De 7 a 10 de outubro de 2025, São Paulo se tornará palco de um dos mais relevantes encontros internacionais sobre inovação, sustentabilidade e diplomacia empresarial. É a primeira vez que o Horasis Global Meeting, reconhecido como um dos maiores fóruns globais de liderança, acontece na América Latina — e não por acaso. A escolha da cidade simboliza uma mudança de eixo no debate sobre os rumos do mundo, refletindo o fortalecimento do Sul Global nas cadeias de decisão.
O evento deve reunir mais de 1.200 líderes de 70 países, entre CEOs, investidores, autoridades públicas, acadêmicos e representantes da sociedade civil. Eles vêm ao Brasil para discutir, sob o tema “Harnessing the Power of Cooperation” (Aproveitando o Poder da Cooperação), como unir esforços em um mundo cada vez mais fragmentado, tanto geopoliticamente quanto economicamente.
À frente dessa transformação está o alemão Frank-Jürgen Richter, fundador do Horasis e ex-diretor do Fórum Econômico Mundial (WEF), em Davos. Em entrevista exclusiva ao BRAZIL ECONOMY, ele detalha os motivos que o levaram a trocar os Alpes suíços pela capital financeira brasileira — e por que considera a colaboração internacional não apenas uma escolha, mas uma necessidade vital para a próxima década.
Richter não esconde que a gênese do Horasis está diretamente ligada a uma visão crítica sobre os limites dos fóruns tradicionais. Quando deixou o WEF, há pouco mais de 20 anos, sua percepção era clara: os encontros em Davos estavam cada vez mais distantes das realidades emergentes. “O diálogo global precisava de uma base mais inclusiva, mais conectada aos desafios e às oportunidades do Sul Global”, afirma.
Foi com esse propósito que ele criou um fórum de sede itinerante, capaz de se moldar aos contextos locais, promovendo não apenas conversas, mas também parcerias concretas. Desde então, a Horasis realizou encontros na China, Vietnã, Índia, Emirados Árabes, Portugal e, mais recentemente, no Brasil — com a edição de 2024, em Vitória (ES), reunindo 450 participantes e servindo de ensaio para o evento que se aproxima.
Agora, em São Paulo, o desafio será maior. Não apenas pela escala — será a maior edição do Horasis já realizada na América Latina —, mas pela simbologia: consolidar o Brasil como uma ponte de diálogo entre economias desenvolvidas e emergentes.
Brasil no centro do tabuleiro global
Richter aposta que o País tem atributos únicos para assumir esse papel. Da liderança ambiental às oportunidades em inovação tecnológica, passando pela força econômica e pela tradição diplomática, o Brasil surge, segundo ele, como “um arquiteto natural de consensos”.
“A economia de São Paulo, sozinha, supera a de muitos países latino-americanos somados. Mas o mais relevante é o capital humano e intelectual que o Brasil oferece”, afirma.
O evento acontece em um momento estratégico, quando o país se prepara para sediar uma série de encontros internacionais de peso, como o G20 em 2024, a COP30 em 2025 e a Expo 2027. O Horasis, assim, antecipa essa agenda, projetando o Brasil como hub de cooperação internacional.
A programação reunirá líderes empresariais, ministros, acadêmicos e organizações como o IBREI – Instituto Brasileiro de Desenvolvimento de Relações Internacionais, o Instituto de Engenharia, a ADVB – Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil, entre outras. As discussões abrangem temas urgentes: clima, inteligência artificial, mobilidade urbana, saúde, juventude, liderança feminina e os dilemas da geopolítica contemporânea.
Mais do que reunir a elite dos negócios, o objetivo é criar um espaço onde também caibam jovens empreendedores, comunidades indígenas, cientistas e agentes da sociedade civil, em pé de igualdade.
“O futuro não será desenhado em salas fechadas, mas na intersecção entre diferentes perspectivas. É isso que faz o Horasis ser diferente de outros fóruns”, ressalta Richter.
De Davos a São Paulo: o poder da cooperação
Na visão do fundador, a palavra-chave da próxima década é uma só: cooperação. E não se trata de um idealismo abstrato, mas de uma exigência operacional frente aos desafios globais — das mudanças climáticas aos riscos geopolíticos, passando pela aceleração da inteligência artificial e pela crescente desigualdade. “Nenhum país, governo ou empresa consegue enfrentar sozinho os problemas que temos pela frente. A cooperação não é uma escolha — é uma necessidade”, afirma.
Ao final da conversa, Richter lança um convite direto: que os brasileiros não vejam o evento apenas como uma vitrine, mas como uma oportunidade real de cocriar soluções para o mundo. “O planeta precisa da criatividade, da energia e da inteligência coletiva que o Brasil tem a oferecer.”
Entrevista | Frank-Jürgen Richter
“A cooperação deixou de ser opção. É questão de sobrevivência”
O senhor foi diretor do Fórum Econômico Mundial. Por que decidiu criar a Horasis?
A experiência em Davos foi importante, mas percebi que os grandes debates estavam limitados a um ambiente geográfico e político muito restrito. O mundo se tornou mais dinâmico e multipolar, e os fóruns tradicionais não estavam acompanhando essa transição. Criei a Horasis para democratizar o diálogo global, com foco real no Sul Global e em soluções práticas. Queríamos abrir espaço para novas vozes, fora dos círculos habituais de poder.
Qual é o propósito central da Horasis hoje?
A missão da Horasis é conectar líderes de diferentes regiões e setores para enfrentar, juntos, os grandes desafios contemporâneos. Queremos transformar boas ideias em ações concretas, por meio de eventos que incentivem a colaboração entre governos, empresas, academia e sociedade civil. Promovemos uma abordagem inclusiva, baseada na escuta ativa e no respeito às diferenças culturais e econômicas. Nossa meta é combinar visão com execução.
Por que São Paulo foi escolhida para sediar o Horasis Global Meeting 2025?
São Paulo é um verdadeiro centro de gravidade econômica, cultural e social da América Latina. A cidade reúne diversidade, infraestrutura, capacidade organizacional e um ecossistema vibrante de inovação e negócios. Além disso, tem liderança política aberta ao diálogo internacional e políticas públicas voltadas à sustentabilidade. Reunir o mundo aqui é estratégico: queremos que São Paulo seja vista como a capital global da cooperação.
O evento terá mais de 1.200 participantes de 70 países. O que o público pode esperar?
O público pode esperar um evento plural, com líderes de altíssimo nível e também vozes emergentes que trazem novas ideias e experiências. Vamos discutir temas como mudanças climáticas, tecnologias emergentes, inovação em saúde e mobilidade urbana, com enfoque na ação conjunta. Haverá sessões abertas, trocas informais e oportunidades reais de formação de parcerias. A ideia é transformar conversas em compromissos com impacto.
O tema do evento é “Aproveitando o Poder da Cooperação”. Por quê?
Porque, diante de tantos desafios globais, a cooperação deixou de ser uma opção e se tornou uma necessidade prática. Crises climáticas, desigualdades sociais, conflitos geopolíticos e transformações tecnológicas exigem respostas que nenhum país ou empresa consegue dar sozinho. A cooperação representa a capacidade de somar forças, ouvir o outro e agir de forma coordenada. É o caminho mais seguro para um futuro sustentável.
O Brasil está pronto para liderar conversas globais como essa?
O Brasil tem uma combinação rara de ativos: abundância natural, matriz energética limpa, tradição diplomática e uma sociedade civil cada vez mais engajada. Isso o coloca em posição privilegiada para liderar iniciativas globais. São Paulo, por exemplo, já é referência em tecnologia, negócios e diversidade. O país tem tudo para ser ponte entre o Norte e o Sul, entre o discurso e a prática — com empatia e autoridade.
A Horasis se posiciona como um fórum aberto e diverso. Como evitar que vire um clube de elites?
Trabalhamos ativamente para garantir diversidade de gênero, origem, idade, setor e pensamento. Valorizamos líderes comunitários, jovens empreendedores, acadêmicos e representantes de minorias — ao lado de CEOs e autoridades. Nossas escolhas são baseadas no conteúdo que cada um pode agregar, e não em status formal. Isso cria um ambiente autêntico, onde todos têm espaço para falar e ser ouvidos, com impacto real.
Já houve resultados concretos gerados por encontros da Horasis?
Sim, e muitos. No Vietnã, por exemplo, o Horasis Asia Meeting contribuiu para a criação do primeiro World Trade Center do país. Também já facilitamos parcerias internacionais em áreas como tecnologia limpa, infraestrutura e educação. Nosso modelo estimula a construção de relações de confiança, que muitas vezes resultam em investimentos e políticas públicas. Trabalhamos para que cada encontro deixe um legado.
Qual foi o momento mais transformador que o senhor viveu nesses encontros?
O mais marcante são sempre os encontros inesperados — quando pessoas de mundos diferentes descobrem que compartilham desafios semelhantes. Lembro de conversas entre líderes empresariais e representantes de comunidades tradicionais que resultaram em cooperação real. Esses momentos fora do palco, nos intervalos, são os que geram as conexões mais duradouras. É ali que o diálogo vira transformação concreta.
Qual é sua maior expectativa para a edição brasileira do Horasis?
Minha expectativa é que o Brasil abrace ainda mais seu papel de articulador global e que o evento em São Paulo inspire novas alianças e soluções. Quero que os participantes saiam energizados, com projetos em andamento e novos parceiros estratégicos. Mais do que isso: espero que o espírito de cooperação que vamos cultivar aqui se espalhe e reverbere em outros fóruns pelo mundo. São Paulo tem tudo para marcar esse novo começo.