CEO da biofarmacêutica britânica GSK no Brasil, Patrick Eckert é suíço e atuou em oito países da América Latina, Europa, Oriente Médio, além dos Estados Unidos ao longo de sua carreira. Filho de pai mexicano e mãe suíça, fala cinco idiomas. Apesar da vida pessoal e profissional multifacetada, praticamente cosmopolita, a língua oficial em sua casa é o português. Por dois motivos. Pelo lado familiar, sua esposa é brasileira e sua filha nasceu aqui – o outro filho é da Suécia. Pelo lado profissional, dos 25 anos de carreira, uma década foi dedicada ao Brasil, onde comandou as operações de empresas como Novartis e Roche. Agora, em nove meses à frente da GSK Brasil, o português fala mais alto, naturalmente. E tem ecoado positivamente para a matriz da companhia. Afinal, o crescimento de 18% na receita em 2024, na comparação com 2023, mostra uma evolução mais acentuada do que a média global da GSK, que aumentou o faturamento em 3,6%, de 30,3 bilhões de libras em 2023 para 31,4 bilhões de libras no ano passado. A missão de Eckert, com português afiado, é acelerar ainda mais o desenvolvimento da empresa no País, que está entre a 7ª e 8ª maior operação da GSK no mundo.
“Temos ganhado cada vez mais importância. Entre os mercados emergentes, somos a maior operação, tanto em volume e faturamento como em tendências. Vamos crescer muito mais”, disse o CEO ao BRAZIL ECONOMY.
Crescer para contribuir de maneira ainda mais efetiva com a meta global da companhia de impacter 2,5 bilhões de pessoas no mundo até 2030. De 2021 a 2024, os itens da GSK cehgaram a 2 bilhões de cidadãos.
Quando chegou à empresa, em agosto do ano passado, Eckert debruçou-se sobre os desafios e oportunidades para a GSK. Cada uma das quatro unidades de negócio da corporação funciona como operação independente, na avaliação do executivo. Duas delas ele domina mais: oncologia e imunologia. E outras duas são novidades em sua trajetória: HIV e vacinas.

A evolução dos negócios da biofarmacêutica – que tem entre seus medicamentos mais famosos o antibiótico Clavulin e o broncodilatador Eurolin – está voltada para dois nichos principais. O primeiro é avançar em parcerias e contratos com o poder público, responsável por 30% do faturamento local. Os outros 70% vêm do segmento privado, que atinge um público menor, mas com itens mais caros.
E aqui cabem alguns dados importantes para mostrar a relevância da companhia na saúde pública brasileira. No ano passado, 38 milhões de pessoas tiveram acesso a algum produto da GSK, especialmente vacinas. “Sete de cada 10 vacinas aplicadas no Brasil são da GSK”, apontou Eckert. Entre os 19 projetos de transferência de tecnologia do Programa Nacional de Imunizações (PNI), a companhia britânica está envolvida em 11.
O segundo aspecto é avançar em produtos para o público acima dos 50 anos, que culturalmente não está tão engajado com imunizantes, como ocorre com o público infantil, bem assistido pelo histórico brasileiro em vacinas.
“Estamos em evolução de portfólio de vacinas, que no passado era muito baseado em cuidado de crianças e recém-nascidos. Agora estamos evoluindo muito para o adulto”, afirmou o executivo, ao observar que o trabalho paralelo “é conscientizar as pessoas a se prevenir por meio da vacinação”.
Herpes-zóster e vírus sincicial respiratório (VSR), que pode evoluir para pneumonia, são dois exemplos citados por Eckert nos quais os brasileiros podem ter mais cuidados. “Na Europa e em países mais desenvolvidos essa preocupação é mais latente”, disse o CEO, que está em diálogo aberto com o governo federal para integrar outras vacinas ao PNI.
Ao mesmo tempo em que atua para desenvolver esses dois pontos no negócio da GSK, Eckert também trabalha para fortalecer o que já vem dando certo.
Em relação a estudos e pesquisas, foram investidos R$ 40 milhões no ano passado em território brasileiro, sendo 20% desse montante em regiões como Norte e Nordeste, que precisam de maior know-how e conhecimento – justamente o que a GSK oferece.
Além disso, atualmente o País participa de 50% das análises globais de produtos da companhia. “Queremos chegar a 100% e participar de todos os estudos”, vislumbrou Eckert.
Um dos mais novos projetos da GSK é junto ao Centro de Pesquisa de Engenharia em Novos Alvos Terapêuticos em Oncologia, em parceria com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e o Hospital Albert Einstein. “Estamos focados em estudos para desenvolver novas oportunidades que possam ser exportadas para fora do Brasil.”
Em infraestrutura, a GSK Brasil também tem dado aula – em bom português. Em 2023, a GSK inaugurou dois novos laboratórios de Controle de Qualidade Químico e Microbiológico, em sua sede no País, que fica em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro.

Esses laboratórios desempenham um papel fundamental na garantia da segurança e eficácia dos produtos farmacêuticos da empresa que chegam ao mercado. São responsáveis por realizar rigorosos testes e análises.
“Viramos referência para outros laboratórios da companhia pelo mundo. Se alguma planta for modernizada ou aberta em outros países, o modelo brasileiro é o recomendado”, frisou Eckert.
A GSK investiu no Brasil com a aquisição de equipamentos de última geração, como cromatógrafos líquidos e gasosos, sistemas de referência para análises de produtos respiratórios – que simulam como o medicamento age nos pulmões –, salas dedicadas às análises de produtos altamente potentes, como os antibióticos, e instalações de microbiologia que seguem os requerimentos mais avançados.
Atualmente, esses laboratórios atuam analisando e aprovando aproximadamente 100 lotes por mês de medicamentos e vacinas importados de diversos mercados, tendo a Bélgica como o principal parceiro para o abastecimento do mercado brasileiro de vacinas.
Além disso, há um Centro de Distribuição em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Inaugurado em 2019, o espaço tem 10 mil m² e capacidade para armazenar até 10,5 mil pallets, entre medicamentos e vacinas.
Assim, os negócios da GSK têm evoluído no País, com um português bem falado por um executivo suíço, de uma companhia britânica.