Um dos símbolos da ascensão e queda do império de Eike Batista, o Porto do Açu, no norte do estado do Rio de Janeiro, vive seu melhor momento. Com apenas dez anos de operação, o mais jovem terminal portuário do país já ocupa a vice-liderança em movimentação de carga — atrás apenas do Porto de Santos — e tem mais de R$ 20 bilhões em investimentos programados até 2033, especialmente em energia limpa.
“Com uma estratégia que combina negócios tradicionais e iniciativas alinhadas à transição energética, o porto vem atraindo investimentos significativos e consolidando-se como um ecossistema de competitividade para o Brasil”, afirmou ao BRAZIL ECONOMY Rogério Zampronha, presidente da Prumo Logística, grupo econômico responsável pelo desenvolvimento estratégico do Porto do Açu.
Nos últimos anos, o porto registrou um crescimento expressivo em seu volume de operações. Em 2022, movimentou 67 milhões de toneladas de carga, número que saltou para 78 milhões de toneladas em 2024, superando a média de crescimento da corrente de comércio brasileira. Além disso, o número de embarcações que acessaram o porto aumentou de 5.317, em 2022, para 7.353, no ano seguinte — um crescimento de quase 40%. “Mais do que um terminal portuário de cargas, estamos fazendo do Porto do Açu uma plataforma de geração de negócios e desenvolvimento da economia brasileira”, disse Zampronha.
Originalmente concebido para escoar minério de ferro do sistema Minas-Rio, o Açu viu sua vocação se expandir com o avanço do pré-sal na Bacia de Campos. Hoje, o porto exporta 40% de todo o petróleo que o Brasil vende mundo afora e abriga a maior base de suporte à exploração offshore do mundo, com nove dársenas cobertas e sete descobertas, além de uma expansão prevista para mais cinco. Essa infraestrutura tem sido fundamental para o desenvolvimento do setor de óleo e gás no país.
Além dos negócios tradicionais, o Porto do Açu tem se posicionado como um player estratégico na agenda global de descarbonização e transição energética. Um dos projetos mais emblemáticos é o hub de hidrogênio, que já conta com a locação de 1 milhão de metros quadrados para empresas como a norueguesa Fuella e a americana HIF, esta última com participação da Porsche. O hub utiliza água de reúso do mineroduto de minério de ferro, uma vantagem competitiva em relação a outros polos globais que dependem de dessalinização.
Outra iniciativa relevante é o programa de desmantelamento sustentável de embarcações, em parceria com a Petrobras. O porto realiza o pré-descondicionamento de plataformas e navios, removendo substâncias poluentes e limpando cascos infestados por coral-sol, uma espécie invasora. Esse processo, que segue rigorosos padrões ambientais e de segurança, contrasta com práticas precárias ainda comuns em países como a Índia.
Com a força do agro
O Porto do Açu também tem se inserido no mapa do agronegócio brasileiro, com operações de exportação de grãos e importação de fertilizantes. A expectativa é que, com a conclusão da ferrovia EF-118, que conectará o porto a Minas Gerais e ao Espírito Santo, o volume de cargas aumente em pelo menos 20 milhões de toneladas por ano. A ferrovia, cuja licitação está prevista para agosto, deve impulsionar ainda mais o crescimento do porto, especialmente no transporte de cargas de alto volume, como grãos, minério e produtos siderúrgicos.
Entre os projetos em estudo está a produção de briquetes de ferro (HBI), uma tecnologia que reduz as emissões de carbono na siderurgia. Com investimento estimado em US$ 1 bilhão, o projeto está em fase avançada de desenvolvimento e pode transformar o Porto do Açu em um polo de produção de ferro de baixo carbono.
Com uma área total de 130 km², dos quais 44 km² ainda estão disponíveis para desenvolvimento, o Porto do Açu tem espaço para continuar crescendo. A estratégia de ocupação combina a expansão de negócios tradicionais com iniciativas inovadoras, como o hub de hidrogênio e projetos de descarbonização.
O Porto do Açu não é apenas um porto, mas um ecossistema que impulsiona a competitividade do Brasil em setores estratégicos, como óleo e gás, mineração, agronegócio e energia limpa. Com investimentos bilionários e uma visão de futuro alinhada às macrotendências globais, o porto consolida-se como um ativo fundamental para o desenvolvimento econômico e sustentável do país.