Caito Maia critica Big Techs, condena juros, aposta no TikTok Shop e muda plano para 2026

Para fundador e CEO da Chilli Beans, o alto custo do marketing digital tem sido nocivo ao varejo e a Selic mantida na casa dos 15% vai gerar quebradeira no setor

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Imagens: Guido Ferreira/Sony Channel

Caito Maia, fundador e CEO da Chilli Beans

Caito Maia, fundador e CEO da Chilli Beans

Autenticidade é uma das características mais marcantes de Caito Maia — seja na condução da Chilli Beans, seja na avaliação do quadro econômico e do varejo brasileiro, onde ele e sua empresa estão inseridos. Em entrevista ao BRAZIL ECONOMY, o empresário, criador da marca de óculos de sol, de grau e de relógios, fala com a mesma espontaneidade que lhe é peculiar sobre a macroeconomia e os planos para a companhia, que deve faturar R$ 1,3 bilhão neste ano — 5% a mais do que em 2024.

A projeção para 2026 é de 15% a 20% de crescimento, com mudanças em algumas frentes, entre elas o reforço no segmento de óculos de grau e o foco em produtos próprios, com desaceleração das tradicionais collabs que acompanham a Chilli Beans há pelo menos duas décadas.

Se a receita deve ter avanço tímido em 2025, ela poderia ser melhor se os juros não estivessem em patamar tão alto — na casa de 15% ao ano. Isso tem corroído as margens das varejistas e limitado as possibilidades de expansão.

“Se essa curva não começar a baixar, a conta não fecha. As pessoas vão ficar trabalhando para pagar juros para banco, para deixar o banco mais rico ainda”, disse Caito Maia.

“Um país com juros de 15% ao ano quebra o varejo, quebra toda a cadeia. Os juros do jeito que estão são inaceitáveis. Quebram qualquer sistema econômico. O varejo brasileiro não aguenta muito tempo assim”, afirmou o executivo, ao ressaltar que dois eventos vão afetar o setor especialmente no ano que vem: a eleição presidencial e a Copa do Mundo de futebol. “É um ano de muita atenção.”

Na avaliação de Caito Maia, paralelamente aos altos juros, o varejo tem enfrentado outros obstáculos que comprometem o desenvolvimento do setor. Um dos principais é o custo cada vez mais alto do marketing digital.

Em uma das collabs recentes com a Risqué, a Chilli Beans fez um óculos com hastes inspiradas em esmaltes e lixa funcional embutida
Em uma das collabs recentes com a Risqué, a Chilli Beans fez um óculos com hastes inspiradas em esmaltes e lixa funcional embutida

E vai ficar ainda mais. Recentemente, a Meta — dona do Facebook, Instagram e WhatsApp — anunciou aumento de 12,15% nos valores dos anúncios em suas plataformas, a partir de 1º de janeiro de 2026.

Segundo dados da WordStream, o custo por clique (CPC) no Google Ads subiu 86% em alguns segmentos em 2024, sendo que em 2023 a majoração já havia sido superior a 70%.

“As Big Techs não estão entendendo que estão matando as galinhas dos ovos de ouro delas. O custo de aquisição de cliente está cada vez mais caro e a conta não fecha mais”, disse Caito Maia.

“O empreendedor tem que ganhar, a marca tem que ganhar, a Big Tech tem que ganhar — todo mundo tem que sair ganhando. Se só a Big Tech está ganhando, com cobranças cada vez mais altas, a conta não fecha”, completou o CEO da Chilli Beans, ao ressaltar que muitas empresas estão desistindo do mercado online e migrando para o físico.

“Isso trava o crescimento de um monte de empresas novas que poderiam crescer por meio do digital, que é um grande caminho para começar o negócio, já que muitas não têm dinheiro para abrir uma loja. Aí abrem vendas pelo Instagram, depois um e-commerce… Mas a conta não está mais fechando”, avaliou o empresário, que este ano voltou ao Shark Tank Brasil (Sony), reality show de empreendedorismo.

Estratégia de negócio da Chilli Beans

E quais as ações de Caito Maia à frente da Chilli Beans para contornar as barreiras e seguir avançando? A principal mensagem é não colocar a culpa nos outros ou em situações adversas — e fazer sua parte.

No caso da fabricante de óculos e relógios, sua parte é um pouco complexa. Uma das iniciativas é fabricar os produtos na China, o que gera vantagem diante do pagamento de impostos no Brasil, geralmente na ordem de 35% da operação, em média.

Outra medida, umbilicalmente ligada à estratégia de produção no país asiático, é a relação comercial ancorada na renminbi. Uma unidade da moeda chinesa custa R$ 0,75.

Ao deixar o dólar de lado em negociações internacionais, o executivo olha “para dentro do negócio para ver oportunidades”. “Não importa se o pagamento será em peso, em euro ou em dinheiro chinês. A gente viu uma oportunidade absolutamente comercial, um ganho pagando direto para a China”, afirmou Caito Maia.

A palavra “absolutamente” é, aqui, um recado a quem pretende politizar a escolha da moeda chinesa em detrimento do dólar americano — e evitar aquela discussão entre esquerda e direita, que “atrapalha” a economia, o mercado e o empreendedorismo. “Independentemente de quem está no comando em Brasília, quem toca este país são os brasileiros”, disse Caito Maia.

Sobre os benefícios de utilizar a renminbi, o empresário afirmou que, a depender do momento, da situação, do volume, do produto e de outras variáveis, as vantagens podem variar de 0% a 5% das operações em comparação com outras moedas. “Percebeu que o saldo é sempre positivo? É essa conta feita pelo fundador da Chilli Beans que ele chama de oportunidade. Isso significa dinheiro no caixa da empresa.”

Desfile da Camisa Verde e Branco, no Carnaval 2025, levou para a Avenida mais de 600 óculos da Chilli Beans inspirados em Cazuza
Desfile da Camisa Verde e Branco, no Carnaval 2025, levou para a Avenida mais de 600 óculos da Chilli Beans inspirados em Cazuza

Todas essas iniciativas permitem a Caito Maia ajustar alguns ponteiros na gestão da companhia. Um dos mais importantes, segundo ele, é a precificação. “Nós entendemos qual é o preço que o consumidor pode pagar e criamos produtos para essa demanda. É essencial observar a sensibilidade do bolso do brasileiro e criar produtos mantendo a margem para atender esse consumo”, disse o CEO.

Com juros altos, Big Techs e tributação no caminho, a Chilli Beans ajusta outra ação para driblar os obstáculos: o investimento em tecnologia proprietária para auxiliar as centenas de franqueados. A fabricante de óculos é a 12ª maior franqueadora do país, com 1.236 unidades, segundo a Associação Brasileira de Franchising (ABF). “Estamos muito capilarizados pelo Brasil. São 30 lojas no Acre!”, exclamou Caito Maia.

“Cada vez mais o meu franqueado tem ferramentas online para vender. Estamos investindo nisso”, afirmou o empresário, que tem descentralizado a operação digital da companhia, dando mais poder de ação aos lojistas. “E temos colocado inteligência artificial na gestão, com soluções que reduziram os estoques de quatro meses para apenas duas semanas.”

Outra iniciativa é o flerte com o TikTok Shop. A operação está em fase de testes, mas, pelos primeiros resultados, uma loja oficial da Chilli Beans na rede deve ser implementada em breve. “Comprei uma marca de bala energética no Shark Tank e rodamos uma semana no TikTok Shop. As vendas cresceram 35%”, contou o empresário. “Buscamos ferramentas online com custo-benefício que fechem a conta.”

E as lojas físicas?

O canal físico representa 90% do negócio da Chilli Beans e continuará altamente relevante, segundo o fundador da marca. Apenas neste ano serão abertas 55 novas lojas. E, no ano que vem, o foco será em óticas — com os óculos de grau.

O diferencial é oferecer “uma experiência diferente” das óticas tradicionais, na avaliação de Caito Maia. “Envolve estética, com todos os óculos à disposição do consumidor. Temos tecnologia, design totalmente próprio e um preço mais competitivo que os concorrentes”, salientou.

Caito Maia vai focar nas Óticas Chilli Beans, com vedas de armações e lentes de grau próprias
Caito Maia vai focar nas Óticas Chilli Beans, com vedas de armações e lentes de grau próprias

O executivo acrescentou outro componente: a história de 28 anos da Chilli Beans. “As óticas vendem todas a mesma coisa, as mesmas marcas. Eu vendo a minha história. O que eu coloco no mercado, só eu tenho”, destacou, ao ressaltar que 50% das vendas de lentes são da marca própria Chilli-Vision, de tecnologia alemã.

“Este ano vamos vender R$ 260 milhões só de lentes no mercado. Metade desse valor é de lente própria”, detalhou.

Mudança em collabs para 2026

Como parte das mudanças no conceito de gestão que Caito Maia pretende adotar a partir do ano que vem, as collabs com artistas, empresas e outras marcas vão desacelerar. Assim, ele deixará de lado uma de suas criações mais marcantes, já que a Chilli Beans foi pioneira em parcerias de colaboração há duas décadas, quando convidou estilistas da São Paulo Fashion Week — amigos de Caito Maia — para assinarem coleções de óculos com design diferenciado.

Depois disso, foram centenas de parcerias, e a tendência virou moda em diversos segmentos. É justamente esse fato — o de todo mundo estar fazendo collab — que motiva Caito Maia a ir na direção contrária.

“Está todo mundo fazendo? A gente vai mudar a estratégia”, frisou. As divulgações, publicidades e ativações serão concentradas nos produtos próprios da Chilli Beans. “Temos tecnologia muito interessante, desenvolvemos e desenhamos modelos, e vamos investir na nossa história.”

E mais: “Quando começamos as collabs, éramos menores do que nossos parceiros. Hoje somos do mesmo tamanho ou maiores. Temos que nos valorizar”, disse Caito Maia, dono da maior marca de óculos escuros da América Latina, a décima com mais operações fora do Brasil e com 25% de market share no país.

A Chilli Beans é a Marca Mais Admirada do Brasil na categoria Óticas e Óculos Escuros, segundo o ranking do Ibevar (Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo & Mercado de Consumo).

“Lideramos o ranking, com 90% dos brasileiros lembrando da Chilli Beans quando pensam em óculos escuros. Em segundo lugar, com 75%, vem a Ray-Ban. Temos quase 30 anos de atuação, e eles quase 100 (a marca americana é de 1937)”, enfatizou Caito Maia, ao observar ainda que a Chilli Beans é a marca mais procurada no Google há 20 anos.

Para trabalhar suas próprias coleções em 2026, lançamentos é que não vão faltar. São, em média, 10 novos modelos de óculos escuros por semana colocados pela Chilli Beans no mercado, além de cinco modelos de óculos de grau e cinco relógios — sempre com a autenticidade que caracteriza os produtos e o fundador da marca.

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