Fã de rock e guitarrista na adolescência, Marcelo Lombardo resolveu se aventurar pelas pick-ups e tornou-se DJ. A mudança ocorreu por motivo simples: era difícil reunir todos os amigos para os ensaios e, quando conseguiam, a performance não era das melhores. Ele então partiu para a criação de músicas em CDJ (Compact Disc Jockey), leitor de áudio digital que reproduz e mistura sons armazenados em CDs, DVDs ou pen-drives. Afinal, não é preciso marcar horário com o equipamento — ele faz exatamente o que está planejado. É uma orquestra em uma mídia.
É mais ou menos isso que Lombardo vende como CEO da Omie, plataforma de gestão (ERP) na nuvem, que gera organização a pequenas e médias empresas. Na companhia, porém, as ambições são bem maiores do que a atuação como DJ, em que teve shows em Porto Alegre (RS), Florianópolis (SC) e Brasília (DF) realizados neste ano. Essa atividade artística é hobby, apesar de os contratantes não se importarem com isso. A performance profissional, de fato, está no comando da Omie, na qual o executivo projeta atingir 1 milhão de clientes e receita de US$ 1 bilhão em 2030. “É uma meta ambiciosa, mas temos condições, produto e mercado para isso”, disse Lombardo ao BRAZIL ECONOMY.
No ano passado, a empresa faturou mais de R$ 500 milhões, com 24 mil escritórios de contabilidade parceiros, 130 unidades franqueadas e 170 mil clientes na carteira, que emitem R$ 31 bilhões por mês em notas fiscais. Neste ano, a expectativa é chegar próximo a R$ 1 bilhão de receita.
Sabe aquela simplicidade da troca da banda pelo CDJ? É assim também com o software da Omie. E essa é uma das apostas do CEO para ganhar mercado, principalmente entre empresas que faturam de R$ 200 mil a R$ 200 milhões.
Enquanto muito se fala em personalização de soluções, a Omie oferece produtos de prateleira que atendem setores como varejo, restaurantes, transportadoras, consultórios e clínicas médicas, entre outros players de comércio, serviços e indústria.
Segundo Lombardo, as ferramentas da Omie abrangem as funcionalidades necessárias para uma gestão eficiente: emissão de notas fiscais eletrônicas, controle de estoque, gestão financeira e integração com marketplaces. “Se alguém está fazendo algo diferente do que o nosso software faz, as chances são de 99% de estar executando algo errado”, afirmou o executivo, que fundou a companhia em 2013 após vender a NewAge (também de ERP) para um grupo americano.

“Muita personalização pode trilhar um caminho perigosíssimo, com mais burocracia, modificação de processos adequados e operações antigas. É uma volta ao passado”, discorreu Lombardo, que levantou R$ 690 milhões em três rodadas de investimentos — a última em 2021 — de fundos como Softbank, Tencent, Riverwood, Astella e Dynamo.
Simplificar os processos é o caminho escolhido pela Omie. Como uma boa música de poucas notas, mas com melodia agradável e harmonia bem estruturada. “O mesmo produto base para todo mundo aumenta a confiabilidade, porque é fácil de entender e executar. E uma certa elegância de design faz com que as features mais avançadas não atrapalhem o usuário menos sofisticado”, disse Lombardo. “Por isso, também, temos um índice de satisfação com suporte acima de 98%.”
VIAS DE CRESCIMENTO
Além de — obviamente — confiar em seu produto e na sua equipe de vendas (1.000 vendedores entre os 1.600 colaboradores), o executivo aponta as potenciais vias de crescimento para atingir as metas audaciosas nos próximos cinco anos. O foco da Omie está em 5 milhões de empresas — entre os 22 milhões de CNPJs do Brasil.
De acordo com Lombardo, a maioria de seus potenciais clientes, ao migrarem para a Omie, sai de planilhas de Excel ou mesmo de controles feitos na ponta do lápis. “Existem muitas empresas com processos de gestão crus. Inclusive lojas de shopping, que ainda fecham as contas no extrato da maquininha (de cartão)”, frisou. “Um dos clientes recentes fazia tudo na planilha do computador, com 700 funcionários. Temos um mercado imenso à disposição.”
Não à toa, o Brasil é o 62.º colocado entre 67 países no Ranking de Competitividade Mundial do IMD (International Institute for Management Development). “E não é porque as pessoas não estão trabalhando. É porque estão trabalhando de maneira errada. Em vez de dar uma parafusadeira elétrica nas mãos do funcionário, dão uma chave de fenda.”
Outro fator que contribui para o otimismo do CEO da Omie é o contador como aliado de seu software. São 24 mil escritórios de contabilidade parceiros que indicam a solução às empresas que atendem.
“O contador sofre dos mesmos males do empresário. A reclamação número um dos contadores é: ‘meu cliente é bagunçado, não me envia informação e cuida mal do negócio dele’. E sobra tudo para esses profissionais”, observou Lombardo, que também tem na companhia um braço de crédito financeiro e outro educacional, com plataforma de treinamentos.
O executivo traduz em números a parceria com os contadores: “Conseguimos, com nossas soluções, economizar 80% do tempo do contador para atender um cliente e fechar a contabilidade de uma empresa. Significa que os escritórios atendem cinco vezes mais clientes com a mesma equipe.”
E ainda há a Reforma Tributária em andamento, que se arrastará pelos próximos anos, justamente durante o período em que a Omie quer ter o maior avanço de sua história. Ela é mais um acorde na música que a companhia está desenvolvendo.
As ferramentas da Omie estão sendo atualizadas rotineiramente para atender às exigências das novas regras, para os diferentes setores. “A Reforma Tributária é 10 vezes mais complexa do que as normas atuais. No período de transição, que vai até 2033, haverá apuração de impostos em dois modelos. A dificuldade das empresas vai se acentuar”, disse Lombardo.
Dificuldade para uns, que a Omie pode facilitar. Como tocar com um CDJ em vez de uma banda inteira.