Startup reduz a emissão de apólice de 15 dias para 5 minutos e reinventa seguro agrícola

Plataforma da Picsel, liderada por Vitor Ozaki, propõe o uso de algoritmos para uma precificação individualizada e integração ESG, com foco em seguradoras

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Imagens: Divulgação

Vitor Ozaki, CEO e cofundador da Picsel, atuou como diretor no Ministério da Agricultura e enxergou os desafios do setor

Vitor Ozaki, CEO e cofundador da Picsel, atuou como diretor no Ministério da Agricultura e enxergou os desafios do setor

Em um setor historicamente marcado pela morosidade e baixa penetração, especialmente no Centro-Oeste do Brasil, a startup Picsel quer mudar o jogo. Com uma tecnologia autoral desenvolvida ao longo de duas décadas de pesquisa científica, a plataforma promete revolucionar o seguro agrícola ao reduzir o tempo médio de emissão de apólices de 15 dias para apenas 5 minutos — uma jornada digital do início ao fim, que atende desde a cotação até a gestão de sinistros.

“Enquanto hoje o agricultor precisa aguardar semanas para obter uma apólice, na nossa plataforma esse processo pode ser concluído em minutos”, afirmou Vitor Ozaki, CEO e cofundador da Picsel, que atuou como diretor no Ministério da Agricultura entre 2015 e 2018. Segundo ele, o grande diferencial da tecnologia é oferecer uma experiência personalizável e escalável, já pronta para atuar em todo o território nacional — inicialmente para soja e milho.

A inovação da Picsel começa com um “gêmeo digital da fazenda”: uma simulação detalhada da lavoura, do plantio à colheita, baseada em dados históricos — mais de 30 anos de clima e 20 anos de imagens de satélite. “Você me diz a variedade da semente, o tipo de solo e a data de plantio. A partir disso, simulamos o desenvolvimento da sua lavoura e rodamos todos os cálculos para entregar uma cotação personalizada em até três minutos”, explicou Ozaki.

Esse modelo permite uma precificação individualizada. Enquanto o mercado tradicional utiliza médias municipais para determinar o preço do seguro, a Picsel oferece preços ajustados ao risco real da propriedade rural — o que evita distorções, como bons produtores pagando por riscos que não representam. “É uma agricultura de precisão aplicada ao seguro. O produtor de Piracicaba com baixo risco não deve pagar o mesmo que o vizinho com alta exposição”, garantiu Ozaki.

Benefícios financeiros e dados promissores

Em um backtest realizado com a carteira de uma seguradora parceira, referente às safras de 2021 e 2022, a tecnologia da Picsel mostrou resultados expressivos: o prêmio teria sido 13% maior, as indenizações, 3,5% menores, e a sinistralidade teria melhorado em 20 pontos percentuais. “São dados que mostram a saúde financeira que a nossa jornada digital pode trazer para as seguradoras”, reforçou.

Embora os testes sejam recentes — a startup entrou em operação no fim de 2024 —, a expectativa é movimentar entre R$ 3 milhões e R$ 3,5 milhões em receita já no primeiro ano, atingindo o breakeven em 12 meses.

Outro diferencial da plataforma é a integração de critérios ESG (ambiental, social e governança) na própria cotação do seguro. O sistema cruza informações com o Cadastro Ambiental Rural (CAR) e sinaliza automaticamente se há sobreposição com áreas de preservação, terras indígenas ou quilombolas. “Funciona como uma espécie de certificado de conformidade ambiental, o que é cada vez mais exigido pelos mercados internacionais”, disse Ozaki.

Essa característica pode ser decisiva para o avanço de acordos comerciais, como o de livre comércio entre Mercosul e União Europeia, que impõem exigências ambientais crescentes ao agro brasileiro.

Enquanto a solução é apresentada no Brasil às principais seguradoras — muitas delas multinacionais, como Allianz, Mapfre, Sompo e Tokio —, a empresa já negocia a expansão para a Europa. “Estamos em conversa com representantes na Itália para levar a tecnologia para lá”, admitiu Ozaki.

Regulação e próximos passos

Apesar da forte regulação do setor de seguros no Brasil, a Picsel não precisou de autorização específica da Susep para operar, já que atua como fornecedora de tecnologia às seguradoras, e não como operadora direta de seguros.

Com base científica robusta e foco em soluções customizáveis, a Picsel aposta em preencher uma lacuna crítica no seguro agrícola: a falta de mutualismo e a concentração de riscos no Sul do país. “Nosso objetivo é pulverizar o risco, equilibrar as carteiras das seguradoras e, principalmente, democratizar o acesso ao seguro agrícola com mais agilidade, precisão e responsabilidade ambiental”, afirmou Ozaki.

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