A Mastercard, que responde por 59,6% de todas as transações com cartões de crédito no Brasil e lidera o setor há oito anos consecutivos, vem traçando novas estratégias para sustentar seu protagonismo em um cenário cada vez mais dominado pelo Pix. A companhia apresentou ao Banco Central uma proposta inovadora: criar um sistema de Pix por aproximação offline utilizando o cartão físico, combinando a praticidade dos pagamentos instantâneos com a segurança e acessibilidade do plástico tradicional.
Segundo a Mastercard, o objetivo é democratizar o acesso ao Pix, especialmente entre consumidores que vivem em regiões remotas ou que não possuem celulares com tecnologia NFC, essencial para realizar pagamentos por aproximação com smartphones. A ideia é permitir que essas pessoas possam efetuar transferências instantâneas apenas aproximando o cartão da maquininha, mesmo sem conexão à internet.
“O cartão físico tem muitas vantagens. O Pix também. Juntar ambos em uma única plataforma geraria benefícios para todos os lados”, afirmou Marcelo Tangioni, CEO da Mastercard Brasil, em entrevista ao BRAZIL ECONOMY, durante evento de apresentação das novidades da empresa, em São Paulo. “Além de ampliar o alcance do Pix, a proposta acrescentaria segurança aos modelos existentes.”
Apesar do potencial de inclusão financeira, a iniciativa ainda não deve ser avaliada pelo Banco Central nos próximos meses. O órgão está focado na regulamentação do Pix Parcelado e no avanço das moedas digitais, como as stablecoins, etapas fundamentais na evolução dos meios de pagamento no país. De acordo com uma fonte da instituição, os testes e estudos seguem em sigilo, especialmente após o presidente americano Donald Trump ter citado o Pix como parte das “iniciativas antiamericanas do Brasil”.
Efeito Magnitsky e corrida por bandeiras nacionais
Nos bastidores do setor financeiro, executivos reconhecem que o cenário geopolítico também ajudou a acelerar os movimentos estratégicos das bandeiras internacionais. A recente aplicação da Lei Magnitsky contra o ministro Alexandre de Moraes e sua família, além de outras autoridades brasileiras, que impede o uso de instituições financeiras americanas por pessoas sancionadas, provocou reflexos imediatos no mercado de meios de pagamento.
Embora o CEO da Mastercard negue qualquer relação entre as medidas e os planos da empresa, analistas apontam que o episódio serviu de alerta para o risco de dependência de infraestrutura financeira estrangeira. Após o anúncio das sanções, houve uma corrida por emissão de cartões da bandeira brasileira Elo, diante da percepção de que Visa e Mastercard, ambas americanas, poderiam ser impactadas pelo embate diplomático. “Não somos nós que definimos quem pode ou não pode ter cartão. É uma decisão dos bancos emissores. Somos B2B [relação entre empresa e empresa]. Os bancos são B2C [entre banco e consumidor final]”.
O fato é que a criação de um modelo Pix por aproximação offline com cartão físico, segundo fontes do mercado, também reforça o movimento da Mastercard em diversificar suas operações locais, reduzindo eventuais vulnerabilidades ligadas ao sistema financeiro dos Estados Unidos e preservando seu protagonismo no Brasil, um dos mercados mais dinâmicos e estratégicos do mundo e a terceira maior operação global da Mastercard, atrás apenas dos mercados americano e britânico.
Foco na altíssima renda
Enquanto busca expandir sua base na economia real e digitalizar camadas mais amplas da população, a Mastercard reforça também sua presença no topo da pirâmide. A empresa acaba de anunciar o World Legend Mastercard, seu cartão de crédito mais exclusivo, voltado ao público de altíssima renda.
Com sete emissores já confirmados, entre eles Banco do Brasil, BTG, C6 Bank, Itaú, PicPay, Sicoob e Sisprime do Brasil, o lançamento marca um novo capítulo da companhia no mercado brasileiro, que se torna o primeiro da América Latina a receber o produto.
“O World Legend Mastercard representa um marco importante na nossa estratégia e eleva o padrão de relacionamento com o consumidor de altíssima renda, oferecendo aos emissores uma plataforma única de fidelização e diferenciação”, explicou Tangioni. “O Brasil é o primeiro país da América Latina a receber o lançamento, o que reforça sua relevância global e posição entre os três maiores mercados da companhia.”
Mais do que status, o World Legend Mastercard oferece experiências extraordinárias e atemporais, voltadas a três pilares: viagem, gastronomia e entretenimento.
Entre os benefícios estão check-in e check-out a qualquer hora em hotéis de luxo, curadoria de arte exclusiva, experiências gastronômicas em restaurantes estrelados e, na categoria Exclusive, passagem em classe executiva gratuita para um acompanhante em rotas selecionadas.
No Brasil, o portfólio de experiências inclui parcerias com alguns dos melhores restaurantes Michelin, como D.O.M., Maní, Jun Sakamoto, Kazuo, Kinoshita, Corrutela, Oizumi Sushi e Tangará Jean-Georges, com jantares assinados, reservas prioritárias e serviço de valet gratuito.
No segmento cultural, os portadores contam com Curadoria de Arte por Nara Roesler, incluindo acompanhamento de art advisor e visitas guiadas a feiras e exposições no Brasil e no exterior. Já em viagens, a Coleção de Hotéis World Legend oferece flexibilidade total de hospedagem e benefícios exclusivos em endereços como Palácio Tangará, Copacabana Palace, Hotel das Cataratas, Unique, Botanique e Pousada Maravilha.
Um dos diferenciais é o Taste of Priceless, espaço gastronômico e de bem-estar que será inaugurado no Aeroporto Internacional de Guarulhos, com menu assinado pelo chef Alex Atala, oferecendo conforto e sofisticação antes do embarque.
O consumidor de luxo e o novo paradigma do gasto
Segundo uma pesquisa global da Mastercard, 59% dos consumidores de alta renda preferem investir em experiências em vez de bens materiais, buscando momentos que criem memórias duradouras, como tempo de qualidade com a família. No Brasil, 86% desse público utilizam o cartão de crédito com mais frequência do que a média dos demais consumidores, de 65%.
Um estudo da PYMNTS Intelligence (2025) reforça essa tendência: 74% dos usuários de cartões premium utilizaram pelo menos um benefício no último ano, ante apenas 32% dos portadores de cartões tradicionais, um indicativo do alto grau de engajamento e lealdade desse público.
O World Legend Mastercard, posicionado acima do Black, chegará ainda este ano com um cartão de metal e um concierge dedicado, oferecendo suporte personalizado em cada etapa da jornada do cliente.
Para 2026, a Mastercard prepara uma nova evolução: o World Legend Exclusive Mastercard, voltado a um grupo ainda mais restrito de clientes e com o benefício inédito Air Companion, que concede uma passagem em classe executiva gratuita para um acompanhante.
Além dos benefícios locais, os portadores poderão acessar vantagens internacionais pela plataforma The Mastercard Collection, com acesso prioritário em aeroportos, reservas em restaurantes Michelin, ingressos antecipados para shows e eventos e descontos em hotéis e clubes exclusivos como o Soho House.
Com esse movimento duplo, inclusão digital via Pix offline e exclusividade premium via World Legend, a Mastercard reafirma sua estratégia de manter-se no centro da transformação dos meios de pagamento no Brasil, tanto no topo quanto na base da pirâmide social, adaptando-se a um ambiente global cada vez mais sensível à soberania financeira e à competição tecnológica.