição do governo

Diante das discussões sobre a regulamentação do trabalho por aplicativos no Brasil, Heverton Peixoto, CEO da Omni&Co (fintech especializada em financiamento principalmente de automóveis) defende que o papel do Estado deve ser o de fomentar a competitividade — e não o de intervir diretamente nas relações entre empresas e prestadores de serviço. Para ele, ações estatais mal desenhadas podem gerar distorções, afastar investidores e reduzir a concorrência no setor, especialmente em áreas sensíveis como o financiamento de motos e carros usados por motoristas e entregadores.

A Omni&Co encerrou 2024 com lucro de R$ 161 milhões — alta de 193% sobre o ano anterior — e com uma carteira líquida recorde de R$ 4,5 bilhões em crédito. A meta até 2028 é ambiciosa: R$ 10 bilhões em carteira e patrimônio líquido de R$ 1,5 bilhão. Neste cenário de crescimento, Peixoto alerta para os riscos de políticas públicas que possam desorganizar o ecossistema que financia os veículos desses profissionais. A seguir, os principais trechos da entrevista.


O governo tem discutido a criação de linhas de crédito para entregadores e motoristas de aplicativo. Como o senhor vê essa iniciativa?

Se for feito por meio de fundos subsidiados e bancos públicos, isso vai afugentar mais ainda os players privados, diminuir a competição e gerar mais ineficiência. No curto prazo, pode até parecer benéfico com a redução de juros, mas no médio e longo prazo os efeitos seriam contrários: menos concorrência, juros mais altos e piores condições para os motoqueiros e motociclistas.

Qual deveria ser, então, o papel do Estado nesse mercado?
O poder público deve fomentar a competição e a redução dos spreads via queda na taxa de juros — sem intervir diretamente. Ao agir assim, se reduziria a carga fiscal e os custos, o que melhoraria o déficit primário e permitiria a redução dos juros. Com isso, teríamos uma espiral positiva no setor de crédito.

Esse caminho não é mais demorado?
É sim. Mas é mais estruturante. Por mais que esse método leve mais tempo para mostrar resultados, ele gera mudanças duradouras. A entrada de novos players naturalmente reduz os spreads, já que há maior competição e pressão sobre as margens.

Como a Omni&Co tem lidado com os desafios do financiamento de veículos para trabalhadores de aplicativos?
Esse é um público que, geralmente, procura crédito de menor valor, como para compra de motos, o que traz custos estruturais mais altos. Além disso, muitos têm dificuldade para comprovar renda e estão inseridos em um cenário macroeconômico de juros altos. A inadimplência é um fator de risco, e a lentidão da Justiça na retomada de bens também é um entrave importante.

Quais soluções poderiam facilitar o acesso ao crédito para esse público?
É essencial desburocratizar. Precisamos de medidas de modernização, como o uso do Pix automático para permitir o débito direto em conta e o avanço em tecnologias de telemetria, para rastrear veículos e facilitar a retomada em caso de inadimplência. Isso atrairia mais investidores e aumentaria a eficiência do sistema.

Como a empresa tem se posicionado diante das discussões sobre o Projeto de Lei dos Aplicativos (PLP 12/2024)?
Acompanhamos com atenção. É importante garantir os direitos desses trabalhadores, sim, mas é preciso cuidado para que a regulação não desestimule o setor de transporte por aplicativo. Qualquer medida deve equilibrar proteção social com liberdade de mercado, mantendo o ambiente atrativo para investimentos e inovação.

A Omni&Co tem metas ousadas até 2028. O cenário político pode atrapalhar esse plano?
Sem dúvida, o cenário político e regulatório influencia diretamente. Investidores querem previsibilidade. O Brasil precisa de um ambiente que favoreça o crédito e a entrada de novos players. Se conseguirmos isso, nossas metas são plenamente alcançáveis. Mas, se houver retrocessos, o ritmo pode ser impactado.

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