A frase por si só já seria relevante. “No setor financeiro, o Brasil dá aula para qualquer país do mundo, inclusive Estados Unidos.” Mas ela tem algumas cargas adicionais de importância quando se trata de quem falou e qual empresa ele representa. Vamos às apresentações.
A declaração feita ao BRAZIL ECONOMY é de Rodrigo Cury, vice-presidente de Desenvolvimento de Negócios na Visa do Brasil, há nove meses no cargo. Com 25 anos de atuação no setor financeiro, antes passou pelo alto escalão de instituições como Citi, Santander e Barclays, além de ter capitaneado projetos na Stone e no BTG Pactual, onde liderou a construção dos negócios de banking digital.
Também tem experiência internacional. Atuou em cerca de 20 países na Europa, América Latina e Estados Unidos. Morou fora por uma década. É essa bagagem que lhe dá ainda mais propriedade para falar do segmento no Brasil em relação ao mundo.
Hoje, Cury está na Visa, responsável pela gestão de clientes privados. A companhia dispensaria apresentações. Mas é fundamental expor os números que a tornam uma das 15 maiores empresas do planeta em valuation, na casa dos US$ 640 bilhões – uma informação que poucos têm se atentado, pois o foco das análises de valor de mercado tem recaído sobre empresas de tecnologia.
A Visa tem atuação em 200 países e territórios, com 15 mil instituições financeiras parceiras, 130 milhões de estabelecimentos comerciais na rede, 4,5 bilhões de cartões gerenciados e US$ 15 trilhões em pagamentos por trimestre, equivalente a sete vezes o PIB brasileiro registrado em 2023, de US$ 2,174 trilhões.
O executivo chegou à companhia americana em junho de 2024 vindo da Stone. Aterrissou na empresa americana em um momento que ela se desenvolve como consultoria e desenvolvedora de soluções para áreas de CRM (gestão de relacionamento com o cliente), data management (gerenciamento de dados), IA (Inteligência Artificial), segurança, marketing e muitos outros. Dessa forma, a Visa se posiciona muito além de uma administradora de cartões e uma rede de pagamentos.
São soluções que são criadas no Brasil – ou por times do País que trabalham junto com outros squads da empresa – e exportadas para o mundo. “O Brasil é a grande referência para o mundo”, disse Cury. Nada mal para uma companhia que faturou US$ 35,9 bilhões em 2024, com lucro líquido de US$ 19,7 bilhões (+14%) e tem por aqui um de seus principais mercados.
A análise de Rodrigo Cury sobre o potencial do Brasil, sua capacidade de execução em relação a serviços financeiros e as soluções da Visa que rodam por aqui foram destacadas também pelo presidente global da empresa, Oliver Jenkyn, durante o Investor Day da Visa, realizado no fim de fevereiro, em São Francisco, Califórnia (EUA). O País, aliás, foi o grande protagonista do evento, além dos Estados Unidos e Reino Unido.
Jenkyn apontou o Brasil como um dos protagonistas globais em tecnologia e inovação no ecossistema global de pagamentos. Já Antony Cahill, que lidera o pilar de Serviços de Valor Agregado (VAS) da Visa, falou da parceria em core banking entre Pismo (fintech especializada em nuvem para cartões e serviços bancários, adquirida pela Visa em 2023) e o BTG Pactual. E Chris Newkirk, líder de Soluções Comerciais e Money Movement (CMS), contou sobre as colaborações estratégicas com a Celero (Business Financial Management, parceira da Visa). Sao conexões com empresas que expandem as oportunidades no Brasil.
Colocar o holofote no País em um evento global desse porte mostra a relevância da operação brasileira para a Visa. Rodrigo Cury ressaltou o “slide verde-amarelo”. “Somos uma grande referência em soluções que chamamos de value added service (serviço de valor agregado”, disse o brasileiro. “A Visa tem sido muito mais consultiva, tem estado muito mais presente da indústria e tem tido mais impacto no dia a dia dos clientes”, completou.

Essas características colocam o Brasil numa posição de destaque também no balanço da Visa. O País está entre os “arquétipos”, mercados que estão mais evoluídos do que o restante de sua região – esse pilar, inclusive, é comandado globalmente por Nunes Lopes Alves, country manager da Visa no Brasil. No olhar da companhia, não dá mais para colocar o que ela faz no setor financeiro brasileiro no mesmo balaio da Argentina, Chile, Colômbia, Peru e outras nações latino-americanas que, apesar de suas complexidades próprias, estão muito atrás.
“O Brasil tem uma penetração de meios eletrônicos de pagamento muito superior a qualquer um dos nossos vizinhos da América Latina. E provavelmente do que a maioria dos países europeus. Nossa aceitação de cartões é superior à da Alemanha, que é a maior economia europeia”, disse Cury.
A diversificação de produtos e as possibilidades de serviços que ela gera tornam o mercado brasileiro essa potência ressaltada pelos executivos da Visa. Cartão de crédito e débito, voucher, vale-alimentação, vale-refeição, bilhete único, tags de pedágio, cartões de programas assistenciais… Esses são apenas alguns dos meios de pagamento que estão no cotidiano do brasileiro. Isso sem falar no Pix, nos pagamentos por aproximação e por biometria, além do Drex (a moeda digital brasileira) que esta vindo por aí. “Tudo isso traz uma sofisticação muito grande para o nosso sistema”, frisou Cury.
ALÉM DOS SERVIÇOS DE PAGAMENTO
Uma das ferramentas da Visa do Brasil que vão além dos tradicionais serviços de pagamento, que têm se tornado commodities, está relacionada à segurança. A solução usada pela própria empresa para proteger sua rede – aquela que citamos no início desta reportagem, que possui 130 milhões de estabelecimentos conectados no mundo – é disponibilizada para seus clientes adquirirem. É a Account to Account Protect.
“Ninguém penetra na rede da Visa porque temos um sistema super robusto. Oferecemos esse serviço aos nossos clientes”, afirmou o VP da Visa do Brasil, ao revelar que apenas no ano passado a ferramenta evitou US$ 40 bilhões em fraudes no mundo.
Na área de advisory, por meio do Visa Consulting & Analytics (VCA), a companhia ajudou um grande emissor brasileiro a sair da pior aprovação de pagamentos do mercado para liderar o ranking, em um trabalho feito em apenas três semanas. Estava abaixo de 80% de pagamentos aprovados e hoje está em 94%.
“Quem aprova menos pagamentos na hora das compras dos consumidores está deixando dinheiro na mesa”, disse Cury, ressaltado que mantém a segurança das transações. “Muitas vezes as empresas estão imersas no dia a dia do negócio e não fazem uma análise do que elas estão perdendo de receita e o porquê. Nós fazemos essa análise. Temos uma base de 15 mil instituições financeiras. Sabemos onde podemos melhorar os processos. Estamos falando de centenas de milhões de reais que podem estar sendo bloqueados sem necessidade na hora das compras”, discorreu o executivo.
A Visa também observa uma via de crescimento de sua receita no gerenciamento de pagamentos B2B virtuais pelo Visa Commercial Pay. É um conjunto de soluções que aprimoram o fluxo de caixa e elimine processos manuais desatualizados. Pagamentos de fornecedores até opções de pagamento móvel e viagens de negócios estão entre os serviços oferecidos. Na mesma linha, pagamentos B2B internacionais estão na mira da companhia, em um mercado endereçável de US$ 200 bilhões.
“Temos olhado muito para essas oportunidades, que são um pilar estratégico da companhia”, disse Cury. Assim, o Brasil tem dado aula em um setor bilionário – e lucrativo.