Após reunião com o CEO da C&A, Paulo Correa, e o CFO, Laurence Gomes, os analistas do BTG Pactual reiteraram a recomendação de compra para os papéis da varejista. Em relatório assinado por Luiz Guanais, Gabriel Disselli, Pedro Lima e Luis Mollo, o banco destacou o bom momento operacional da companhia e o “valuation ainda atraente” — negociado a 10 vezes o lucro estimado para 2025.
Na visão dos especialistas, mesmo após alta de 21% desde o início de março, a ação da varejista, cotada a R$ 12,05 (conforme fechamento do dia 11 de abril), segue com espaço para valorização.
Os analistas ressaltam que, na época do IPO da C&A em 2019, a varejista estava no meio de uma reestruturação, “com uma execução aprimorada que estabeleceu as bases para a expansão no Brasil, explorando sua vasta base de lojas, forte reconhecimento da marca e o (ainda) fragmentado setor de varejo de vestuário”. “Os últimos dois anos mostraram resultados encorajadores”, afirmaram os analistas.
Entre os pilares que sustentam essa tese, o BTG destaca o aumento da produtividade nas lojas, o fortalecimento do e-commerce e a expansão do modelo push & pull — que hoje já representa cerca de 50% das vendas.
A empresa também tem investido na modernização da cadeia de suprimentos, por meio do programa Energia C&A. Conforme a diretoria informou ao BTG Pactual, 25% dos ganhos esperados com a iniciativa já foram capturados, e mais de 50 projetos seguem em andamento.
A gestão da varejista reforçou ainda a intenção de retomar a expansão orgânica a partir de 2025, com até 15 novas lojas e reformas em unidades existentes. O Capex deverá subir gradualmente, na visão dos especialistas.
“A C&A demonstrou uma abordagem mais equilibrada em relação a preços e volumes nos últimos trimestres, impulsionada pela forte demanda por produtos de moda e melhor aceitação da coleção. A integração bem-sucedida das ferramentas digitais foi crucial nessa última frente, garantindo uma experiência de compra mais aperfeiçoada”, diz o relatório do BTG Pactual.
Cautela com crédito, mas KPIs seguem saudáveis
Sobre o C&A Pay, os executivos deixaram claro para os analistas que o produto é visto como ferramenta de fidelização, e não como motor de vendas. Em meio aos juros altos, a companhia adotou uma postura mais conservadora na concessão de crédito e deve registrar queda nas receitas dessa vertical no 1º trimestre de 2025.
Mesmo assim, os indicadores seguem positivos. A carteira de crédito cresceu 8% na base anual e atingiu R$ 1 bilhão, enquanto a inadimplência acima de 90 dias caiu para 16,3%, vindo de 18,7% no trimestre anterior. “Os KPIs [Indicadores-Chave de Desempenho, na tradução do inglês para o português] de crédito melhoraram no último trimestre, indicando que os modelos de crédito existentes estão funcionando bem e não exigem mudanças imediatas na política”, afirmaram os especialistas do BTG.
Operação mais eficiente e balanço enxuto da C&A
O relatório também destaca que a alavancagem da varejista caiu para 0,5 vezes o Ebitda ajustado (ex-IFRS16) no quarto trimestre de 2024, ante 1,5x em igual período de 2023, o que mostra maior eficiência operacional.
“Acreditamos que ainda há valor a ser destravado na operação de varejo, tanto com o aumento da produtividade das lojas quanto com o avanço do ROIC”, escrevem os analistas.
De acordo com o último balanço divulgado, a C&A terminou o ano passado com um lucro líquido de R$ 452,5 milhões, revertendo o prejuízo de R$ 6,8 milhões registrado em 2023. No último trimestre, esse ganho aumentou 59,8%, para R$ 254,9 milhões, contra igual período do ano anterior.
O Ebitda ajustado foi de R$ 1,4 bilhão, o que representou uma alta de 33% frente ao dado de 2023. Nos últimos três meses de 2024, a margem Ebitda ajustado cresceu 0,3 ponto porcentual (p.p.), para 23,3%.
O BTG Pactual estima que a receita líquida de vestuário da C&A aumente 15% no primeiro trimestre de 2025, na comparação anual, com um aumento da margem Ebitda ajustado de 80 pontos bases (0,8%).