De um lado, grandes indústrias brasileiras querendo vender e alcançar mais capilaridade de seus produtos. De outro, pequenos varejistas espalhados por cidades de todo o Brasil fora dos centros urbanos mais desenvolvidos querendo ter acesso a itens a preços justos e entregas rápidas para abastecer suas gôndolas. Fazer esse match é o negócio do Compra Agora, uma plataforma digital B2B que nasceu dentro da Unilever e há quatro anos ganhou vida própria por uma spin-off – a companhia é independente, mas a multinacional britânica de bens de consumo é a principal acionista. Depois de ganhar corpo e se estabelecer, o Compra Agora entra em uma nova fase. Investe R$ 50 milhões em um programa proprietário de tecnologia denominado “Conecta”, criado para atender de forma mais personalizada às demandas do varejo, distribuidores, indústrias, consultores e equipes operacionais.
“Com uma inteligência cada vez maior na ponta, garantimos agilidade e flexibilidade para os parceiros. E também ficar cada vez mais próximo de oferecer uma experiência que o consumidor tem buscado”, disse Julio Campos, CEO do Compra Agora, ao BRAZIL ECONOMY.
São cerca de 530 mil pequenos varejistas cadastrados, sendo 140 mil deles ativos em compras na plataforma. Pelas bandas da indústria, são 30, entre elas a própria Unilever, Camil Alimentos, Diageo, Hypera Pharma, L’Oréal, Mondelez, Nivea, entre outras.
São milhares de pedidos transacionados diariamente. Em 2024, foram movimentados R$ 6 bilhões no marketplace. Com os avanços tecnológicos do “Conecta”, a partir de uma nova vitrine que melhora a navegação e a exibição de produtos, impulsionando as vendas e diversificando o mix de produtos, a expectativa é se aproximar dos R$ 7 bilhões em vendas neste ano.
A nova estrutura tecnológica, que tem colaboração da Accenture em seu desenvolvimento, também disponibiliza o portal do distribuidor, criado para oferecer uma visão completa da operação, como estabelecimentos atendidos e status de pedidos.
Segundo Thaise Hagge, CTO do Compra Agora, a nova estrutura tecnológica avança em todas as áreas da plataforma, inclusive SAC (Serviço de Atendimento ao Consumidor), integração com os distribuidores, acompanhamento de promoções ancoradas na plataforma e geração de dados e insights. “Consideramos um upgrade de gestão, porque eleva o Compra Agora para um outro patamar, e nos proporciona um fôlego para avançamos no nosso negócio.”

Com as informações geradas, ajuda o pequeno varejista a entender melhor seu negócio e a indústria a compreender com mais assertividade as características desses comércios. Uma das “revelações” geradas pelas transações da plataforma é de que vodca vende junto com caneta. Como? Geralmente ficam no mesmo corredor das lojinhas do interior do Brasil e, assim, os dois produtos ficam próximos nas anotações do caderninho de compras dos comerciantes. “Por isso não faz sentido colocarmos os itens no marketplace em ordem alfabética. O mercado tem outra dinâmica”, destacou Thaise.
O “Conecta” está sendo implementado de forma escalonada. O roadmap de migrações do antigo sistema para o atual vai ocorrer até junho. A partir disso, o Compra Agora vai abrir “outras possibilidades” e “ingressar em outros seguimentos”, segundo o CEO, Julio Campos. Muito focado no setor de alimentos, a empresa vai avançar para o canal farma. “Está no nosso planejamento para este ano”, disse o executivo.
PROPÓSITO
O Compra Agora é uma companhia como qualquer outra no sentido de prestar serviço, gerar receita e apresentar resultados para os investidores. Mas Julio Campos aponta o “propósito” do negócio, que ajuda a girar a economia de pequenas empresas localizadas fora dos grandes centros urbanos do País.
“O negócio é bom se ele traz performance para quem investe. Mas temos um propósito muito claro de fazer com que o pequeno varejo, aquele de vizinhança, seja próspero. Comprando bem, vendendo bem e administrando bem o seu comércio”, enfatizou o CEO da plataforma, que tem seu principal mercado o Nordeste – ao contrário da maioria das empresas que atuam no ecossistema do varejo.
Os pequenos e médios varejos, inclusive, são responsáveis pelas vendas de 60% dos produtos consumidos nas áreas de alimentos, bebidas, produtos de higiene pessoal e outros itens de uso cotidiano, segundo dados de 2024 da Accenture Analytics.