Depois de completar 18 anos, as inseguranças vão ficando para trás, as responsabilidades aumentam e surgem os primeiros sinais da maturidade. É exatamente esse o processo pelo qual passa a Fictor, que tem avançado em suas três frentes de atuação: alimentos, infraestrutura e serviços financeiros. Fundada em 2007 e com 4.000 funcionários atualmente, os resultados dos últimos anos são dignos de gente grande no mercado brasileiro.
Foram R$ 2 bilhões em 2023, R$ 3,5 bilhões em 2024 e uma projeção de alcançar R$ 5 bilhões em 2025. Com DNA comprador, a empresa vai investir R$ 1 bilhão neste ano — e possivelmente até o próximo, dependendo do ritmo de execução de seu planejamento. No pipeline, está prevista a aquisição de três frigoríficos a cada quatro meses até dezembro. E pode chegar a 15 deles no total até 2026.
“Estamos há um ano preparando essas aquisições e agora vamos entrar numa fase de fechamento de negócios, derrubando as pendências”, afirmou com exclusividade ao BRAZIL ECONOMY o fundador e CEO da Fictor, Rafael Gois, ao ressaltar que as outras divisões da companhia também receberão aportes para crescer.
Nas demais frentes, os investimentos visam à internacionalização. A companhia parte para a Europa, tendo Portugal como porta de entrada, com sua vertente de infraestrutura. Por lá, negocia com parceiros para atuar no setor de geração de energia limpa, área em que já atua no Brasil.
“O Brasil é um celeiro para desenvolver essa indústria, e temos essa mesma tese para Portugal, que pode ser uma base de apoio para projetos na Europa”, disse Gois, que está em conversas com uma grande construtora portuguesa para fechar um acordo. “Ao nos associarmos com um player reconhecido, ganhamos força e legitimidade para iniciar e desenvolver um negócio por lá.”
Já nos Estados Unidos, a Fictor desembarcou com sua divisão financeira. Um escritório em Miami vai desenvolver operações de empréstimo consignado para o setor privado.
A Fictor já possui uma relação com os americanos por meio da parceria com a incorporadora e gestora imobiliária internacional Greystar, que possui US$ 78 bilhões em ativos sob gestão.
Essa parceria, no entanto, é voltada ao mercado brasileiro. Com a Greystar, a Fictor atua no mercado de multifamily, mapeando oportunidades. Hoje, há dois prédios em construção, e outros três estão em fase avançada de negociação. A gestora Brio também participa da empreitada. No total, o fundo possui R$ 250 milhões para o desenvolvimento de imóveis nesse segmento.
“É um exemplo de como atuamos. Onde não temos tanto conhecimento, firmamos parcerias, joint ventures e tocamos a operação. Assim também fazemos no setor de energia”, destacou o CEO da Fictor.
DE COADJUVANTE A PROTAGONISTA
Com números expressivos e um plano de desenvolvimento arrojado, a Fictor tem se colocado mais na vitrine econômica. Deixando de lado seu perfil mais discreto, de movimentos nos bastidores, passou a se posicionar como protagonista no palco dos negócios.
Uma das iniciativas para ganhar visibilidade e reconhecimento é o patrocínio à Sociedade Esportiva Palmeiras, em vigor desde março, com a marca estampada na camisa do clube alviverde, no uniforme de aquecimento e nas categorias de base. O valor chega a R$ 30 milhões.
“A escolha pelo futebol foi resultado de uma pesquisa, que apontou onde nossa marca teria mais aderência. A modalidade é um fenômeno mundial e conseguimos alcançar outros países. E o clube se encaixa com nossos valores”, afirmou o executivo. O Palmeiras disputará a Copa do Mundo de Clubes nos Estados Unidos, de 15 de junho a 13 de julho.
A Fictor também lançou neste ano sua primeira campanha publicitária em mídias OOH, TV por assinatura, cinema e outros canais estratégicos. O conceito é “Todo trabalho tem um pouco de Fictor”, mensagem que busca mostrar o impacto do ecossistema da companhia em diferentes setores do Brasil.
“Na distribuição de energia que ilumina as casas, no cafezinho, nos pagamentos do dia a dia… Estamos presentes em diversos momentos da vida das pessoas. É isso que queremos mostrar”, disse Gois.
COMO A FICTOR CRESCEU TANTO?
Não foi de um dia para o outro que a Fictor alcançou seu atual patamar, projetando receita de R$ 5 bilhões. Mas o crescimento mais acentuado ocorreu nos últimos cinco anos.
A empresa atuava inicialmente no agronegócio, com comercialização de grãos (trading). A partir de 2018, com a valorização das commodities, ganhou mais fôlego. “Entramos num ciclo de geração de caixa e reinvestimento. Foi contínuo. E começamos a fazer outros investimentos para diversificar o negócio”, explicou Gois, que ingressou no setor de energia e, posteriormente, no mercado financeiro “para otimizar melhor os nossos recursos”.
O CEO classifica 2022 como “ano mágico” para a empresa, período em que as commodities voltaram a se valorizar e muitos frigoríficos enfrentaram dificuldades. “Nos especializamos em resolver problemas. É o nosso DNA.”
Capitalizada, a Fictor comprou algumas dessas empresas por valores até 80% menores do que antes da pandemia. “Assim conseguimos transformar uma simples comercializadora de grãos numa indústria alimentícia.”
É esse ramo de atividade que coloca a Fictor em evidência, principalmente a partir do “IPO reverso” realizado no ano passado, quando adquiriu, junto com a Aqwa Capital, 76% das ações da Atom Empreendimentos e Participações (Atompar), que era listada na bolsa. A aquisição foi aprovada pelos órgãos reguladores, e a denominação passou a ser Fictor Alimentos, com o ticker FICT3, que estreou na B3 em dezembro.
Dentro da divisão de alimentos, a Fictor possui as marcas Dr. Foods, Fredini e Vensa, além da distribuidora de grãos. Em infraestrutura, conta com a Fictor Real State e a Fictor Energia. Já em serviços financeiros, abriga a Fictor Asset e a FictorPay.
“Temos nossos próprios fundos de investimento, nossa gestora, securitizadora e instituição financeira. Assim conseguimos trabalhar e trazer investimento inteligente para os próprios negócios”, destacou Gois.
Assim, a Fictor alcança sua maturidade, com uma vida inteira pela frente.