Enquanto Estados Unidos e China medem forças comerciais e disputam uma guerra tarifária que promete mudar o xadrez econômico global, a Casas Bahia tem acelerado parcerias com companhias do país asiático. Em uma recente comitiva que foi à China, liderada pelo CEO Renato Franklin, a varejista brasileira fechou acordos importantes e encaminhou outros. Desde 2020, a empresa aumentou o share de participação de players chineses de 10% para 18%. Com a chegada de novos fornecedores, essa representatividade deve ultrapassar os 20% ainda neste ano.
As relações com TCL e Midea foram reforçadas. Recentemente, a OPPO, fabricante de smartphones, ganhou relevância na estratégia da Casas Bahia. Agora, a varejista se consolida como principal parceira local para gigantes asiáticas, ao ser escolhida como principal parceira no Brasil da JOVI, marca líder do mercado de smartphones na China, que acaba de anunciar uma produção própria em Manaus (AM) e estreia as vendas em lojas físicas no país em maio.
O movimento ocorre em um momento em que a Casas Bahia, sob a gestão de Franklin há dois anos, trabalha para ajustar as margens, melhorar a liquidez, aumentar o volume bruto de mercadorias (GMV), gerar maior fluxo de caixa livre, reduzir despesas e tornar a operação mais eficiente. Tudo isso tem sido feito e gerado resultados.
O desafio, porém, está na geração de faturamento e lucro. A receita líquida foi de R$ 27,2 bilhões em 2024, uma queda de 5,7% em relação a 2023. O prejuízo no ano passado foi de R$ 1 bilhão, uma melhora diante do resultado negativo de R$ 2,6 bilhões do período anterior.
Em 2025, as prioridades da Casas Bahia incluem a expansão do crediário, o aumento da rentabilidade no comércio eletrônico e o fortalecimento da experiência omnicanal, consolidando as lojas físicas como hubs logísticos e aprimorando a jornada do cliente. É justamente nesse último ponto que os avanços recentes com OPPO e JOVI entram em cena.
“As lojas físicas continuam sendo um pilar estratégico no nosso modelo de negócio e são, cada vez mais, pontos de conexão entre a marca e os nossos clientes”, disse Renato Franklin em seu LinkedIn. “Elas se tornaram também espaços de experiências, além de atendimento e logística. Estão no coração da nossa operação e são responsáveis por boa parte dos avanços que conquistamos nos últimos trimestres.”

Segundo Gustavo Pimenta, diretor-executivo Comercial da Casas Bahia, a parceria com players chineses de relevância global “é um caminho natural” que será mais acelerado daqui para frente. “Acreditamos muito que o produto chinês faz um fit de custo-benefício muito bacana. E nossa marca é extremamente popular, com uma política de crédito avançada, que é o nosso CDC (carnê digital). Tem um casamento dos players chineses com a nossa marca”, afirmou ao BRAZIL ECONOMY.
A JOVI, com aparelhos voltados aos públicos de médio e alto poder de compra, estará disponível em mais de 350 unidades da rede da Casas Bahia no lançamento da marca, com plano de expansão para todas as lojas do grupo, que somam mais de 1.000 pontos de venda.
“É fundamental, na nossa estratégia, levar os smartphones da JOVI a todos os cantos do Brasil. Vamos alcançar isso combinando a extensa rede da Casas Bahia e sua expertise em atendimento ao consumidor com nosso conceito de inovação e qualidade, que queremos oferecer ao público brasileiro”, afirmou Daniel Couri, vice-presidente de Sales & Channel Marketing da JOVI, que, na China, utiliza o nome de vivo (em letras minúsculas mesmo). A alteração do nome no mercado brasileiro visa evitar confusão com a Vivo, operadora de telefonia e internet.
Na parceria com a JOVI, a Casas Bahia vai avançar com a mesma estratégia adotada com a OPPO, quarta maior empresa do segmento de smartphones no mundo: o modelo “store in store” nas megastores da Casas Bahia, além de espaços dedicados à marca e atendimento feito por promotores especializados nas demais unidades. É uma tática para se diferenciar em um setor acirrado no País, encabeçado por Samsung, Apple e Motorola.
A JOVI e a OPPO se somam à atuação da varejista com outras marcas chinesas, cujo histórico é consolidado. A TCL, referência global em televisores, adota o mesmo modelo de atendimento personalizado dentro das lojas. Já a Midea, terceiro maior player de linha branca no país, também encontrou na parceria com a Casas Bahia um pilar para seu crescimento, incluindo a inauguração de uma fábrica em Pouso Alegre (MG), em dezembro.
“A capilaridade da rede e o relacionamento próximo do Grupo Casas Bahia com o cliente final são pontos importantes para fortalecer a nossa presença no país e nos aproximar ainda mais dos consumidores brasileiros”, disse Mario Sousa, vice-presidente de Vendas e Marketing da Midea.
ENSINAMENTOS DO VAREJO CHINÊS
O modelo “store in store” é um dos aprendizados dos executivos da Casas Bahia na incursão feita à China um mês atrás. Obviamente, já existia esse movimento nas lojas das varejistas chinesas, mas a implementação com mais ênfase, a partir de agora, passa pela experiência adquirida com a observação do comércio asiático.
A missão à China teve uma agenda de compromissos com os headquarters dos principais parceiros atuais. “A ideia é estreitar cada vez mais, em alto nível, a relação com esses grandes fornecedores. É nossa parceria e planos de crescimento robusto para os próximos anos”, disse Gustavo Pimenta, diretor da Casas Bahia.

Nas lojas físicas, o mercado chinês é vasto em “store in store”. “Cada marca conta um pouco da sua história e do que tem a oferecer. É um pouco diferente do que temos aqui. Podemos avançar em uma implementação semelhante, mas não exatamente igual, porque o brasileiro gosta de entender um pouquinho do mundo da categoria no geral.”
Outro ponto analisado foi “o digital mais maduro, pois tem uma penetração de vendas maior”, e a “robustez logística”. “Mas, quando olhamos para a Casas Bahia, vemos que estamos bem posicionados, pois conseguimos atender o consumidor no Brasil inteiro, não só com produtos leves, mas também com produtos pesados, como eletrodomésticos e móveis”, explicou Pimenta.
Com soluções financeiras avançadas, a China mostrou aos executivos da varejista brasileira o uso passivo do smartphone como ferramenta de pagamento, além de transações via biometria facial — que a Casas Bahia já vem testando, inclusive.
“Nós tentamos sempre pegar alguns benchmarks para escalar aqui dentro porque, obviamente, eles acabam sendo pioneiros em muitas coisas. Aprendemos bastante por lá”, disse Pimenta, que volta à China nos próximos dias para trazer outras novidades, especialmente em eletroportáteis. “Existem muitas oportunidades”, concluiu o diretor.