Segredo revelado: como a Mitsubishi Electric cresce mais de 20% ao ano no Brasil

Operação brasileira se destaca globalmente com metas bem definidas, versatilidade e amplo portfólio de produtos que atendem dezenas de setores. E colabora com receita mundial de US$ 34,5 bilhões

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Imagens: Divulgação

No Brasil, a Mitsubishi Eletric tem operação própria relativamente nova, a partir de 2011 apenas

No Brasil, a Mitsubishi Eletric tem operação própria relativamente nova, a partir de 2011 apenas

É uma operação difícil. E essa talvez nem seja a melhor palavra para definir a atuação da Mitsubishi Electric no Brasil. Complexa pode ser mais adequado. Apesar disso, a empresa japonesa, que fabrica desde panela de arroz até satélites – 85 da marca estão na órbita da Terra neste momento –, tem avançado no País, com crescimento de 20% ao ano, em média. E colaborado com o faturamento global, que fechou 2024 em US$ 34,5 bilhões. O Brasil, com operação própria desde 2011,  a empresa já está por aqui desde 1975, mas atuava por meio de distribuidores. Por isso, os resultados locais ainda não são expostos no balanço. Mas isso também vai mudar. A partir deste ano, o Brasil será uma linha da planilha financeira da companhia e não entrará mais como “outros”.

Em território brasileiro, são muitas as frentes de atuação da empresa. Aliás, essa é uma característica desde sua fundação. Com a 2ª Guerra Mundial, o Japão foi bombardeado e sua indústria foi destruída. A parte comercial da Mitsubishi se fragmentou em 139 empresas. Uma delas é a Electric, que nada tem a ver com a montadora de carros, apesar do mesmo nome, cujo uso por corporações distintas é um acordo entre os japoneses, muito corporativistas e unidos nos negócios.

O vasto portfólio vai desde produtos e softwares de automação industrial, sistemas de ar-condicionado e equipamentos automotivos até sistemas de visualização e de transporte, como peças de trem. O desafio a partir de agora é manter o ritmo de crescimento em dois dígitos, na casa dos 10% a 20%, segundo Fabiano Lourenço, presidente da Mitsubishi Electric Brasil. “Agora não somos mais uma empresa pequena. Somos de porte médio. Vamos continuar nos desenvolvendo e trazendo cada vez mais escopo para o País”, disse Lourenço, com exclusividade ao BRAZIL ECONOMY.

Antes de assumir a presidênia, Fabiano Lourenço passou por funções de gerente de vendas, gerente-geral, diretor-executivo e vice-presidente
Antes de assumir a presidência,  Lourenço passou por funções de gerente de vendas até vice-presidente

Melhores resultados naturalmente geram mais responsabilidades. Auditorias da matriz e relatórios mais profundos são algumas das novas atribuições da operação brasileira, que gerou lucro ante o investimento pela primeira vez em 2023. “Depois de mais de 10 anos investindo aqui, passamos a dar lucro”, afirmou o executivo.

Quais são os casos de uso dos produtos Mitsubishi Electric?

Os produtos da Mitsubishi Electric estão em diversos setores produtivos. São sistemas instalados em edifícios, aeroportos e rodovias para, por exemplo, controlar e supervisionar fluxos.

No ramo de bebidas e alimentos, como a Gomes da Costa, líder em pescados enlatados, as máquinas usadas na produção utilizam soluções da Mitsubishi para automatizar pesagem, enchimento, fechamento, paletização, separação e detecção de materiais como vidro e metal dentro dos produtos. Na área de logística, esteiras dos centros de distribuição de grandes grupos como possuem tecnologia da companhia japonesa.

“Nesses casos, são empresas que precisam de processos muito automatizados, muito controlados e com alta produtividade. Nossa qualidade garante tudo isso”, destacou Lourenço. “Muitas vezes as pessoas consomem produtos que têm nossa participação, mas elas não sabem. Não aparecemos muito, mas estamos lá”, disse o presidente.

Produtos para o setor de saneamento básico têm sido uma das estradas de crescimento da Mitsubishi Electric no Brasil, que avançou nesse mercado com o Marco Legal do Saneamento, em 2020. A empresa japonesa fornece equipamentos para acionamentos de bombas, controles de extração de água e supervisão dos reservatórios.

Outro nicho que vem sendo explorado é o agronegócio. No Sul do País, produtores têm usado tecnologias da Mitsubishi Electric para medir a umidade do solo e repressurizar maquinários. Produtos que controlam movimentos com funções de sincronismo e garantem precisão de até centésimos de milímetro em operações complexas também são comercializados. Muitos têm funções de manutenção preditiva, capazes de detectar alterações nas máquinas por meio da vibração e do atrito dos componentes mecânicos – e lançam avisos para manutenção preventiva.

Portos, indústrias químicas, farmacêuticas e metalúrgicas são outros mercados em que a companhia atua. Essa diversidade de atuação é um dos segredos para a performance no Brasil. Durante a pandemia de Covid-19, por exemplo, enquanto os setores automotivo e aeroportuário estavam parados, os de farmácia, bebidas e alimentos estavam em grande ascensão. Aliada a uma estratégia de aumentar os estoques de algumas peças nesse período, a operação brasileira foi a única entre as 40 da Mitsubishi Electric no mundo a crescer nos dois anos mais complicados. Em 2020, vendeu 12% a mais que no ano anterior. Em 2021, o aumento foi de quase 60%.

Fábrica no Brasil?

Todos os produtos comercializados no Brasil atualmente são importados do Japão. Com os resultados, a construção de uma planta por aqui começa a ser discutida internamente. “Para o futuro, faz sentido”, disse Fabiano Lourenço, ressaltando que a estrutura administrativa é sólida e tem bons fundamentos de governança.

Nesses pontos está outro segredo da companhia. “Quando montamos um time comercial ou técnico, uma das coisas que fazemos é nunca contratar um profissional de vendas sem contratar um de suporte. Porque, se crescer demais e não houver estrutura de suporte, vai fazer negócio uma vez só”, explicou o presidente.

Outras lições da empresa: rápida adaptação e viés de longo prazo

Olhar para o futuro é uma das culturas internas mais relevantes da Mitsubishi Electric. As metas são definidas para um ano, três anos e até 2030. E os objetivos são revisados a cada dois anos. “Nós nos adaptamos muito rápido”, disse Lourenço.

As lições (e aprendizados) do presidente

Em uma empresa com centenas de produtos e serviços diferentes que atua de forma multissetorial, a liderança tem de ser igualmente versátil. Saber um pouco de muitas coisas, ser bem articulado e se expressar bem são características atuais de Fabiano Lourenço. Mas nem sempre foi assim.

Engenheiro de uma família de engenheiros, era um jovem tímido, “muito lógico e focado em resultados de curto prazo”, como ele mesmo define sua personalidade. Sempre gostou de trabalhar com pessoas parecidas com ele. Mas, ao ingressar na Mitsubishi Electric em 2015, tudo mudou. Uma das primeiras lições que aprendeu foi com uma executiva japonesa: “O conhecimento é ilimitado. Você pode aprender e ser o que quiser.”

Lourenço passou por funções de gerente de vendas, gerente-geral, diretor-executivo e vice-presidente da divisão de automação industrial antes de ser “informado” de que comandaria a operação brasileira. Sim, foi informado, porque não houve convite. O presidente anterior o avisou por telefone que estava indo para o Oriente Médio e que Lourenço assumiria sua cadeira. O aviso foi dado de forma direta. “Foi algo bom, que eu nem consegui comemorar”, lembrou aos risos. Hoje, é um dos dois presidentes de 40 filiais que não são de origem japonesa – ele e o CEO dos EUA.

Empresa estimula competição entre instituições de ensino superior e técnico das áreas de engenharia, automação industrial e correlatas

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O executivo também tem incentivado cada vez mais a inovação e a preparação de jovens para o mercado de trabalho. A MECA (Mission, Execution, Communication & Achievement) é uma competição entre instituições de ensino superior e técnico das áreas de engenharia, automação industrial e correlatas, na qual equipes de estudantes participam com projetos e aplicações criativas e inovadoras utilizando os produtos da Mitsubishi Electric. Além disso, a empresa promove treinamentos online gratuitos para formação profissional. “Sou um entusiasta da educação”, afirmou.

Sobre o sucesso no comando da operação e os resultados obtidos, Lourenço responde com o peculiar bom humor brasileiro, que anda lado a lado com a tradicional serenidade japonesa. “É um brasileiro que está dando certo.”

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