A conclusão é direta: o investimento em pessoas não acompanha o interesse em adotar novas tecnologias. A análise é de Rodolfo Eschenbach, presidente da Accenture para o Brasil e América Latina, sobre os dados revelados pela edição de 2025 da pesquisa Pulse of Change, à qual o Brazil Economy teve acesso com exclusividade.
“Testemunhamos um descompasso: 90% dos executivos dizem acreditar que suas empresas investirão mais em IA em escala neste ano, mas 54% deles sentem que suas organizações estão menos preparadas do que no ano passado”, afirmou o executivo.
“Embora a tecnologia seja a base de qualquer transformação, é o alinhamento de pessoas, processos e ferramentas que impulsiona a reinvenção”, avaliou Eschenbach, sobre o levantamento que traz à tona os sentimentos de despreparo relacionados à tecnologia, aos talentos e à ruptura geopolítica e econômica. Foram consultados 3.450 líderes C-level e 3.000 funcionários das maiores organizações do mundo, em 22 setores e 20 países.
A pesquisa alerta para o que talvez seja o maior desafio para as empresas: as mudanças nos talentos não estão sendo consideradas. A sondagem da Accenture revelou que as empresas gastam três vezes mais com IA do que com pessoas. Esse desequilíbrio contribui para a queda na capacitação e representa uma barreira para que a IA generativa seja dimensionada de acordo com todo o seu potencial.
O treinamento está ocorrendo, mas talvez não no nível certo ou sobre os tópicos certos. Enquanto mais de 90% das lideranças acreditam que as pessoas em suas organizações receberam o treinamento necessário para usar a IA de forma eficiente, apenas 70% dos funcionários concordam com esse sentimento. No Brasil, 82% das lideranças afirmam ter recebido o treinamento necessário, mas apenas 42% dos funcionários relatam isso.
De acordo com os funcionários que não estão usando ferramentas de IA generativa, os principais obstáculos para aproveitá-las são a “falta de recursos para suporte de treinamento” (25%) e a “dificuldade de integrá-las ao trabalho diário” (22%). Apenas 8% das lideranças globais acreditam que sua força de trabalho não tem o treinamento básico necessário para usar essa tecnologia, o que contrasta fortemente com um quarto dos funcionários que pensam o mesmo. No Brasil, esse número salta para 17%.
O trabalho será significativamente afetado: 82% dos funcionários acham que sua função será impactada, enquanto, no Brasil, 77% acreditam que serão afetados. Isso é apenas o começo, pois 67% dos líderes acreditam que a IA substituirá total ou significativamente as habilidades dos funcionários iniciantes nos próximos cinco anos, em comparação com 58% dos funcionários.
PREPARAÇÃO
Se 54% dos executivos em cargos elevados sentem que suas organizações estão menos preparadas em 2025 para a disrupção do que estavam em 2024, os colaboradores estão ainda mais céticos. São 64% que se mostram menos confiantes de que suas organizações estejam preparadas para responder às mudanças no ambiente de negócios neste ano.
Por outro lado, a expectativa de transformação é elevada, com 72% dos líderes C-level e 54% dos funcionários esperando um nível maior de mudanças em 2025. O cenário é parecido quando olhamos para o Brasil: 71% dos C-levels e 64% dos funcionários ainda esperam um nível acelerado de evolução para este ano no país – o recorte leva em consideração o universo de 100 executivos C-level e 87 funcionários de grandes empresas locais.
2024: O ANO DA IA GENERATIVA
De acordo com a pesquisa global, 2024 foi o ano da IA generativa, embora apenas 36% dos executivos relatem usar soluções de IA em escala, deixando de lado um valor significativo em toda a empresa.
Após 12 meses de rápida adoção, apenas 50% dos líderes afirmam estar totalmente preparados para a disrupção tecnológica, e apenas 13% relatam ter visto um valor significativo em nível empresarial.
Já em 2025, 86% dos líderes sentem-se preparados para aumentar seus investimentos em IA generativa, com projetos indo mais rápido do que o esperado. No Brasil, esse percentual chega a 90%.
Mas há desafios. Embora se espere que a utilização em escala aumente para 59% neste ano, tanto os líderes quanto os funcionários das empresas participantes ainda enfrentam barreiras para a implementação e adoção. A agenda estará centrada em temas como superação de desafios, aceleração da implementação e dimensionamento para criar valor em toda a empresa.
O que está impulsionando o aumento do investimento? Os três principais motivos citados pelos líderes são: capitalizar os avanços da tecnologia, manter a competitividade dos negócios e o aumento da confiança no gerenciamento dos riscos comerciais associados.
De fato, a experiência dos executivos C-level (global: 83% / Brasil: 89%) e dos funcionários (global: 70% / Brasil: 75%) com a IA generativa mudou positivamente a forma como eles pensam sobre a tecnologia e seu potencial de negócios no último ano.
Segundo a pesquisa, três em cada quatro funcionários afirmam estar usando atualmente ferramentas baseadas em IA generativa em seu trabalho, sendo que 46% as utilizam há mais de um ano. No Brasil, essa taxa de uso cai para 22%.
São 67% dos funcionários que dedicam tempo pessoal, ao menos uma vez por semana, para aprofundar seu entendimento sobre IA generativa e suas implicações. No Brasil, 71% dos funcionários têm investido tempo para aprender mais sobre a tecnologia.
E 57% dos líderes acham que o desenvolvimento da IA generativa em sua organização está indo mais rápido do que o esperado inicialmente. No Brasil, a diferença é pequena, com 55%.
Prova disso é o volume de demandas no trabalho, com mais de 2.000 projetos de IA generativa entregues aos clientes entre os executivos das empresas consultadas.
DESAFIOS NO PROGRESSO
A maioria dos desafios que continuam a impedir o progresso da IA generativa está relacionada à falta de prontidão de dados, redesenho de processos, percepção de valor potencial e, principalmente, à escassez de talento.
Quase um em cada três líderes (no Brasil, um em cada cinco) afirma que “limitações com dados ou infraestrutura tecnológica” são o principal obstáculo que impede sua organização de implementar e dimensionar a inteligência artificial generativa.
Em termos de adoção, apenas 32% dos funcionários afirmam que seu empregador fornece “acesso total e irrestrito” às ferramentas de IA generativa para uso de todos os colaboradores – contra 25% no Brasil.
Embora estejam otimistas em relação ao potencial – e os investimentos estejam aumentando –, apenas 35% dos funcionários acreditam compreender “em grande parte” o valor potencial da IA generativa, enquanto 54% dos líderes afirmam o mesmo. No Brasil, essas porcentagens são de 47% e 53%, respectivamente.
O TALENTO COMO MAIOR BARREIRA
Um em cada três líderes afirma que capitalizar os avanços tecnológicos é o principal motivo para aumentar o investimento em IA generativa, contra apenas 12% que consideram o aprimoramento das habilidades como o principal motivador.
Esse dado é corroborado pelo fato de que os orçamentos de IA generativa são três vezes mais aplicados em tecnologia do que em pessoas. Ainda assim, as habilidades de IA generativa e machine learning permanecem no topo: 49% consideram essas competências como uma das três mais importantes para a estratégia de aquisição de talentos de suas organizações.
OLHANDO PARA O FUTURO
Quase seis em cada dez líderes ao redor do mundo esperam que suas soluções de IA generativa sejam adotadas em escala em suas organizações em 2025 – um aumento de 23% em relação a 2024 (36%). Quase metade dos líderes C-level (47%) afirma que seu foco principal para os investimentos em IA generativa será a criação de novos produtos ou serviços baseados em IA, mas apenas 9% planejam reinventar processos desde a base.
As organizações que já estão obtendo valor em nível empresarial têm 4,5 vezes mais probabilidade de ter investido em arquitetura agêntica e seis vezes mais probabilidade de aumentar significativamente seus investimentos em IA generativa em 2025. Esses líderes estão saindo na frente – posicionando-se para aumentar sua vantagem – enquanto outros correm o risco de ficar ainda mais para trás.