Vida bem vivida, performance garantida. O estilo de Marcelo “Lelo” Apovian

Autor do "Muito Acima da Média", que figurou entre os mais vendidos da Amazon, o executivo traduz sua experiência no esporte e no mundo corporativo em uma filosofia prática, que ressignifica a ideia de sucesso

Paulo Pandjiarjian
Compartilhe:

Imagens: Divulgação

Marcelo Apovian, ex-atleta olímpico e maratonista, defende o equilíbrio entre carreira e vida pessoal como um estilo de vida

Marcelo Apovian, ex-atleta olímpico e maratonista, defende o equilíbrio entre carreira e vida pessoal como um estilo de vida

A saúde mental deixou de ser tabu e passou a figurar como prioridade nas empresas. Ou, pelo menos, no discurso. Na prática, ainda há um abismo entre o que se prega e o que se vive. Para Marcelo “Lelo” Apovian — ex-atleta olímpico, maratonista, ex-headhunter e hoje uma das principais vozes sobre alta performance no Brasil —, o tema só sairá do campo da tendência quando se tornar, de fato, um estilo de vida.

E ele fala com propriedade. Ao longo da carreira, já conduziu mais de 5 mil entrevistas, participou da contratação de mais de 300 executivos e coleciona cerca de 1.500 reuniões com líderes de alto escalão. Sua conclusão é direta: não há performance sustentável sem clareza, método e constância. “As pessoas querem tudo, sem mudar nada”, diz.

A recente decisão de Tite, técnico da seleção brasileira na última Copa do Mundo, de recusar o convite para retornar ao Corinthians, alegando esgotamento emocional e necessidade de descanso, escancarou o que muitos fingem não ver: nem mesmo os líderes mais resilientes estão imunes à pressão.

Na Faria Lima, bastam dois cafés e um scroll rápido no LinkedIn para encontrar um exército de profissionais intoxicados pelo excesso. Estima-se que 9 em cada 10 estejam mentalmente exaustos. Mas parar? Quase nenhum consegue — seja por medo, por pressão ou simplesmente por não saber como.

É nesse cenário que Lelo propõe um novo olhar: equilíbrio não como privilégio ou modismo, mas como prática cotidiana. “Não adianta palestra motivacional se a rotina não muda. O que sustenta o profissional é a vida que ele leva quando ninguém está olhando.”

Autor do best-seller Muito Acima da Média, que figurou entre os mais vendidos da Amazon, PublishNews e Veja, Lelo traduz sua experiência no esporte e no mundo corporativo em uma filosofia prática, que ressignifica a ideia de sucesso. “No esporte, sempre me perguntava o que levava alguém ao pódio. Como headhunter, fazia a mesma pergunta sobre os executivos de destaque. A resposta está nas escolhas diárias. Nada glamouroso. Tudo disciplinado.”

Segundo ele, tanto nas pistas quanto nas salas de reunião, o topo é lugar de quem cultiva hábitos consistentes. E é isso que ele ensina em palestras e treinamentos por todo o país.

MESA + Família: a fórmula do equilíbrio

De sua vivência nasceu o conceito MESA + Família, uma sigla que resume os cinco pilares de uma vida equilibrada:

  • Mindfulness
  • Esporte
  • Sono
  • Alimentação
  • Convivência familiar de qualidade

“Se esses elementos estiverem minimamente em harmonia, o profissional se torna mais produtivo, menos ansioso, toma melhores decisões e se relaciona melhor”, afirma.

Mas o cenário está longe do ideal. Em suas palestras, Lelo costuma fazer uma pergunta simples para plateias de até duas mil pessoas: “Quem aqui mantém bons hábitos em todas essas áreas?” O resultado é assustador — menos de 10% levanta a mão.

Números que revelam um colapso silencioso

Para entender melhor os hábitos de quem o cerca, Lelo conduziu uma pesquisa informal com 163 amigos e colegas de profissão. Os resultados, ainda que não científicos, escancaram uma dura realidade:

  • 81% trabalham mais de 9 horas por dia
  • 29% não praticam atividade física com regularidade
  • 29% consomem ultraprocessados quase diariamente
  • 70% não meditam
  • 20% dormem menos de 6 horas por noite
  • 73% acreditam que a rotina de trabalho prejudica sua saúde mental
  • 60% não sabem se suas empresas realmente se importam com o tema

“Estamos criando profissionais que se cobram como atletas, se alimentam como se estivessem num posto de gasolina e dormem como se estivessem de plantão. Isso é insustentável”, dispara.

Com olhar clínico treinado por anos de recrutamento executivo, Lelo destaca um erro comum no mundo corporativo: selecionar talentos pelo diploma e demiti-los por falta de equilíbrio emocional. “O ponto cego não está na formação técnica, mas na gestão de si mesmo. Autoconhecimento, constância e capacidade de adaptação fazem toda a diferença a longo prazo.”

Hoje, conciliando maratonas com a missão de impactar organizações por meio de palestras, workshops e mentorias, Lelo percorre empresas dos mais variados setores com uma proposta clara: resgatar o essencial. Seu foco está em três eixos — performance, liderança e inovação com foco no ser humano.

Para ele, liderar em tempos complexos não é sobre saber tudo, mas sobre tomar decisões com lucidez. “E a lucidez vem do descanso, da presença, da escuta. Não da pressa.”

Sua abordagem mistura neurociência, prática esportiva e conversas profundas. “Às vezes, a empresa acha que tem um problema de resultado. Mas o que falta é confiança, clareza de propósito ou comunicação eficiente.”

O futuro é feito de conversas

Mais do que ferramentas e métricas, Lelo acredita que o futuro das empresas verdadeiramente humanas será construído por diálogos sinceros. “É preciso tirar o crachá e olhar as pessoas. Um líder que faz isso gera engajamento genuíno e resultados mais consistentes.”

Ao final da conversa com a BRAZIL ECONOMY, ele retoma a metáfora que norteia seu pensamento:

“O pódio não é acidente. Ninguém chega lá por sorte. Chega quem faz as melhores escolhas — todos os dias. A performance não vem do talento bruto. Ela nasce de uma vida bem cuidada.”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

ASSINE NOSSA NEWSLETTER E
FIQUE POR DENTRO DAS PRINCIPAIS NOTÍCIAS DO MERCADO

    Quer receber notícias pelo Whatsapp ou Telegram? Clique nos ícones e participe de nossas comunidades.