Pense em uma empresa que nunca deu prejuízo em mais de meio século de atividades. Essa é uma das importantes marcas atingidas pela Panvel, maior rede de farmácias do Sul do Brasil e a quinta maior em faturamento, segundo a Abrafarma. A receita para esse sucesso? Ninguém melhor para explicá-la do que Julio Mottin Neto, CEO do Grupo Panvel, filho do fundador da rede, Julio Mottin, e que tem a mesma idade da empresa, onde trabalha desde os 15 anos.
“O segredo é muita disciplina, tomadas de decisões corretas, acerto no ritmo de crescimento e, no final do dia, atender bem o cliente”, disse Mottin Neto com exclusividade ao BRAZIL ECONOMY.
Em 2023, a companhia registrou faturamento no varejo de R$ 4,35 bilhões (lucro de R$ 109,4 milhões), com mais de R$ 1 bilhão em todos os trimestres do período, um feito inédito em 52 anos de história. Mesmo no ano passado, com todas as dificuldades geradas pelas enchentes que devastaram o Rio Grande do Sul, o grupo superará os bons resultados do período anterior. A divulgação oficial ocorrerá apenas em março, mas a expectativa é de um crescimento superior a 15% no faturamento.

O desempenho foi conquistado em um “2024 desafiador”, nas palavras do executivo. O setor logístico foi um dos mais afetados: foram 40 dias sem acesso ao Centro de Distribuição de Eldorado do Sul (RS), nenhuma unidade inaugurada em maio e atenção total aos colaboradores e comunidades afetadas.
Apesar dos obstáculos naquele momento, no geral, o Grupo Panvel conseguiu manter o ritmo de expansão. De 2019 a 2024, foram inauguradas mais de 200 farmácias nos quatro estados em que atua: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo. Foram abertas praticamente três por mês. Das pouco mais de 400 unidades há seis anos, hoje são mais de 600. Para 2025, “apesar de uma certa volatilidade na macroeconomia”, na avaliação de Mottin Neto, o ritmo de abertura de lojas deve continuar o mesmo.
Sempre com foco nos quatro estados atuais, 65,8% das unidades estão concentradas no território gaúcho, 17,5% no catarinense, 14,7% no paranaense e 2% no paulista. Apesar do baixo percentual no mercado de São Paulo, os resultados das 12 farmácias têm agradado à companhia.
Enquanto a média de vendas por mês é de R$ 700 mil por unidade, as lojas paulistas faturam o dobro. A previsão é inaugurar quatro novas unidades na capital neste ano, uma delas no icônico Conjunto Nacional, na Avenida Paulista.
“Estamos contentes com nosso desempenho em São Paulo, onde também temos uma participação de vendas no digital muito significativa, que chega a 50% (enquanto a média da rede é de 22%)”, disse o CEO. “Os dados mostram que o digital potencializa cada vez mais a loja física. Não há conflito de canais, pelo contrário, agrega”, frisou.
Inteligência Artificial aliada da tradição
A Inteligência Artificial, em especial da IA generativa, que tem revolucionado a maneira de fazer negócios mundo afora, é usada pela Panvel para aperfeiçoar o que ela faz de melhor há mais de cinco décadas: atender bem. A companhia criou a Sofia (Serviço de Orientação Farmacêutica com Inteligência Artificial) para auxiliar os colaboradores no atendimento aos consumidores. Ela responde dúvidas e orienta os funcionários sobre as rotinas burocráticas da loja e também em relação à interação medicamentosa, dosagem, composição e outras informações.
“Acreditamos que esses modelos de guardrails, bem treinados e especializados em determinados assuntos, são IAs efetivas para nosso negócio”, disse Mottin Neto, ao descartar o uso de sistemas mais genéricos, como o ChatGPT. “Nossa Sofia é melhor que o ChatGPT.”
Farmácia parceira do médico
Julio Mottin Neto voltou recentemente dos Estados Unidos, onde fez mais uma imersão de estudos sobre o mercado global de farmácias. Viu mais erros do que acertos no modelo americano.
“Presenciei um setor farma não tão pujante”, afirmou. Por lá, observou lojas grandes demais, gôndolas muito altas, problemas com furtos, poucos atendentes e um mix de produtos “não tão glamouroso” à disposição dos clientes. “Eles abriram mão do segmento de beleza”, avaliou.
Outro ponto observado foi o segmento de serviços clínicos – testes, exames e vacinas em farmácias. “É um custo alto para um retorno pequeno”, analisou Mottin Neto. A entrada das grandes redes de farmácias no atendimento laboratorial clínico começou para acomodar a alta demanda na pandemia, mas foi formalizada com a RDC n° 786, de 5 de maio de 2023, quando a Anvisa regulamentou a prestação destes serviços.
Na Panvel, durante foi justamente a pandemia, que impulsinou essa linha de negócios, que chegou a responder por 5% das receitas. Mas era uma tendência momentânea. Hoje representa 1%. Os serviços ainda estão disponíveis, geram valor agregado e fidelizam os clientes, que acabam frequentando a farmácia mais vezes do que o consumidor padrão.
Por isso, a aposta da rede em serviços clínicos está vinculada ao seu ecossistema interno. Pelo aplicativo Panvel Clinic, o paciente pode se comunicar e integrar informações com seu médico.
“Nossa visão é de farmácia parceira do médico, ser aliados deles no cuidado com os pacientes”, afirmou o executivo. “Nosso negócio não é farmácia. Nosso negócio é cuidar das pessoas.”
É assim desde 1973. E sempre gerando lucro.