Mais da metade da vida do empresário Ricardo Gracia foi dedicada a experiências profissionais na China. Hoje, com 54 anos, há 28 ele viaja para o país asiático em busca de conhecimento de mercado, novidades e tendências para trazer ao Brasil e aplicar na Kidy Calçados, companhia que fundou em Birigui (SP), com seu irmão Sérgio, em 1990, e que neste ano completa 35 anos de existência. CEO da companhia – enquanto Sérgio atua no Conselho de Administração –, Ricardo frequenta o território chinês muito antes – quase três décadas – de ele estar no hype. O que lhe rendeu falar o idioma, usar e abusar das estratégias de vendas, inspirar-se para lançar produtos e, inclusive, estabelecer uma joint venture para fabricação e venda de calçados infantis na China. “Diria que eu sou quase um chinês”, afirmou ao BRAZIL ECONOMY.
Essa forte ligação vai agora impulsionar uma expansão dos negócios da Kidy a partir do mercado asiático para ampliar a presença internacional da marca. O objetivo é dobrar a receita com comercialização em outros países, que hoje representa cerca de 10%, para chegar a 20% — o faturamento da Kidy em 2024 foi de R$ 160 milhões.
A estratégia, desta vez, não terá a China como protagonista dos negócios de Ricardo. Será o Vietnã, que faz fronteira com a área chinesa. “Estamos desenvolvendo agora uma coleção no Vietnã para que a gente possa vender para países que não compram do Brasil”, disse o CEO, citando o Peru como exemplo. “É um país que praticamente não compra do Brasil, mas compra muito da China. Então, vai poder comprar as nossas coleções de lá”, afirmou o executivo. “Também queremos comercializar mais produtos com parceiros que já estão com a gente, como os Emirados Árabes.”
Com essas iniciativas internacionais, a Kidy pretende avançar para outras nações. Hoje, são mais de 60 países que compram os calçados da fabricante paulista, que tem fábricas em Birigui e em Três Lagoas (MS). São produzidos 14 mil pares por dia nas duas plantas, e outros 2 mil na joint venture na China, com a rede de joalheria Hiersun — por lá, desde 2018, os calçados atendem ao segmento premium. “Menos volume e mais preço”, salientou o CEO.

A previsão de crescimento do faturamento total neste ano é de 4%. “Estamos vendo um mercado que não está aquecido”, frisou Ricardo, ao projetar uma perspectiva de 8% de aumento nas vendas no ano que vem. “É ano eleitoral (de eleição presidencial) e a economia deve estar mais latente”, analisou.
E NO MERCADO BRASILEIRO?
No mercado brasileiro também há novidades. A começar pela inauguração da primeira loja física da Kidy, uma flagship em São Paulo. “Estamos em avaliação do local, mas provavelmente em um shopping”, revelou Ricardo Gracia, ao ressaltar que a marca está presente em 9.500 pontos de venda multimarcas espalhados por todo o País.
A loja-conceito seguirá os aprendizados adquiridos na China. “O desafio do varejo brasileiro, junto com a indústria, é seguir sua transformação. Hoje o diferencial é o modelo híbrido: loja junto com o online andando juntos”, disse o executivo, que faz investimentos em live commerce, também muito utilizado pelos chineses.
Sobre a futura unidade própria, o fundador da Kidy observou que “é preciso gerar experiências ao consumidor”, a exemplo do que acontece na… China!
“Dois shoppings da cidade de Shenzhen são referências mundiais em experiência para o cliente. Um deles é como se fosse uma floresta. O outro é como se fosse a Nasa chinesa, totalmente futurista. Ou seja, as pessoas vão ao shopping não para consumir, mas sim para ter a experiência daquele ambiente”, salientou Ricardo.
LANÇAMENTOS
Até inaugurar a flagship, a Kidy Calçados segue com seu DNA ancorado em lançamentos. São 200 previstos para este ano. Todos – inclusive os produzidos na China e no Vietnã – projetados e desenvolvidos no Brasil.

Essa, inclusive, é a média de novidades da marca que chegam ao mercado anualmente – com a natural retirada de alguns modelos. Uma das principais novidades lançadas, mas que ficaram no portfólio, são as pop-art, calçados vendidos com uma surpresa dentro da caixa. “Somos o maior produtor e vendedor de calçados com brinquedo”, afirmou o CEO. Adivinhe de onde veio a tendência? De lá mesmo, da China! Acertou!
Entre as linhas lançadas mais recentemente estão os calçados funcionais para os primeiros passos (Kidy Equilibrium), modelos com apelo sensorial (Kidy Star e Play&Fun), até soluções mais voltadas ao estilo (Kidy Bella e Trend) e performance (K360). Esta última, inclusive, é apontada como candidata a futura marca independente, com potencial para escalar além do público infantil.
A Kidy também mantém a aposta na tecnologia, com soluções como palmilhas com amortecimento inteligente (TecGel), sistemas de ventilação (Respi-Tec), modelos laváveis e antiderrapantes.
“O foco do mercado não está mais apenas em preço. O novo varejo exige marcas com propósito, diferenciais competitivos e que entreguem retorno ao lojista. Estamos prontos para esse novo momento”, finalizou Ricardo em bom português. O sotaque chinês está nos negócios.