Valuation de US$ 62 bilhões, faturamento de US$ 3 bilhões, crescimento anual de 60% e 12 mil clientes no mundo. Com essa bagagem, a Databricks está em sua rodada de Série J e já arrecadou US$ 10 bilhões em aportes, além de US$ 5 bilhões em financiamento. O grande volume de recursos se justifica pelo desenvolvimento de um produto diferenciado no setor de tecnologia: dados organizados e lapidados como ouro por Inteligência Artificial (IA).
Se os dados são o novo petróleo, como prega uma máxima do mercado, a Databricks é uma das principais refinadoras dessa matéria-prima. Por isso, tem atraído aportes bilionários de empresas colossais como Nvidia, Microsoft e AWS (serviço de nuvem da Amazon). E o Brasil, onde entra nessa história?
“O país é um ponto estratégico no nosso desenvolvimento”, disse ao BRAZIL ECONOMY Marcos Grilanda, vice-presidente e general manager da Databricks para a América Latina.
Apesar de a companhia ter sido criada dentro da Universidade da Califórnia, em Berkeley, em 2013, e de a operação na região ter sido aberta apenas em 2020, o Brasil já está entre os 10 principais mercados globais. A performance local tem sido mais efetiva do que a média global da companhia. “Temos um crescimento exponencial de 80% tanto na América Latina quanto no Brasil.”
Isso ocorre, segundo o executivo, “pelo potencial de mercado, pela ampla adoção de tecnologia e pelos provedores de cloud service bem estabelecidos”. “Isso gera uma quantidade significativa de investimentos por aqui”, afirmou Grilanda, que passou os últimos anos fora do Brasil como responsável pela AWS na América Latina. Após um período de “namoro” com a Databricks, virou casamento e, há um ano, voltou ao país para desenvolver a empresa localmente.

Os recursos aplicados na operação brasileira dobraram de 2023 para 2024 e, neste ano, serão 40% superiores ao período anterior. “Isso está absolutamente na contramão do que as outras empresas estão fazendo, reduzindo ou segurando seus investimentos”, frisou Grilanda.
Esses aportes estão sendo direcionados para um novo escritório da companhia em São Paulo, na região da Faria Lima, que está sendo preparado para receber os clientes da América Latina, que já somam 700 empresas. O espaço contará, inclusive, com um centro de treinamento para parceiros. “Vamos oferecer um suporte ainda melhor aos nossos clientes.”
No mundo, a Databricks atende corporações como Michelin, NBA, Santander, Siemens, Toyota, Mercedes-Benz e Heineken. Na América Latina, Bimbo e Coca-Cola estão entre os grandes contratos. No Brasil, instituições como Bradesco, Sicoob, Sicredi, Natura, iFood e Petrobras são atendidas por um time de 150 colaboradores. “A maioria composta pelo nosso corpo técnico, ao contrário da indústria em geral, que tem mais profissionais voltados para o time comercial”, ressaltou o executivo.
Parte dos investimentos também está sendo destinada para trazer as soluções da Databricks para rodar no Brasil. As ferramentas da empresa são inseridas nos data centers dos parceiros de nuvem, como AWS, Microsoft e Google. “Existem alguns setores que precisam ter os dados locais, seja por velocidade, latência ou regulamentação”, explicou Grilanda.
COMO FUNCIONA
A Databricks é uma plataforma baseada em nuvem que pode ser usada para processamento, transformação e exploração de grandes volumes de dados, que podem estar dispersos em diferentes locais dentro de uma mesma empresa. As soluções da Databricks reúnem todas essas informações em um único data lakehouse.
Dessa forma, os dados estruturados (como planilhas e tabelas) e não estruturados (como vídeos e fotos) são armazenados de maneira apropriada e, a partir disso, refinados para gerar os insights necessários para cada empresa ou setor. Tudo isso com IA generativa integrada.
Com essa abordagem, a empresa americana busca resolver três grandes desafios para seus clientes. O primeiro são os silos, ou seja, grupos de informações isoladas dentro de diferentes departamentos ou sistemas de uma organização. Esses conjuntos de dados, que podem chegar a 60, não se comunicam entre si, o que prejudica a eficiência e dificulta a tomada de decisões. “Fornecemos soluções para consolidar e unificar esses dados”, salientou Grilanda.
O segundo desafio envolve avanços em governança. “Quem pode acessar o quê e quando? Isso precisa estar bem estruturado para evitar vazamento de informações, o que pode gerar perda de controle de custos”, explicou o executivo.
O terceiro desafio é garantir que tudo isso seja altamente escalável. “O fato de estarmos baseados na nuvem potencializa a utilização dos dados.”
Com os dados organizados e seguros, é possível avançar em novas soluções. O Bradesco, por exemplo, precisou realizar uma migração de código. Para isso, utilizou uma ferramenta da Databricks chamada Genie, uma IA que se conecta aos dados da empresa e recebe comandos em linguagem natural. Os funcionários do banco davam comandos em português, que eram transformados automaticamente em códigos computacionais para executar a migração. “Com uma assertividade muito alta e acompanhamento de analistas e desenvolvedores para assegurar que os processos estivessem dentro dos parâmetros esperados. O tempo de execução da tarefa foi reduzido em 50%”, explicou Grilanda.
Na Casas Bahia, ferramentas da Databricks ajudaram a formular relatórios específicos, que antes levavam seis horas para serem gerados e agora são concluídos em apenas 40 minutos. No iFood, a empresa rodou 10 mil simulações de rotas para otimizar as entregas, resultando em uma economia de R$ 0,10 por pedido. “Em um universo de 65 milhões de entregas por mês, isso faz uma enorme diferença”, destacou o vice-presidente.
EVENTOS
Os investimentos da Databricks também estão voltados para a realização de eventos. Nesta quarta-feira, a companhia promove dois eventos em São Paulo: o Data Intelligence Day, que proporcionará uma experiência imersiva sobre como as organizações podem se beneficiar de estratégias mais assertivas ao utilizar dados e IA, e o Fórum de Serviços Financeiros, que reunirá executivos do setor para debater estratégias de crescimento, inovação e tomada de decisões orientadas por dados.
Além disso, está previsto um evento global da empresa nos Estados Unidos no meio do ano, bem como um encontro no Brasil no segundo semestre, com expectativa de 2.500 participantes e cerca de 20 clientes apresentando seus cases de sucesso, demonstrando como utilizam as soluções da Databricks para transformar dados em ações inteligentes.