“Eu dedico parte do meu dia vendo TikTok”, afirma o presidente da L’Oréal Brasil

Marcelo Zimet revela por que passa horas na rede social chinesa, famosa pelas dancinhas, para conectar a empresa aos hábitos dos consumidores brasileiros

Fernanda Bompan
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Imagens: Divulgação

Marcelo Zimet, presidente da L'Oréal Brasil, explica as mudanças da estratégia de marketing da empresa

Marcelo Zimet, presidente da L'Oréal Brasil, explica as mudanças da estratégia de marketing da empresa

Marcelo Zimet, presidente da L’Oréal Brasil, tem um hábito pouco convencional para quem comanda uma das maiores operações do grupo francês no mundo: ele dedica parte do seu dia navegando no TikTok. Mas não se trata de distração ou passatempo. Para o executivo, a plataforma, assim como outras redes sociais, é um verdadeiro termômetro cultural, onde surgem tendências, gírias, comportamentos e, principalmente, desejos de consumo.

“Eu dedico parte do meu tempo por dia vendo TikTok. Antes, ficava entre WhatsApp e e-mails. Hoje, reservo esse tempo para acompanhar TikTok, Instagram e outras ferramentas sociais para entender quais são as conversas em torno das marcas da L’Oréal Brasil”, afirmou durante sua participação no MMA Impact 2025, realizado nesta quarta-feira (14), em São Paulo.

Nos últimos dois anos, a L’Oréal Brasil vem intensificando sua presença nas redes com uma estratégia voltada para influenciadores, dentro do projeto chamado Creators Economy. Um dos casos mais bem-sucedidos, segundo Zimet, foi o lançamento do hidratante Garnier Vitamina C Toque Seco.

“A gente fez uma entrega de produtos num volume nunca feito antes, nem por marcas independentes. Os influenciadores não tinham briefing. Imagina a L’Oréal não dar briefing para um influenciador? A gente deixou totalmente livre. E o que a gente percebeu é que  ficamos praticamente sem produto nas prateleiras”, contou o executivo.

Na visão dele, essa liberdade criativa gera benefícios para ambos os lados. “Quando você permite que os criadores façam o conteúdo do jeito deles, sem limitar ou engessar, o resultado é mais autêntico e oferece muitos insights para futuras campanhas”, disse Zimet. “Temos vários creators que hoje têm até crachá da L’Oréal Brasil. Eles circulam pela empresa e estão sempre opinando um pouquinho sobre a nossa estratégia.””

A escuta ativa não para por aí. Alan Spector, Chief Digital & Marketing Officer (CDMO) da L’Oréal Brasil , que também participou do evento, destacou uma característica curiosa do consumidor brasileiro: a tendência de dar apelidos aos produtos. “Por exemplo, se você chegar em uma farmácia perguntando pelo hidratante Garnier Toque Seco, talvez a atendente não saiba. Mas, se perguntar pelo ‘creme amarelinho do TikTok’, ela vai reconhecer. Então, é toda uma mudança de como você trabalha com as agências, de como você dá nome para os produtos, como você faz campanhas”, disse.

Um dos exemplos de sucesso da estratégia de marketing da L'Oréal Brasil foi o lançamento de hidratante da Garnier
Um dos exemplos de sucesso da estratégia de marketing da L’Oréal Brasil foi o lançamento de hidratante da Garnier

Segundo Zimet, a guinada digital da companhia tem papel central no bom momento da operação brasileira.  “A L’Oréal nunca teve uma performance nos últimos 65 anos como a dos últimos 5 anos. Grande parte disso se deve a quase ou até mais de 90% ao digital. E grande parte disso, por sua vez, é devido ao Creators Economy. Então, não tem como separar o resultado da companhia com a forma como a gente está fazendo nosso marketing local. Ao mesmo tempo, ano após ano, nossos lançamentos têm recorde de vendas”, afirmou o presidente da marca francesa.

Brasilidade como estratégia de marketing da L’Oréal

Além da estratégia com influenciadores, outro pilar essencial para o crescimento da L’Oréal Brasil tem sido a capacidade de adaptar o portfólio às necessidades reais dos consumidores locais. “Se você me perguntar hoje por que a L’Oréal tem seis anos consecutivos de duplo dígito, a estratégia chama a brasilidade”, afirmou o presidente da L’Oréal Brasil . 

Segundo ele, o País deixou de ser apenas um consumidor de tendências globais para se tornar um exportador de criatividade.  “Mais do que consumir, o Brasil cria, influencia e exporta tendências”, destacou. Entender essa potência cultural e traduzi-la em produtos, campanhas e linguagem é, na visão do executivo, tanto uma vantagem competitiva quanto uma responsabilidade estratégica para a marca.

A aposta na brasilidade ganhou força com a criação de um polo de inovação em São Paulo, que conecta cientistas, criadores e consumidores para desenvolver produtos alinhados às particularidades do mercado local. Segundo Zimet, o laboratório tem um papel decisivo na construção de fórmulas para cabelos cacheados, crespos, e peles com fototipos diversos — características frequentemente negligenciadas pelas matrizes europeias ou norte-americanas.

“Temos mais de 200 milhões de pessoas com biotipos diferentes, clima tropical, variações de umidade e exposição solar. É um país complexo e, por isso mesmo, estratégico”, afirmou Zimet. “Quando acertamos aqui, estamos mais preparados para outros mercados multiculturais.”

A experiência brasileira com os chamados “testes de estresse” — produtos que resistem a calor, suor e umidade — tem ajudado a L’Oréal a atender consumidores também na África e em parte da Ásia. “Somos laboratório vivo para o mundo”, reforçou.

Na prática, a estratégia de brasilidade se traduz em campanhas mais inclusivas, influenciadoras locais e uma estética visual conectada à cultura nacional. Marcas como Elseve, Garnier e L’Oréal Paris têm incorporado não apenas rostos brasileiros, mas também narrativas que valorizam pluralidade, ancestralidade e pertencimento.

“É fundamental que o consumidor se veja nas nossas campanhas. Mas mais do que isso: que se sinta ouvido e respeitado”, disse Zimet. Ele lembra que a escolha de embaixadores brasileiros com perfis diversos — do mainstream à periferia, do digital ao comunitário — é parte de uma estratégia que vai além do marketing. “Queremos dialogar com todas as brasileiras e brasileiros, com autenticidade.”

Um dos destaques é a atuação da L’Oréal com marcas adquiridas no Brasil, como a Niely, que já nasceu conectada à estética da mulher negra. “Nossa responsabilidade é potencializar essas histórias, não apagá-las”, afirmou o executivo.

Para ele, a brasilidade não pode ser só um slogan. “Queremos que o Brasil seja visto como o que ele é: um celeiro de beleza, potência criativa e fonte de inovação”, disse Zimet.

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