No final do ano 2000, surgia no Recife um projeto que visava revitalizar uma região da cidade com prédios históricos, a partir de iniciativas tecnológicas. Era a aproximação do passado com o futuro. Com esse conceito, nascia o Porto Digital, que começou com suas empresas e 56 colaboradores e, hoje — ano em que completará 25 anos — possui 475 companhias, que empregam 21 mil funcionários e geram faturamento anual de R$ 6,2 bilhões. Agora, o parque tecnológico instalado na capital pernambucana renova o fôlego para encarar os próximos 25 anos de sua jornada, com o mesmo DNA, segundo o presidente, Pierre Lucena.
“Seguimos com nossas três frentes de atuação bem definidas: valorização do território, geração de negócios e empreendedorismo por meio da inovação, além da formação de pessoas e profissionais”, disse o executivo, ao apresentar os novos projetos com exclusividade ao BRAZIL ECONOMY.
A revitalização do centro histórico do Recife é um dos grandes marcos do Porto Digital. O Bairro do Recife, que antes era sinônimo de abandono e esvaziamento urbano, ganhou contornos de modernidade. Por dentro e por fora, as estruturas dos prédios centenários foram reformadas e preservadas. Até o momento, mais de 255 mil m² de edifícios históricos e outros imóveis foram recuperados, enquanto 35 mil m² foram reabilitados diretamente pelo Núcleo de Gestão do Porto Digital (NGPD). A previsão é revitalizar, pelo menos, mais 20 mil m² que estão, ou estarão, em obras até o fim de 2025.

Como? Com a chegada de novas empresas à região. É nesse ponto que entra outra mudança: na essência do uso dos espaços, que colocou o Porto Digital como um polo global de inovação.
No pipeline do parque tecnológico estão as recentes e futuras chegadas de companhias como Accenture, Deloitte, Bradesco e Solar Coca-Cola. Com elas, forma-se um ecossistema que gera empregos e desenvolvimento econômico e social.
A partir de julho, a EY — uma das empresas líderes de consultoria e auditoria do mundo, que está há mais de 50 anos na capital pernambucana — vai desembarcar no Porto Digital. Por lá, instalará seu novo SDC (Service Delivery Center).
“Recife é uma cidade majoritariamente de baixa renda, como qualquer capital do Nordeste, que vê no setor de serviço avançado a chance de crescer. Os Estados Unidos fazem isso, e dá muito certo”, afirmou o presidente do Porto Digital, fruto de parceria entre poder público, universidades e iniciativa privada.
O modelo já conta com hubs em Caruaru, no Agreste pernambucano, em Goiânia (GO) e em Aveiro (Portugal), que funciona como apoio para internacionalização de startups e empresas de tecnologia brasileiras interessadas em ingressar no mercado europeu.
Mas é no Brasil que continua a principal aposta do Porto Digital, que tem se transformado para acompanhar a evolução dos negócios globais. O parque tecnológico implantará o NERD (Núcleo de Empreendedorismo em Tecnologias Digitais). O projeto, que funcionará em um imóvel histórico de 3.000 m² cedido pelo Governo de Pernambuco, integra a estratégia de ampliação das externalidades do Porto Digital e reforça a visão de consolidar o setor de tecnologia como principal motor da economia da capital pernambucana.

Com orçamento estimado em R$ 18,5 milhões, será viabilizado com recursos da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), que aportará R$ 13,8 milhões, além de contrapartida do governo estadual, via Secretaria de Desenvolvimento Econômico, no valor de R$ 4,7 milhões.
“A criação do NERD representa um passo estratégico na missão do Porto Digital de gerar empregos qualificados e impulsionar o desenvolvimento econômico sustentável. O programa de empreendedorismo ganha escala”, destacou Pierre Lucena.
“A ideia é ajudar o empreendedor o tempo todo. Trazer as empresas para dentro do NERD, trabalhar em cada etapa de desenvolvimento do negócio, com coworking, networking, treinamentos, acesso a investimentos e programas de inovação aberta”, discorreu o presidente.
Se um novo projeto nasce, outro será descontinuado — pelo simples fato de não fazer mais sentido. É o caso da incubadora do Porto Digital, que deve ser encerrada no ano que vem. “Nosso papel é fazer o que ninguém faz. Se o mercado disponibiliza, nós deixamos de lado e usamos nosso capital humano para outras iniciativas”, frisou o executivo.
Por exemplo, acelerar o programa de formação de profissionais junto às universidades locais — entre elas, a UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), a UPE (Universidade de Pernambuco), a Universidade Católica de Pernambuco e a CESAR School —, que preparam mão de obra qualificada para atuar no setor tecnológico, de alta demanda.
Em uma das parcerias com a Católica, foi montado um curso de graduação mais rápido, de dois anos e meio, com uma estrutura curricular dinâmica, em que todo semestre é promovida uma “residência” dentro do Porto Digital. “As empresas acolhem os alunos.”
Há ainda o programa de bolsas de estudo ofertadas pela Prefeitura do Recife. São 600 por ano. E assim, o ciclo que deu origem ao Porto Digital se faz presente: parceria entre poder público, universidades e iniciativa privada. “São oportunidades que mudam a vida dos jovens e de suas famílias”, disse Lucena, que também é professor de Finanças e Estatística na Universidade Federal de Pernambuco e sabe bem da importância desses elos, que trouxeram o Porto Digital até aqui — e o levarão para os próximos 25 anos. E além.