O tradicional eixo financeiro da Faria Lima começa a perder exclusividade sobre as principais inovações do mercado de crédito estruturado. Uma nova geração de gestoras está levando tecnologia e capital para além dos grandes centros, aproximando o mercado financeiro da economia real e descentralizando o acesso a investimentos sustentáveis. Entre os destaques desse movimento está a Audax Capital, que criou um laboratório de Inteligência Artificial em Goiás, dedicado ao aprimoramento de processos de crédito e à formação de talentos locais, uma iniciativa inédita entre gestoras de Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs) no País.
O avanço ocorre em um cenário de forte crescimento dos FIDCs. Somente em 2024, o estoque desses fundos ultrapassou R$ 500 bilhões, alta de 26% em relação a 2023. O número de veículos também aumentou, chegando a 2.200 FIDCs ativos, contra cerca de 1.600 há cinco anos. O impulso vem da busca de investidores por alternativas mais rentáveis que a renda fixa tradicional e da crescente demanda por crédito privado, especialmente em setores produtivos fora dos grandes polos urbanos.
Paralelamente, o mercado global de fundos sustentáveis ganha escala, e o Brasil começa a integrar essa agenda, combinando impacto socioeconômico com práticas de governança e tecnologia. Nesse contexto, a estratégia da Audax reforça uma tendência: aproximar o capital financeiro das economias regionais, gerando eficiência e desenvolvimento.
Fundada em 2015, a Audax Capital soma R$ 410 milhões em ativos sob gestão e possui rating A, concedido pela Liberium Ratings. A companhia já originou mais de R$ 6 bilhões em operações de crédito e registrou crescimento de 139% em 2024, atingindo R$ 720 milhões em créditos cedidos.
Atualmente, 59 fundos investem diretamente na Audax, somando uma base de 120 mil investidores. Com sede em Goiás e foco nos setores industrial e agroindustrial, a empresa mantém PDD (Provisão para Devedores Duvidosos) de apenas 0,6%, um dos menores índices do mercado.
A instalação do Laboratório Audax de Inovação, em Goiás, simboliza essa nova etapa. O espaço funciona como núcleo tecnológico da gestora e atua no desenvolvimento de soluções baseadas em Inteligência Artificial para aprimorar a originação e a análise de crédito. “O Laboratório Audax é o nosso coração de inovação. Aqui, ideias crescem rápido e viram soluções que elevam a eficiência do nosso negócio e do mercado ao nosso redor”, afirmou Pedro Da Matta, CEO da Audax Capital.
A descentralização desse tipo de operação é considerada estratégica. Além de fortalecer o ecossistema financeiro regional, o projeto contribui para a geração de empregos qualificados e estimula o desenvolvimento tecnológico em um estado historicamente ligado ao agronegócio. A proposta é criar um polo de desenvolvimento financeiro e tecnológico no coração do País.
Maturidade e governança no crédito estruturado
Embora os FIDCs tenham surgido como instrumentos para financiar a economia real, o setor vem se sofisticando. O foco atual vai além do volume captado: inclui critérios técnicos de gestão, controle de risco e diversificação de lastros. Essa evolução resulta da incorporação de inteligência de dados, automação e governança, que permitem uma análise mais profunda do comportamento financeiro de empresas e setores.
O movimento acompanha tendências internacionais. Em diversos mercados, investidores priorizam veículos que combinem rentabilidade e previsibilidade, ancorados em metodologias analíticas avançadas. No Brasil, a digitalização e o uso de IA vêm modernizando a gestão de fundos, ampliando o crédito para pequenas e médias empresas e tornando o sistema mais inclusivo e eficiente.
Com a integração entre tecnologia, crédito estruturado e compromisso regional, a Audax propõe um modelo alternativo de fundo sustentável. A ideia é demonstrar que inovação e sustentabilidade podem caminhar juntas com alta performance.
“Nosso objetivo é mostrar que é possível gerar retorno consistente sem se limitar aos grandes centros financeiros. O interior do Brasil tem potencial para ser protagonista em inovação e sustentabilidade”, ressaltou o CEO.