O economista-chefe do banco BMG, Flávio Serrano, acredita que o ciclo de alta da taxa básica de juros, a Selic, deve ser encerrado já na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em junho. A expectativa é de uma elevação de 0,5 ponto porcentual, levando os juros básicos para 14,75% ao ano. Depois disso, o Banco Central deve manter a taxa por mais alguns meses, antes de iniciar um processo de cortes graduais ao final de 2025.
“É uma alta final. A atividade começa a desacelerar no segundo semestre, o que deve abrir espaço para alguma acomodação”, disse Serrano ao BRAZIL ECONOMY.
Apesar da previsão de estabilidade nos juros, o economista alerta para uma inflação ainda longe do centro da meta, de 3%, pelos próximos anos.
Serrano projeta que o IPCA, índice oficial da inflação, de abril fique entre 0,40% e 0,45%, com a inflação acumulada em 12 meses chegando a 5,7%. “É um número alto. A gente precisa de uma desaceleração mais firme para sair desse patamar”, avalia. Para ele, os serviços subjacentes e os bens industriais continuam pressionando o índice, mesmo com alguma melhora nos preços dos alimentos em casa.
Na sexta-feira passada (25/4), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou o IPCA-15 referente a abril. O índice, considerada uma prévia da inflação cheia, mostrou uma desaceleração na comparação com o mês imediatamente anterior, ao passar de 0,64% para 0,43%. Contudo, Serrano chama a atenção para a leitura na abertura do indicador.
“Houve aceleração de alimentação no domicílio. E acho que boa parte dos economistas esperavam uma desaceleração até forte agora para esse mês. Eu já estava esperando um número mais alto, de 1,11%, mas esperava alguma descompressão em relação ao mês passado, que foi 1,25. E acelerou para 1,29%. Até mesmo quem estava com uma projeção alta para inflação de alimentação no domicílio, veio ainda mais alto”, exemplificou o especialista.
Ele também cita o aumento nos preços de bens industriais, que subiu 0,57% e dos serviços subjacentes, que se refere a um núcleo d a inflação do segmento geral. Os serviços subjacentes vieram pressionados, com alta de 0,55%”, esclareceu.
Para o ano, o economista espera que a inflação termine em torno de 5,4%, e em 2026, finalize por volta de 4%.No caso da Selic, ele projeta uma queda de forma marginal no segundo semestre e encerre 2025 entre 14,25% e 14,50%.
Governo tenta estimular economia, mas pode atrapalhar o BC
Na avaliação do economista, o conjunto de medidas do governo para estimular a atividade e gerar renda acaba jogando contra o trabalho do Banco Central. “Você sobe os juros para frear a economia, e o governo injeta estímulo. Aí a atividade não desacelera no tempo necessário, e a inflação continua alta”, afirmou.
Serrano cita o impulso gerado por gastos com precatórios, expansão do crédito e um mercado de trabalho aquecido como fatores que mantêm a economia mais forte do que o ideal. “A economia precisa estar em equilíbrio. Nem muito quente, nem muito fria”, disse.
Apesar da pressão inflacionária, o Produto Interno Bruto deve crescer 2% em 2025, puxado principalmente pelo agronegócio. Serrano projeta uma expansão entre 7% e 8% no setor este ano, com alta de até 12% no primeiro trimestre.
No entanto, o ritmo de crescimento deve perder força nos próximos meses. “A demanda doméstica, que cresceu 5% no ano passado, agora sobe só 1,5%. A desaceleração está contratada”, afirmou.
Para encerrar as projeções dos principais indicadores macroeconômicos, Serrano prevê um dólar em R$ 5,60 ao final de 2025.
Riscos externos continuam no radar
Para Serrano, os maiores riscos ao cenário vêm de eventos inesperados, o chamado “imponderável”. Uma reprecificação global de ativos, surpresas fiscais ou choques externos podem desancorar ainda mais as expectativas de inflação. “A inflação está alta, tanto a corrente quanto a projetada. Qualquer nova pressão atrapalha ainda mais.”
Apesar disso, ele vê o cenário relativamente bem mapeado. “A dúvida não é o que vai acontecer, mas com que intensidade. A conjuntura está dada. Agora é ver como ela se desdobra”, concluiu.