O trabalho não está funcionando. Preocupada, HP ativa inteligência humana na Era da IA

Gigante americana resgata o DNA com foco na cultura corporativa, inaugura seu primeiro Customer Welcome Center da América Latina e avança em serviços operados por pessoas reais

Beto Silva, da Cidade do México
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Imagens: Divulgação

Mateo Figueroa, diretor-geral da HP para a América Latina, na reprodução da garagem que deu início à companhia

Mateo Figueroa, diretor-geral da HP para a América Latina, na reprodução da garagem que deu início à companhia

Em 99% das apresentações de produtos e serviços de grandes companhias ao redor do mundo, a Inteligência Artificial está no centro da mensagem – e, claro, embutida nos equipamentos e ferramentas anunciados nessas ocasiões. Os ganhos de produtividade com a tecnologia são exaltados sem moderação pelos executivos, que mostram números estratosféricos da eficiência da IA na execução de tarefas. Mas os efeitos colaterais negativos são deixados de lado, provavelmente armazenados em um arquivo na poderosa nuvem de alguma big tech. Apenas 1% das companhias preferem mostrar uma perspectiva um pouco mais próxima da realidade, que envolve a relação da Inteligência Artificial com a Inteligência Humana. A HP é uma delas.

Líder global em computadores, impressoras e acessórios, a empresa de Palo Alto (Califórnia, EUA) tem apontado seu holofote para o lado humano e para como a tecnologia pode ajudar as pessoas em seus afazeres pessoais e profissionais. É olhar para as pessoas tanto quanto para a tecnologia.

Um pouco de resgate do DNA da empresa que começou em uma garagem, em 1939: a HP foi precursora em cultura corporativa inovadora, ao ser uma das pioneiras nos Estados Unidos a introduzir o conceito de horário flexível para os colaboradores, ainda nos anos 1960.

Também introduziu o sistema de “sextas-feiras casuais”, em que os funcionários podiam ir à empresa com roupas mais confortáveis; incentivou o voluntariado corporativo, ao dar aos empregados tempo para ajudar suas comunidades; e implementou os Projetos Céu Azul (Blue Sky Projects), que permitiam, especialmente aos engenheiros, dedicar parte de sua jornada semanal para propor ideias à companhia.

Os tempos mudaram, mas muitas dessas ideias continuam sendo disseminadas por corporações ao redor do planeta. E agora, em outros tempos, na Era da IA, existe uma nova oportunidade de repensar a relação entre pessoa e empresa.

Promover um futuro do trabalho diferente. Até porque o trabalho atual, de forma geral, não está funcionando. A conclusão é da própria HP, que mensura, em ampla pesquisa anual, a satisfação dos funcionários em relação a seus empregos.

O índice de 2025 mostra que os funcionários estão sob pressão. Muitos enfrentam expectativas crescentes e um sentimento de desconexão. A iniciativa da HP de não falar só de IA, mas também de humanos, está amparada em números.

CWC da HP fica no distrito de Santa Fe, na Cidade do México: hub de experiências
CWC da HP fica no distrito de Santa Fe, na Cidade do México: hub de experiências

Apenas 20% dos trabalhadores de escritório da América Latina relatam uma relação saudável com o trabalho. É o índice mais baixo da série histórica da pesquisa, realizada nos últimos três anos. Os líderes são os que apresentam a maior queda anual: 17 pontos percentuais de um ano para o outro.

Além disso, 62% dos profissionais afirmam que as demandas e expectativas de suas empresas aumentaram, mas avaliam que as companhias oferecem as mesmas condições de trabalho. Enquanto 45% sentem que o lucro é priorizado em detrimento das pessoas. Apenas 15% confiam que seus líderes atuam conforme as necessidades de suas equipes e 12% acreditam que podem expressar suas emoções no trabalho.

As gerações Z e Millennials, agora maioria na força de trabalho, lideram a adoção de IA, desenvolvem projetos paralelos e exigem flexibilidade, autonomia e liderança baseada em valores. Outros tempos em que a HP detecta a necessidade de melhorar a relação entre funcionário, pessoa e empregador.

Customer Welcome Center

Com respeito ao seu legado e adaptada ao presente – que nem sempre se mostra tão encantador no estudo –, o desafio da HP é explicar ao mercado a importância do olhar para as pessoas e, com isso, promover uma visão de médio e longo prazos.

Para isso, a empresa inaugurou, no início do mês, seu primeiro Customer Welcome Center (CWC) da América Latina, na Cidade do México. O BRAZIL ECONOMY esteve presente na abertura do espaço de inovação, colaboração e demonstração tecnológica para clientes e parceiros de negócios da HP. É o 12º centro desse tipo da companhia no mundo. No Brasil, foi montado um de menor porte, em maio. Contando com esse modelo mais enxuto, são 18 espaços espalhados pelo planeta.

É no CWC que a HP visa criar experiências que impulsionem seu crescimento, ao mesmo tempo em que mostra que é possível a tecnologia ser aliada na geração de satisfação para as pessoas. No conceito da marca, a IA especialmente pode melhorar a experiência do usuário, simplificar a gestão, reduzir a complexidade e fortalecer a colaboração entre departamentos das empresas.

Na avaliação de Mateo Figueroa, CEO da HP para a América Latina, é a apresentação ao mercado sobre a forma como a companhia tem repensado o relacionamento de trabalho atual, priorizando a liderança empática, experiências mais humanas e o uso inteligente da tecnologia.

“Esses tipos de experiências imersivas são fundamentais para compreender o verdadeiro valor da tecnologia quando ela é vivida, testada e conectada aos desafios reais das organizações”, disse o executivo, com exclusividade ao BRAZIL ECONOMY.

“Com nossos especialistas como porta-vozes, os visitantes vivenciaram um ambiente onde nossa inovação se traduz em tecnologia tangível, ampliando de forma positiva a conversa sobre a HP em toda a região”, complementou.

Carlos Cortés, CEO da HP México, enfatizou que o CWC foi projetado para oferecer demonstrações personalizadas de soluções da companhia, treinamentos para parceiros e experiências práticas com produtos. “Tudo isso para fortalecer o relacionamento com os clientes e acelerar a tomada de decisões. O centro permite que a HP capitalize o papel estratégico do México como um dos principais polos logísticos e tecnológicos da empresa na região.”

Carlos Cortés, CEO da HP México: demonstrações personalizadas, treinamentos para parceiros e experiências práticas com produtos no CWC
Carlos Cortés, CEO da HP México: demonstrações personalizadas, treinamentos para parceiros e experiências práticas com produtos no CWC

O executivo observou que a infraestrutura apoia a capacitação de vendas não apenas no México, mas também em outros países da América Latina onde a presença da HP é forte. Nesse aspecto, o Brasil é de fundamental relevância.

“A partir do Brasil, lideramos importantes iniciativas comerciais e de sustentabilidade, incluindo nosso programa de economia circular, que transforma resíduos em valor e oportunidade”, discorreu Cortés, ao ressaltar que o País também é um polo de inovação e que o HP Experience Center, aberto em maio em São Paulo, é um espaço onde clientes e parceiros podem explorar o futuro do trabalho e da sustentabilidade, “onde nosso legado de inovação se conecta ao que vem pela frente”.

O CEO do México ainda citou como referências importantes no Brasil a atuação do Centro de P&D em Porto Alegre (RS), e o Digital Equity Accelerator, que apoia ONGs locais com tecnologia HP, financiamento e mentoria.

“Em conjunto, essas iniciativas refletem a profunda parceria da HP com o Brasil, um país que nos inspira por sua criatividade, resiliência e espírito inovador”, afirmou Cortés.

Desempenho financeiro

Obviamente, a HP é uma companhia que visa resultados, e melhorar as condições de trabalho para que os profissionais estejam mais satisfeitos no ambiente corporativo faz parte da estratégia da companhia para vender seus produtos e soluções. E, claro, gerar maior receita.

De janeiro a setembro deste ano, a HP registrou faturamento global de US$ 40,6 bilhões, 3% superior ao mesmo período do ano passado. Em todo 2024, foram US$ 53,6 bilhões de receita, praticamente a mesma de 2023.

Os anos de ouro da HP foram 2021 e 2022, quando a empresa obteve US$ 63,5 bilhões e US$ 63 bilhões, respectivamente, em vendas no mundo, impulsionadas pelos efeitos da pandemia e pós-pandemia, quando empresas e pessoas decidiram ampliar ou atualizar seus equipamentos.

A HP acredita que pode, aos poucos, alcançar novamente esses números. A IA é aliada para transformar a experiência de trabalho e, consequentemente, seus negócios.

E, mais uma vez, a companhia americana está embasada pelos números de sua pesquisa para ser otimista e promover ações. Segundo o estudo, apenas 21% dos profissionais de escritório se consideram competentes em IA, em comparação com 56% dos responsáveis por TI.

Na avaliação da HP, as empresas que democratizam o acesso à IA (por meio de ferramentas e capacitação) observam melhorias significativas em otimismo, produtividade e retenção.

Para as gerações Z e Millennials, agora maioria na força de trabalho global, ainda mais. O levantamento aponta que 51% dos profissionais da Geração Z têm um negócio próprio ou projeto paralelo. Quatro em cada cinco aceitariam reduzir o salário em troca de mais flexibilidade e autonomia.

Significa que as novas gerações entendem que flexibilidade, propósito, inclusão e tecnologia não são benefícios opcionais; são expectativas básicas. Por isso, a HP tem apresentado suas soluções a partir da cultura e visão para criar ambientes em que as pessoas possam prosperar e construir o futuro do trabalho que desejam.

Hub de inovação e experiências da HP mostra a capacidade de seus produtos e muito do que eles podem auxiliar para melhorar as condições de trabalho
Hub de inovação e experiências da HP mostra a capacidade de seus produtos e muito do que eles podem auxiliar para melhorar as condições de trabalho

Tradução do conceito na prática

É bonito na teoria. O Customer Welcome Center no México e o Experience Center em São Paulo têm a missão de traduzir esse conceito na prática.

No espaço inaugurado no distrito de Santa Fe, na capital mexicana, onde estão as sedes das grandes corporações e das empresas de tecnologia, a HP montou um hub de experiências em que mostra um pouco da capacidade de seus produtos e muito do que eles podem auxiliar seus clientes corporativos a proporcionar melhores condições de trabalho aos seus colaboradores.

Afinal, apenas 20% dos funcionários de escritório da América Latina relatam uma relação saudável com o trabalho — dado já citado nesta reportagem. A HP apresentou esse número ao menos uma dúzia de vezes nos dois dias em que o BRAZIL ECONOMY esteve em visita ao CWC na Cidade do México.

No local, são cerca de dez estações que simulam o uso dos equipamentos da HP no dia a dia dos profissionais, seja no modelo presencial, 100% home office ou híbrido. Em cada uma delas, gerentes e diretores da companhia explicam as possibilidades.

Aposta nos serviços

Uma das principais apostas da HP é o serviço, com a Workforce Experience Platform, um software proprietário de gerenciamento de pessoas e equipamentos. É uma espécie de torre de controle para as empresas manterem as equipes produtivas (e satisfeitas!) por meio da habilitação de insights em PCs, impressões, colaboração e segurança.

A solução monitora a saúde do dispositivo e do conjunto de equipamentos, reduz o tempo de inatividade dos aparelhos, melhora a experiência do funcionário, resolve rapidamente possíveis problemas, minimiza as interrupções do usuário e auxilia a tomada de decisões das lideranças.

Na estação de impressoras do CWC, a HP mostra como a IA e a cibersegurança estão embutidas em seus produtos
Na estação de impressoras do CWC, a HP mostra como a IA e a cibersegurança estão embutidas em seus produtos

É uma versão moderna e atualizada das versões anteriores, chamadas Tech Pulse e Proactive Insights. “A nova solução busca oferecer um modelo de integração em que, em uma única plataforma, seja possível monitorar e entender tudo o que acontece dentro do ecossistema digital de uma empresa”, explicou Gabriel Romero, gerente de Workforce Solutions na HP México, sobre a ferramenta de SaaS (Software as a Service).

Dentro da linha de negócios de serviços, a HP também atua como consultoria de workstations. “Todo nosso negócio de soluções é baseado em consultoria, não apenas em produtos. O foco é sempre consultivo, não é um processo transacional. É um processo que leva tempo, para que o cliente possa definir quais são as soluções e ferramentas que realmente farão sentido dentro da empresa”, disse o executivo.

No CWC, há também uma sala em que são demonstradas as funções das soluções da HP para trabalho híbrido, com equipamentos da marca Poly, fabricante de produtos de áudio e vídeo adquirida pela companhia em 2022.

“A intenção das soluções HP e Poly, com IA, é aproximar as pessoas, de onde quer que elas estejam”, afirmou David Sandoval, responsável pela Divisão de Videoconferência da HP-Poly para América Latina.

“Temos ferramentas desde mouses até editores de imagem para mostrar como somos vistos em uma sala de reuniões, seja em ângulo aberto ou dividido por cada participante. Toda a tecnologia necessária para uma colaboração fluida, presencial ou remota”, frisou o executivo.

Ele enfatizou que os pilares da comunicação no formato digital são: “como me ouvem, o que garante que me escutem claramente, independentemente do ambiente; como eu ouço, a partir de filtro de ruído ao redor, focando na pessoa que fala comigo; e como me veem, garantindo enquadramento correto, comunicação fluida, interação natural, sem precisar olhar constantemente para verificar se estão me vendo ou ouvindo”.

Nesse nicho, a HP está de olho em um mercado de US$ 6,3 bilhões na América Latina, com crescimento esperado de 11,5%. Até 2030, pode chegar a US$ 19,7 bilhões.

IA e cibersegurança em impressoras

Na estação de impressoras do CWC, a HP mostra como a IA e a cibersegurança estão embutidas em seus produtos para melhorar processos de trabalho. As impressoras são integradas aos dispositivos, como PCs, notebooks, workstations e acessórios da Poly.

Pequenas impressoras e copiadoras, por exemplo, possuem muitas funcionalidades de acabamento, grampeamento e até encadernação básica. “Pensamos na impressora como parte do ecossistema do trabalho, não apenas como um dispositivo para imprimir. Transformamos o uso da impressora para ir além de imprimir um e-mail ou carta. É possível digitalizar documentos e extrair dados para integrá-los em outros processos de trabalho”, disse Adriana Concha, gerente de impressão da HP para a América Latina.

“Nossa visão é que a impressora se torna um hub de inteligência. Através da IA, podemos ir além, tornando os fluxos de trabalho mais eficientes e otimizando os processos de digitalização”, completou.

Os scanners têm displays grandes, praticamente como tablets, permitindo interação sem que o funcionário precise voltar ao computador. “Documentos como faturas ou notas de remessa podem ser escaneados, identificados, e os dados extraídos para edição e envio a outros sistemas. Isso reduz erros manuais e aumenta a eficiência”, disse a executiva.

Na área gamer no CWC da HP no México, destaque é a marca HyperX
Na área gamer no CWC da HP no México, destaque é a marca HyperX

Pelo Scan to E-mail, um documento com um resumo e nome apropriado pode ser enviado diretamente da impressora para um correio eletrônico, permitindo que o usuário continue o fluxo de trabalho sem etapas extras. Já o Perfectly Formatted Print permite imprimir conteúdos da internet de forma resumida e amigável (sem publicidades, por exemplo), com diagramação própria, sem desperdiçar papel nem tempo ajustando formatos.

Experiência gamer 

Há ainda uma área gamer no CWC da HP no México. O destaque é a marca HyperX, de acessórios, adquirida pela companhia americana em 2021. A apresentação nessa área visa apontar as melhores configurações para PCs e notebooks do segmento, garantindo uma experiência imersiva, mais clara e nítida para o usuário.

Além dos computadores, todo o ecossistema HyperX (joysticks, fones, microfones e monitores) está à disposição dos visitantes. “Queremos dar ao cliente uma experiência personalizada completa”, disse Enrique Rivera, gerente de Periféricos e Displays da HP México.

É uma brincadeira levada a sério pela companhia, que volta seu foco para as pessoas e sua energia para a inteligência humana na Era da IA.

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