Para entender o atual momento do Ouribank, é preciso compreender primeiro como o valor do dólar tem variado frente ao real. Um ano atrás, em 14 de abril de 2024, a moeda americana fechou cotada a R$ 5,11. Seis meses depois, em 13 de outubro, estava em R$ 5,70. O pico mais recente foi em 15 de dezembro, quando valia R$ 6,19. De lá para cá, entre subidas e descidas, está em R$ 5,85. A guerra tarifária entre as duas maiores economias do mundo, Estados Unidos e Japão, os conflitos armados no Oriente Médio e na Rússia-Ucrânia, além de um desajuste de juros e inflação que atinge Europa e América do Norte — ainda que pequeno em relação ao histórico observado no Brasil —, fazem o preço da moeda americana ser um ativo de difícil previsão. Resultado do câmbio volátil: uma corrida meteórica por operações de hedge — instrumento para assegurar preços de determinados ativos para compra ou venda futura. No Ouribank, apenas em janeiro e fevereiro foram realizadas 2.200 transações, com volume de R$ 9,5 bilhões. Um aumento de 352% em relação ao mesmo período do ano passado e quase a totalidade dos R$ 10,7 bilhões movimentados em todo 2024, quando o banco já havia quadruplicado o desempenho em comparação com 2023. Uma fotografia de que a estratégia das empresas para 2025 está mais focada em segurança financeira.
Agora vamos ao atual momento. O Ouribank tem aproveitado essa oportunidade para aumentar a relação com empresas de médio porte, que não são muito bem assistidas pelos ‘bancões’.
Nessa procura latente por hedge cambial estão milhares de companhias médias que não conhecem muito bem as ferramentas de proteção. E, na verdade, precisam de muitas outras soluções financeiras para fazer importações e exportações.
“Entramos nesse contexto para ser um parceiro do empresário e resolver muitas situações do seu negócio. São dezenas de milhares de CNPJs mal atendidos, e nós damos uma atenção melhor para esses players”, disse ao BRAZIL ECONOMY Bruno Foresti, diretor de Tesouraria e Hub do Ouribank. “Temos feito um trabalho de facilitador de pagamentos, com atendimento muito próximo aos clientes.”
O executivo é responsável pela unidade que representa metade da receita da instituição. A outra metade vem de serviços de crédito, por exemplo. Somadas as duas linhas de negócio, o Ouribank tem crescido a um ritmo de 25% ao ano — ou seja, a cada quatro anos, tem dobrado de tamanho.
Mas há oportunidades para acelerar esse crescimento, segundo Foresti, que tem participado de feiras e eventos na China, Tailândia e outros mercados asiáticos em busca de clientes e parceiros que possuam relação comercial com companhias brasileiras.
Para o executivo, o mercado possui uma lacuna “que pode ser bem trabalhada”. Especialmente para empresas estrangeiras que vendem de forma pulverizada, para muitos empreendedores brasileiros, mas que, na soma total dos produtos comercializados, o montante chega a R$ 50 milhões.
“Queremos chegar nesse empresário e mostrar que é mais fácil ter uma solução em que ele pague em moeda local (R$), ao invés de ir até um canal bancário do país dele para conseguir fechar um câmbio favorável para que sua venda tenha margem. É nesse caminho que começamos a andar”, frisou Foresti, que também considera a América Latina uma região a ser considerada. “Argentina e Paraguai, como grandes importadores de produtos básicos, têm potencial para nós.”
Para o mercado nacional, outros produtos adicionais, na esteira da procura pelo hedge cambial, têm sido movimentados pelo Ouribank.
“Se um exportador brasileiro precisa receber US$ 10 mil, por exemplo, entregamos um QR Code nesse valor, que ele repassa para o pagador. Nós garantimos que essa conversão seja executada. Dessa forma, invertemos a lógica da operação”, explicou o diretor.
MARKET SHARE
Ao mesmo tempo em que a cabeça de Foresti está voltada para “atender bem” quem está desassistido pelos bancos tradicionais, um número martela seus pensamentos: o Ouribank tem apenas 1% de market share cambial. A concentração está justamente nas grandes instituições.
No ano passado, o hub do Ouribank fez 3,5 milhões de operações de câmbio individualizadas. Mas esse número é concentrado a partir de uma cadeia pulverizada. “Imagine uma casa de câmbio que coletou pagamentos de 10 mil pessoas diferentes e fez um único câmbio com a gente”, explicou o diretor.
Diante disso, há um mercado enorme a ser atingido, avaliou Foresti. “Se nós simplesmente trabalharmos para atender melhor o cliente hoje, naturalmente o crescimento vem acompanhado, mesmo que a conjuntura econômica eventualmente não seja maravilhosa”, enfatizou o executivo, ao observar que a regulação cambial brasileira (Lei 14.286/2021), que modernizou a legislação e entrou em vigor em dezembro de 2022, justamente no momento do rebranding do Ouribank, “deixou o mercado um pouco mais friendly na parte de câmbio para o estrangeiro começar a olhar para o Brasil com melhores olhos.”
Paralelamente ao hype do câmbio, o Ouribank tem se posicionado como um ecossistema de soluções de pagamentos para auxiliar na evolução do empresário médio, inclusive como uma espécie de BaaS (Bank as a Service) para fintechs, corretoras e outras instituições. O Nomad é um dos clientes.
“Expandimos a oferta de produtos de rede”, disse Foresti, citando diversas formas de atendimento — desde um serviço de conversão via Pix, passando por uma trading, até uma oferta completa de atendimento.