“Até para ter pressa, tem de ter paciência.” Esse foi um dos principais ensinamentos que Álvaro Mendonça Alves passou para os filhos. Dono de uma madeireira criada nos anos 1970, em Maceió (AL), ele colocou os quatro meninos para trabalhar no negócio muito cedo. Juntos, os irmãos Abílio Alves Netto, Alexandre Mendonça, Alex Mendonça e Antoine Mendonça fundaram, em 2000, na capital alagoana, a Carajás Home Center, referência em material de construção e decoração no Nordeste e a sexta maior empresa do ramo no país. É com aquela mesma ideologia propagada por seu Álvaro que o planejamento de crescimento da companhia está desenhado para os próximos cinco anos: inaugurar quatro lojas por período até 2030. As 20 novas unidades se somariam às atuais 12 (e mais dois centros de distribuição), para chegar a 32 endereços, em um aumento de 166%.
Mas a máxima do seu Álvaro é inegociável. “Esse é o sonho. Alguém tem que sonhar. Do outro lado dessa intenção, existe um abismo. Por isso, temos os pés no chão”, afirmou Abílio Alves Netto, CEO da Carajás, ao BRAZIL ECONOMY.
O abismo, nesse caso, pode ser chamado também de macroeconomia. Com a taxa básica de juros a 14,25% ao ano atualmente – e projeção de fechar 2025 na casa dos 15% –, a companhia adota mais cautela em seu plano de voo.
Até por isso, a estratégia é avançar neste ano 10% no faturamento, que está entre R$ 1 bilhão e R$ 1,5 bilhão, e preparar o terreno para inaugurar novas lojas de fato a partir de 2026.
As atuais 12 lojas da Carajás Home Center possuem entre 7.000 m² e 12.000 m², sem contar os espaços para depósito e estacionamento. As menores unidades demandam cerca de R$ 25 milhões de investimento, e as maiores, R$ 100 milhões, em média.
As unidades estão espalhadas por cidades dos Estados de Alagoas, Paraíba, Ceará, Rio Grande do Norte e Piauí. Sair da região Nordeste não é uma opção. Sair das capitais é uma condição. “Nossa visão é continuarmos sendo reconhecidos como líderes regionais na comercialização de material de construção e home center”, disse Abílio, ao ressaltar que já pensou em ingressar em outras regiões, como o Centro-Oeste ou Norte, mas nunca passou de um senso raso.
A visão ponderada do executivo visa evitar cometer os mesmos erros do passado que, segundo Abílio, o desconectaram da lição de seu pai. “Na ânsia de acertar no curto prazo, esqueci de ser eu durante um determinado tempo. Talvez tenha passado por uma crise de identidade”, reconheceu o executivo, que trabalhou na madeireira de seu Álvaro desde os 12 anos.
Hoje, com cinco décadas de experiência, pai de cinco filhos e avô de quatro netos, Abílio tem a humildade de dizer que saiu do eixo, o que levou a empresa a andar de lado – ou até para trás – em alguns anos. Mas retoma suas raízes, inclusive com a família voltando a ocupar postos de comando na Carajás.
Além de CEO, Abílio também assumiu a área de abastecimento e compras da empresa. O vice-presidente, Alex Mendonça, que estava ainda no setor comercial, passou a comandar a parte de logística. Os outros dois irmãos saíram do conselho e retornaram à operação. “Não esquecemos o que aprendemos. Demos as mãos e arregaçamos as mangas para trabalhar na gestão do negócio”, relatou Abílio.
Com as rédeas da companhia nas mãos e o lema de seu Álvaro na cabeça, o CEO iniciou uma série de mudanças. A primeira delas foi trabalhar a diminuição do estoque por meio de reprecificação e aumentar a relevância de produtos importados nas prateleiras, elevando a participação desses itens de 3% para 10%.
Para isso, realizaram visitas a mercados como Europa, Oriente Médio, China, Índia, Vietnã, Turquia, Egito, Uruguai e Panamá. Esse movimento culminou na compra de aproximadamente 80 contêineres de produtos, especialmente itens das categorias “faça você mesmo”, decoração, jardinagem e cama, mesa e banho. “Buscamos tendências para nos diferenciar dos concorrentes”, disse o executivo.
Outra medida foi fortalecer os canais digitais de venda, que antes representavam entre 2% e 3% do total, e passaram a ser responsáveis por cerca de 10%. O resultado foi que o balanço de 2024 da Carajás Home Center fechou com 6,5% de crescimento na receita.
“Ano passado corrigimos a rota e, este ano, vamos fortalecer o caixa”, acrescentou Abílio. “Por isso, estamos dormindo tarde e acordando cedo.” Sem deixar de lado o ensinamento do patriarca da família: “Até para ter pressa, tem de ter paciência”.
