Quando Eduardo Dal Ri ingressou pela primeira vez no Grupo HDI Brasil, no ano 2000, a companhia faturava algo em torno de R$ 300 milhões. No momento em que deixou a empresa, na qual era diretor, em 2011, as vendas já estavam na casa dos R$ 2 bilhões. O executivo retornou à companhia de origem alemã em 2022 para o cargo de CEO da operação brasileira. A receita do ano passado foi de aproximadamente R$ 13 bilhões, e a projeção é alcançar R$ 15 bilhões em 2025, um crescimento de 15%.
Houve uma evolução expressiva nos dois últimos anos devido à compra da Sompo Consumer, em agosto de 2023, e da Liberty, em novembro do mesmo ano, pelo Grupo HDI. Pouco mais de um ano após as duas aquisições, a companhia trabalha em alguns ajustes de integração, mas já tem bem definidas as linhas de negócios em que atuará com três marcas no mercado: Aliro, focada em seguros para automóveis com coberturas enxutas a preços competitivos; HDI, com um portfólio diversificado, desde seguros pessoais até grandes riscos; e Yelum, que se destaca pela flexibilidade.
Todo esse movimento foi possível graças à cultura aplicada pelo grupo alemão Talanx, dono da HDI, que permite “muita autonomia local”, segundo Dal Ri. Autonomia e, claro, investimento. Em 2022 e 2023, foram aplicados R$ 6,67 bilhões no País.
“Esse é um dos principais fatores para que consigamos ter sucesso numa integração como a que estamos fazendo agora. Se fosse uma cultura imposta, provavelmente teríamos um choque tremendo”, disse o executivo ao BRAZIL ECONOMY. “Investimos porque nosso acionista (a Talanx detém 70% da companhia, com 30% de free float em Frankfurt) vê no Brasil uma grande avenida de crescimento. Nosso grupo nunca olha apenas para o agora, mas para o futuro de longo prazo. E nele vemos um Brasil que cresce”, acrescentou.
Foi essa autonomia – de um grupo comprador, por óbvio – que permitiu à HDI, então sétima colocada entre as maiores seguradoras do País, adquirir a quinta colocada, a Liberty. Somada à capacidade da Sompo, a empresa se tornou o segundo maior conglomerado segurador do Brasil no segmento property and casualty (seguros de propriedades e acidentes). “É um salto bem grande. O nível de soluções que temos agora para oferecer aos corretores é imenso, com mais de 90 produtos. Isso vai alavancar ainda mais as nossas possibilidades no Brasil”, disse Dal Ri.
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Além de ocupar a segunda posição no mercado brasileiro, a HDI lidera nas regiões Sul, Norte e Nordeste. No total, são 4,7 milhões de clientes, 30 mil corretores parceiros e 68 filiais espalhadas pelo País.
Com toda essa estrutura, o Grupo HDI está presente em 98,9% dos municípios brasileiros. “Temos pelo menos uma apólice em 5.583 cidades. Nossa capilaridade não é fácil de alcançar”, afirmou Dal Ri, ressaltando que essa penetração é fundamental para mostrar aos resseguradores a solidez e a ampla presença da companhia no Brasil. “Isso é uma estratégia de risco.”
Novas aquisições? Sempre são possíveis para uma empresa com perfil comprador, mas, segundo o CEO, não estão nos planos de curto prazo.
O atual momento
Após concluir as aquisições da Sompo e da Liberty, os executivos da HDI comemoraram com champagne. Mas, logo depois, passada a euforia, chegou o momento de trabalhar para integrar 1,5 mil funcionários da HDI, outros 1,5 mil da Liberty e mais 560 colaboradores da Sompo. Fazer 3.560 profissionais de diferentes companhias atuarem de forma unificada tem sido um grande desafio para Dal Ri. “A companhia se transformou loucamente nos últimos três anos”, disse ele, em tom descontraído.
Outro aspecto dessa nova fase da HDI é o relacionamento com os corretores que vendem os seguros, tratados na empresa como distribuidores. “Eles precisam acreditar que essa fusão trará um melhor relacionamento e melhores produtos para oferecer aos seus clientes”, explicou o CEO.
Além da capacidade de adaptação e da oferta clara das três linhas de negócios, o executivo também aposta na conscientização da sociedade sobre a importância dos seguros. No Brasil, 70% dos veículos em circulação não possuem seguro, segundo a Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg). Além disso, 83% das residências não têm esse tipo de proteção.
São exatamente esses números que alimentam o otimismo da HDI e refletem o aumento do interesse dos brasileiros por seguros. Segundo a Superintendência de Seguros Privados (Susep), Os dados consolidados do setor de seguros, previdência e capitalização referentes a 2024 mostram que o setor movimentou R$ 435,56 bilhões, um crescimento de 12,2% em relação ao ano anterior. Já descontada a inflação do período, o aumento foi de 7,6%. “O seguro, de maneira geral, sempre cresce um pouco mais do que o PIB (Produto Interno Bruto). E há bastante espaço para avançar ainda mais nos próximos anos”, destacou Dal Ri.
Com o setor aquecido, a HDI precisa fazer a lição de casa para garantir sua participação no mercado. Por isso, tem atuado para “descomplicar os seguros” e torná-los mais acessíveis, segundo o CEO – desde os mais simples até os mais sofisticados.
Uma das iniciativas é o desenvolvimento da marca Yelum, voltada para produtos premium. Com ousadia, a empresa desafia a tradição dos seguros mais conservadores e aposta em produtos diferenciados. Um exemplo é o Seguro Auto Exclusivo, que já está sendo comercializado. Destinado a veículos acima de R$ 300 mil, ele oferece atendimento personalizado, concierge na assistência 24 horas e soluções sofisticadas, como aluguel de carros ou táxis para clientes com sinistros.
Seguro agrícola de cultivo
Enquanto o carro-chefe da empresa continua sendo o seguro para automóveis, os tradicionais seguros residenciais, empresariais e de vida seguem em expansão. Paralelamente, a HDI ingressou recentemente no setor de seguros agrícolas de cultivo para diversificar ainda mais seu portfólio. Apesar dos desafios relacionados às intempéries climáticas e à precificação complexa, a companhia vê grande potencial nesse segmento, impulsionado pela alta demanda do agronegócio.
“Temos uma parceria com uma empresa mexicana, líder por lá, que possui uma tecnologia de previsão avançada. Queremos ser mais assertivos tanto na oferta de produtos quanto na cobertura”, afirmou Dal Ri.
É mais uma iniciativa para colher frutos – com o perdão do trocadilho. Com uma estratégia de crescimento constante, estabilidade financeira e bons resultados, a HDI naturalmente mira o topo do mercado. No entanto, o CEO prega cautela, sem abrir mão da ambição que caracteriza grandes empresas. “Não temos o objetivo de ser o primeiro do mercado, mas é bom, às vezes, aparecer no retrovisor.” A concorrência que se cuide.