Mudanças climáticas: “São Paulo está na direção certa”, diz secretária estadual

Natália Resende detalha ações do governo paulista para atrair investidores e dar escala aos projetos de energia limpa, resíduos e finanças verdes. Tinder ambiental é o aliado em busca do ‘match’

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Imagens: Getty Images e divulgação

mudanças climáticas

Estado de São Paulo tem projetos ambientais para a Capital (foto), região metropolitana, Interior e Litoral

No Brasil, enchentes devastadoras por diversas regiões do país. No mundo, incêndios avassaladores em Los Angeles (EUA). E um planeta que registrou, em 2024, o ano mais quente da história e o primeiro em que a temperatura média excedeu o nível pré-industrial em 1,5°C, segundo o Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus (C3S), da União Europeia. Tudo isso tem um vilão em comum: o aquecimento global.

No momento em que as peças do xadrez geopolítico se movem e algumas nações anunciam o abandono de acordos climáticos, Natália Resende, secretária de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Estado de São Paulo, afirma que o governo paulista continua atento a essas questões.

“São Paulo está na direção certa”, disse Resende ao BRAZIL ECONOMY em evento promovido pela revista Vidi, de economia sustentável, que debateu, na capital paulista, no dia 3 de fevereiro, o tema “Alterações climáticas, desafios e urgentes providências” com especialistas do setor.

Secretária estadual de Meio Ambiente, Natália Resende
Natália Resende observa que o biometano tem grande potencial de avanço em SP                                                Foto: Divulgação

De acordo com a secretária, o Estado de São Paulo tem definido, “estrategicamente e de maneira técnica”, dois eixos de atuação: mitigação e adaptação e resiliência. “Em cada um deles, colocamos ações e subações de curto, médio e longo prazos”, disse Resende, ao ressaltar que o Plano de Ação Climática observa pontos como evolução da indústria, energia, uso do solo, resíduos, finanças verdes e educação ambiental.

O governo paulista vê um grande potencial em biometano (CH₄, combustível sustentável oriundo do biogás). “Produzíamos 30 mil metros cúbicos de biometano por dia. Hoje, produzimos 100 mil metros cúbicos diariamente. Triplicamos! E, em cada uma das rotas, estudamos como melhorar, olhando para a estratégia robusta como um todo”, frisou Resende.

Segundo estudo da consultoria McKinsey, o mercado brasileiro de biogás e biometano pode movimentar R$ 40 bilhões até 2030, representando entre 25% e 30% da demanda de gás natural no país.

No aspecto da mitigação, o Estado tem trabalhado em várias frentes. Em uma delas, o desassoreamento dos rios Tietê e Pinheiros. No Tietê, são retirados, por dia, 5,1 mil metros cúbicos de sedimentos, equivalente à capacidade de duas piscinas olímpicas. Juntando os dois rios, desde o início da atual gestão, há dois anos, 2,6 milhões de metros cúbicos foram retirados dos leitos.

O Estado tem atuado em 126 cursos d’água no território paulista para melhorar dois extremos: a captação para abastecimento em época de seca e a mitigação quando há abundância.

No quesito resíduos sólidos, são coletadas de 40 mil a 44 mil toneladas por dia. Para Resende, é necessário caminhar de mãos dadas com as cidades para gerar “viabilidade financeira” desses serviços. “Assim, teremos sustentabilidade nos seus aspectos social, ambiental e econômico”, discorreu a secretária.

Privatização e investimento

A privatização da Sabesp, concluída em meados de 2024, arrecadou R$ 14,7 bilhões e representará R$ 260 bilhões em investimentos até 2060. É a maior oferta pública da história do país no setor de saneamento.

Desse total, R$ 69 bilhões serão destinados exclusivamente ao tratamento e à coleta de esgoto, além de garantir água potável para populações de áreas rurais e urbanas informais. Até agora, a desestatização permitiu o anúncio, no final do ano passado, de R$ 15 bilhões para obras de saneamento.

Tinder ambiental

No Plano Estadual de Meio Ambiente, lançado em junho de 2023, o governo paulista prevê 21 ações, com investimentos de R$ 2,13 bilhões entre capital público e privado até 2026, além de R$ 5,6 bilhões que já estavam previstos para o programa IntegraTietê.

Com esse “portfólio”, segundo Natália Resende, São Paulo quer mostrar a “pujança” na responsabilidade ambiental e em relação às mudanças e emergências climáticas para, assim, atrair investidores e proporcionar escala aos projetos.

Todas as informações sobre arcabouços jurídicos, concessões, autorizações especiais e dados georreferenciados estão à disposição dos interessados para consulta e avaliação na plataforma da Fundação Florestal, vinculada à Secretaria Estadual do Meio Ambiente.

“Queremos promover esse ‘match’ entre os possíveis investidores e financiadores com os projetos que temos. É o nosso Tinder ambiental. É isso que temos estimulado. Para isso, precisamos de governança, transparência e confiabilidade”, disse Resende, ao citar de maneira bem-humorada o aplicativo de encontros pessoais.

“Vamos levar todas as nossas ações para a COP 30 [Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025, que será realizada em novembro, no Pará]. Vamos mostrar nosso potencial e o que queremos não só para o Brasil, mas para o mundo”, enfatizou.

“Temos de desenvolver outros modos de transporte”

Dados da Secretaria Nacional de Trânsito indicam que cerca de 75% de todas as mercadorias movimentadas pelo território brasileiro utilizam o modal rodoviário. São mais de 1,7 milhão de quilômetros de vias, a quarta maior malha de estradas do mundo.

Para Natália Resende, o modal ferroviário, mais limpo e eficiente, é subutilizado. Segundo a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), dos 29 mil quilômetros da rede de ferrovias do Brasil, apenas 11 mil funcionam. Nos Estados Unidos, são quase 300 mil quilômetros de trilhos.

“Temos pouca infraestrutura ferroviária e boa parte dela é ociosa e inoperante”, avaliou a secretária, ao destacar o programa São Paulo nos Trilhos, que prevê expandir em 1 mil quilômetros o transporte de passageiros por ferrovias em todo o território paulista.

São 40 projetos entre trens intercidades (TICs), veículos leves sobre trilhos (VLTs), trens urbanos e metrô. As iniciativas estão estimadas em R$ 194 bilhões para a extensão de trilhos na Grande São Paulo, no interior e no litoral.

Também estão sendo feitos investimentos em hidrovias. Em Buritama, na região de Araçatuba, ocorrem obras de ampliação da profundidade do canal de Nova Avanhandava. Com aporte de R$ 293,8 milhões, a intervenção permitirá a ampliação da capacidade de escoamento da hidrovia em quase três vezes — haverá aumento da profundidade do canal em 3,5 metros ao longo de 16 quilômetros.

“Temos de desenvolver outros modos de transporte”, finalizou Resende.

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