Petróleo pode passar de US$ 120 com guerra no Oriente Médio, diz Deutsche Bank

Banco alemão precificou cenários com a escalada da guerra entre Israel e Irã; Brasil sofreria impactos, segundo análise do economista-chefe para o BRAZIL ECONOMY

Guilherme Camara
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Imagens: Divulgação

Drausio Giacomelli, economista-chefe do Deutsche Bank, diz que o conflito deve impactar emergentes como o Brasil

Drausio Giacomelli, economista-chefe do Deutsche Bank, diz que o conflito deve impactar emergentes como o Brasil

O Deutsche Bank precificou o impacto que o preço dos barris de petróleo sofreria diante da guerra entre Israel e Irã. O cenário mais extremo avaliado pelo banco é o fechamento completo do Estreito de Ormuz, o que suspenderia totalmente as exportações de petróleo e gás iraniano. Caso ele seja fechado por apenas dois meses, a expectativa do banco é que o valor do barril possa subir para mais de US$ 124 nos próximos meses e se mantenha acima de US$ 100 pelo menos até o início de 2026, caindo para US$ 86 ao final do ano que vem.

Essa passagem é uma estreita faixa de água localizada entre as costas do Irã e de Omã, sendo um dos principais pontos de escoamento de petróleo e gás natural no comércio internacional, já que liga o Golfo Pérsico ao oceano Índico. De acordo com a Administração de Informação de Energia dos EUA, cerca de 20 milhões de barris de petróleo fluem pelo estreito diariamente.

O banco também analisou os seguintes cenários: caso as exportações iranianas de petróleo caiam 50% e não haja uma escalada regional do conflito (sem a entrada de países como Iraque, Arábia Saudita ou Iêmen na guerra), a tendência é que o valor do barril caia para US$ 62 no início de 2026 e chegue a US$ 57 ao final do próximo ano. Por fim, se o Irã cortar suas exportações de petróleo em 100% (sem o fechamento do Estreito de Ormuz), o valor do barril deve girar entre US$ 70 e US$ 77 até o final de 2026, faixa notada atualmente (ontem, dia 17, fechou em cerca de US$ 75).

Em nota divulgada no último domingo (15), analistas da RBC Capital Markets chamaram a atenção para o fato de que o fornecimento de energia é um ponto crucial no conflito. “Com os ataques em cascata a instalações de gás, depósitos de petróleo e refinarias, a energia está claramente na mira do conflito Israel-Irã, e vemos o risco de uma grave interrupção no fornecimento aumentando significativamente em um cenário de guerra prolongada”, afirmaram.

Como é comum quando ocorrem conflitos no Oriente Médio, os valores dos barris de petróleo subiram imediatamente. Na última sexta-feira (13), após os primeiros bombardeios israelenses, os preços subiram mais de 7%, mas, no início desta semana, já houve uma ligeira queda com a expectativa de um cessar-fogo.

“Quando você está nesse estado, o mercado fica especialmente vulnerável a vendas acentuadas. A alta inicial dos preços na quinta e sexta-feira foi alimentada por um grande influxo de dinheiro especulativo, o que nos levou de volta aos níveis de posicionamento de especulação de sobrecompra”, afirma Rory Johnston, do boletim informativo Commodity Context.

A dúvida que se coloca é se esse cessar-fogo vai ocorrer em breve ou não.

Para Drausio Giacomelli, economista-chefe para mercados emergentes do Deutsche Bank, o conflito entre Irã e Israel pode impactar países emergentes, como o Brasil. Afinal, cerca de metade do superávit da balança comercial brasileira vem do petróleo. Mas os impactos vão muito além do preço do combustível para pessoas comuns. O problema maior gira em torno dos efeitos da guerra em outras economias, como a dos EUA, que podem afetar o Brasil de forma indireta.

“Quando você tem um choque de oferta, como o que ocorre com o petróleo neste momento, isso é um fator a mais que pode levar ao cenário de estagflação nos EUA — ou seja, quando não há crescimento econômico e, ao mesmo tempo, registra-se uma inflação alta. Isso é péssimo para os países emergentes”, afirmou Giacomelli ao BRAZIL ECONOMY.

Além disso, é bem provável que o petróleo e o diesel fiquem mais caros, o que geraria um efeito cascata na cadeia produtiva brasileira, especialmente nos custos logísticos e de transporte em setores como o agronegócio, a petroquímica, entre outros. Isso pressionaria ainda mais a inflação.

“O cenário geopolítico está muito incerto, mantendo um elevado grau de vulnerabilidade econômica do Brasil a variações externas. Monitorar esses desdobramentos é essencial para a tomada de decisões mais assertivas no mundo empresarial”, afirma Rodrigo Rocha, professor de economia da Universidade Tiradentes.

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