Brasil, EUA e tempos incertos: a visão de quem administra grandes fortunas

Entre investimentos atrelados ao CDI, a volta de Trump e o desafio de proteger patrimônio, Bruno Corano compartilha sua trajetória e expectativas

Fernanda Bompan
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Bruno Corano, CEO da Corano Capital, a maior gestora privada brasileira nos EUA

Bruno Corano, CEO da Corano Capital, a maior gestora privada brasileira nos EUA

À frente da gestão de fortunas de famílias brasileiras e americanas, o economista Bruno Corano que hoje atua nos Estados Unidos construiu sua trajetória com um foco na preservação do patrimônio com responsabilidade e prudência, mesmo em cenários de grande instabilidade. 

Paulistano, Corano é CEO da Corano Capital, a maior gestora privada brasileira nos EUA, com uma carteira que chega a US$ 2,2 bilhões. Sediada em Nova York, a casa conta com cerca de 90% dos clientes originários do Brasil e 10% americanos — estes últimos todos gestores profissionais de mercado. “Sou como um médico de médicos. Quem me contrata já entende profundamente o mercado financeiro. Isso exige de mim um nível de excelência e transparência ainda maior”, afirmou ao BRAZIL ECONOMY.

Entre os clientes que ele pode citar publicamente estão nomes como Cristiano Cochrane, filho da apresentadora Marília Gabriela, e o ex-empresário do lutador Anderson Silva, Herbert Mota. Além deles, atende a advisors e empresários brasileiros que fizeram fortuna em grandes operações de fusões e aquisições. “Muitos dos meus clientes são extremamente discretos, e pelo perfil da legislação americana, não posso abrir nomes, mas são pessoas que transformaram seu trabalho em ativos relevantes ao longo da vida”, explicou.

Corano começou sua jornada no universo financeiro por volta dos 15 anos e de forma inusitada. Enquanto trabalhava na cantina de um colégio em São Paulo, cujo auditório era usado pelo Sindicato das Escolas Particulares de Ensino, teve a oportunidade de conhecer o presidente da entidade, José Aurélio de Camargo, um grande investidor na época. Após vários encontros entre eles, veio o convite. A partir daí, o economista tomou gosto pelo ramo, chegando a se formar em Economia na Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, além de ter feito cursos em Harvard, Columbia e no MIT. 

O executivo se especializou em Wealth Management e, depois de anos de aprendizado com Camargo, ele criou sua própria gestora voltada para este segmento nos Estados Unidos e lá está há mais de 15 anos. 

Uma curiosidade: Corano foi piloto de motovelocidade por 17 anos e se tornou um dos mais importantes pilotos da história do esporte no Brasil. Mas, nas palavras deles, essa experiência foi apenas um “hobby”. Ele é fundador também de projetos como o campeonato SuperBike Brasil, a categoria Honda Jr. Cup e a Escola de Pilotagem MotoSchool no Brasil.

Oportunidades para  Wealth Management

Apesar de viver há anos nos EUA, o executivo mantém investimentos no Brasil, principalmente para atender famílias que preferem não dolarizar integralmente seus recursos. “Hoje, quase tudo que mantemos em real está atrelado ao CDI. Neste momento, correr risco cambial ou de mercado no Brasil é, na minha visão, imprudente. Prefiro atuar como um médico da saúde financeira, focando em proteger do que em tentar multiplicar a qualquer custo”, afirmou. 

Mesmo assim, ele reconhece que há oportunidades específicas surgindo no Brasil. “Setores como energia renovável, infraestrutura e saúde privada ainda oferecem potencial, mas requerem estrutura jurídica e fiscal muito robusta para mitigar riscos.”

Sua relação emocional com o país permanece forte. “Eu amo o Brasil. Se pudesse, moraria no País. A comida, as relações humanas, o calor social são incomparáveis. Mas o sistema está muito deteriorado. A corrupção, a violência e a instabilidade institucional me afastaram profissionalmente”, lamentou. 

Com uma visão crítica, ele acredita que o problema é estrutural e que, mesmo com mudanças de governo, o sistema “se reinventa”, como retratado no filme Tropa de Elite 2. “O Brasil poderia ser um país espetacular, mas é travado por interesses que se perpetuam no tempo.”

Sobre o cenário americano, a avaliação é igualmente sóbria. Ele evita rótulos políticos e aponta que, embora os EUA ofereçam um ambiente de negócios mais estável, também enfrentam desafios internos. “Não existe lugar perfeito. A sociedade americana está dividida, cansada, mas ciente de que mudanças profundas são improváveis no curto prazo”, analisou.

A questão migratória, pauta sensível no governo Trump, também é tratada com realismo. “Para quem está legalizado, como eu, não vejo mudanças práticas. Renovei meu green card sem qualquer problema. Mas quem vive em situação irregular sente, sim, medo — basta um pequeno incidente para ser rastreado e exposto ao risco de deportação”, relatou. 

Apesar das dificuldades que enxerga nos dois lados, o executivo mantém o otimismo, ainda que moderado. “Quem conseguir estruturar bem sua proteção patrimonial vai encontrar boas oportunidades tanto nos EUA quanto no Brasil. A chave é estar muito atento à gestão de riscos e não se iludir com soluções fáceis. Em tempos de volatilidade, quem sobrevive bem é quem entende que preservar é tão importante quanto crescer”, disse.

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