“A sociedade não aceita mais aumento de imposto. Isso está vocalizado no Congresso”

Na avaliação de Paulo Bilyk, CEO da Rio Bravo Investimentos, o País vive o fim de um ciclo marcado por expansionismo fiscal e juros elevados

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Imagens: Divulgação

Paulo Bilyk, cofundador e CEO da Rio Bravo Investimentos, diz que o governo não tem noção do tamanho do problema fiscal

Paulo Bilyk, cofundador e CEO da Rio Bravo Investimentos, diz que o governo não tem noção do tamanho do problema fiscal

Em meio a indicadores econômicos aparentemente contraditórios — como desemprego em baixa, crescimento do PIB e, ao mesmo tempo, um quadro fiscal cada vez mais delicado —, investidores e agentes do mercado se veem diante de um cenário que mistura otimismo cauteloso e preocupações de médio prazo. Para entender melhor esse contexto, o BRAZIL ECONOMY conversou com Paulo Bilyk, sócio e CEO da Rio Bravo Investimentos, que faz uma análise contundente sobre os desafios e as perspectivas da economia brasileira.

Na avaliação de Bilyk, o País vive o fim de um ciclo marcado por expansionismo fiscal e juros elevados, situação que sustenta a atividade econômica no curto prazo, mas que cobra seu preço na forma de desequilíbrio das contas públicas e desvalorização cambial. O executivo alerta que, caso não haja uma correção de rumo na condução fiscal, o Brasil caminha para uma crise contratada. Por outro lado, ele vê espaço para uma retomada consistente nos próximos anos, especialmente a partir de uma eventual mudança de governo que adote uma agenda mais pró-mercado e fiscalmente responsável. Confira, a seguir, sua entrevista:

Como o sr. avalia o atual momento da economia brasileira?
O Brasil está claramente no fim de um ciclo de expansionismo fiscal, acompanhado de um conservadorismo monetário. O Banco Central tenta conter, com juros altos, os efeitos de um governo que gasta muito. Isso gera emprego e algum crescimento, mas às custas de um problema fiscal muito sério.

O risco fiscal está, de fato, colocado à mesa?
Está, e de forma muito preocupante. A sociedade já não aceita mais aumento de impostos, e isso está sendo vocalizado pelo Congresso. O governo, por outro lado, mantém um discurso intervencionista, como se tivesse recebido das urnas um mandato muito maior do que de fato teve.

Qual foi o mandato que Lula recebeu?
Esse novo governo Lula foi eleito com a missão de reestabelecer a normalidade democrática e afastar do poder aqueles que demonstravam claramente ser uma ameaça à democracia. Esse foi o recado das urnas.  

Essa postura do governo tem refletido demais no humor do mercado?
Total. O mercado está muito parado, conservador, mas existe um consenso de que estamos no fim desse ciclo. A expectativa é de que, após o fim deste governo, venha uma liderança mais pró-mercado e fiscalmente responsável. Isso é quase uma necessidade, sob pena de caminharmos para uma bancarrota.

Ou seja, o mercado acredita numa correção mais adiante?
Exato. Existe um otimismo olhando para frente. O Brasil, mesmo com todos os seus problemas domésticos, se beneficia de estar fora do epicentro das grandes crises geopolíticas.

O cenário internacional tem favorecido o Brasil?
De certa forma, sim. Não estamos envolvidos diretamente nas guerras, nos conflitos comerciais ou nas tensões do Oriente Médio e da Ásia. Isso nos protege um pouco. Mas é importante dizer que o crescimento atual da economia brasileira não é fruto de entrada de capitais externos, e sim de expansão fiscal interna — estamos gastando o que não temos.

Você concorda com a avaliação de que já há uma crise fiscal contratada, como disse recentemente Maílson da Nóbrega?
Concordo, plenamente. Se não houver uma gestão fiscal muito prudente na próxima administração, caminhamos para uma retração econômica, que é a outra forma de descrever uma crise. Este governo não demonstra nenhum ímpeto de ajuste fiscal. Só fala em arrecadar mais, como se isso fosse possível.

É possível imaginar uma correção de rumo ainda neste governo?
Não vejo nenhuma indicação disso. O governo parece não ter sequer consciência do tamanho do problema que está ajudando a construir.

Esse cenário de juros altos, com Selic perto de 15%, era esperado?
Era, sim. E acreditamos que esse seja o pico. A partir daqui, há espaço para começar a reduzir juros. Esse movimento será mais rápido se houver um esforço fiscal mais robusto.

Como esses juros altos afetam o mercado de investimentos?
Quando o juro está tão alto, acontece o que chamamos de crowding out: o governo atrai para si todo o dinheiro disponível, competindo com empresas, ações, fundos imobiliários. Isso pressiona os preços dos ativos. Ações caem, cotas de fundos caem, porque precisam oferecer um retorno maior para competir com o Tesouro pagando 15% ao ano.

Por isso vemos menos ofertas de ações e fundos imobiliários?
Perfeito. Não é um momento atrativo para emitir novas ações ou lançar fundos de tijolo. As empresas evitam, porque precisariam vender esses ativos muito baratos. O que tem crescido muito é o mercado de crédito privado.

Quais produtos têm se destacado nesse ambiente?
Sem dúvida, os FIDCs, os CRIs e os CRAs. Toda a atividade de crédito privado está em expansão. Esses produtos têm sido a principal fonte de crescimento dentro da Rio Bravo.

O mercado de crédito privado vai continuar crescendo?
Acredito que sim, e ainda mais quando os juros começarem a cair. Vejo muito espaço de crescimento em crédito para infraestrutura, setor imobiliário, agrícola e no mundo dos recebíveis em geral.

O que pode destravar os outros mercados, como ações e fundos imobiliários?
Principalmente a queda dos juros e a percepção de que haverá uma correção na trajetória fiscal. Isso vai depender muito das eleições e da antecipação que o mercado fizer dos resultados, por meio das pesquisas.

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