Trump ameaça China, mas Pequim encurrala americanos com domínio sobre terras raras

Analistas alertam para os riscos de crise comercial internacional, enquanto os EUA estudam ampliar sanções e controles de tecnologia

Jason Ma (Fortune)
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Imagens: Dan Kitwood and Nicholas Kamm/AFP via Getty Images

A Casa Branca confirmou que o encontro entre Trump e o chinês Xi Jinping segue mantido para o fim do mês

A Casa Branca confirmou que o encontro entre Trump e o chinês Xi Jinping segue mantido para o fim do mês

A tensão comercial entre Estados Unidos e China voltou a se intensificar após o governo de Donald Trump reagir aos novos controles de exportação de terras raras impostos por Pequim. O republicano, que insiste ter a vantagem no embate, anunciou tarifas adicionais de 100% e restrições de software contra o país asiático, que detém mais de 90% do mercado mundial de terras raras processadas e ímãs derivados.

Trump já havia sinalizado que poderia adotar medidas ainda mais duras. Em publicação na rede Truth Social, afirmou que os Estados Unidos também possuem “posições monopolistas, muito mais fortes e de alcance mais amplo do que as da China”, e que havia optado por não usá-las “até agora”.

Nos últimos dias, o ex-presidente moderou o tom, reconhecendo que as tarifas planejadas não seriam sustentáveis a longo prazo. Em Wall Street, suas ameaças foram vistas mais como uma tentativa de ganhar margem nas negociações do que como uma política de choque real. Mesmo assim, a Casa Branca confirmou que o encontro entre Trump e o presidente chinês Xi Jinping segue mantido para o fim do mês, à margem de uma conferência econômica na Coreia do Sul.

As restrições chinesas às exportações de terras raras, entretanto, causaram surpresa e preocupação. Alguns analistas apontaram que a medida poderia “impedir qualquer país do mundo de participar da economia moderna”, dada a importância desses minerais na produção de semicondutores, baterias, turbinas e outras tecnologias essenciais.

Um relatório da consultoria Capital Economics, porém, avaliou que o alcance da política de Pequim é mais limitado do que se temia. Segundo o chefe de economia para a China, Julian Evans-Pritchard, e a economista Leah Fahy, a decisão de restringir as exportações também reflete a frustração do governo chinês com a falta de avanços nas negociações para reduzir tarifas americanas. “Seja qual for a motivação, as ações recentes da China foram uma aposta, e há o risco de que elas acabem saindo pela culatra”, escreveram os economistas.

Entre as possíveis retaliações, os Estados Unidos poderiam explorar sua força em setores estratégicos. Um exemplo seria a aviação civil: Washington controla boa parte da cadeia global de suprimentos e poderia restringir exportações de componentes críticos ou até de aeronaves inteiras.

Outro ponto sensível está na tecnologia. Segundo a Capital Economics, cerca de 90% dos laptops e PCs na China ainda utilizam o sistema operacional Windows. Caso Trump obrigue a Microsoft a suspender vendas e atualizações no país, o resultado seria um aumento das vulnerabilidades cibernéticas. “Existem alternativas locais, mas a experiência da Huawei mostra que uma substituição desse tipo reduziria o apelo global das marcas chinesas”, observam Evans-Pritchard e Fahy. “Talvez a maior preocupação para a China seja o software usado na manufatura avançada, já que empresas ocidentais controlam mais de 70% do mercado chinês de design de chips.”

Trump também poderia ampliar os controles de exportação sobre semicondutores, atingindo diretamente a base tecnológica chinesa. Apesar dos esforços para desenvolver uma indústria nacional, o país ainda depende fortemente de chips e equipamentos de produção fabricados pelos Estados Unidos e seus aliados.

Além da frente tecnológica, a vantagem americana no sistema financeiro global também oferece instrumentos de pressão. O governo poderia congelar ativos denominados em dólares de empresas chinesas e restringir o acesso delas ao sistema internacional de pagamentos SWIFT. Outra alternativa seria coordenar uma ofensiva comercial com aliados, impondo novas barreiras a produtos chineses. O México, por exemplo, já discute tarifas de até 50% sobre alguns itens vindos da China e de outros países asiáticos.

Para a Capital Economics, o cenário tende a aprofundar o processo de desacoplamento entre as duas maiores economias do planeta. “Assessores de perfil mais agressivo em ambos os lados do Pacífico certamente usarão a disputa atual como uma oportunidade para consolidar uma separação mais profunda entre Estados Unidos e China”, afirma a consultoria. “Na melhor das hipóteses, poderemos retornar à trégua comercial instável dos últimos anos. Na pior, Pequim pode se ver ainda mais isolada de mercados e tecnologias ocidentais do que está hoje.”

 

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