A transformação digital do setor público brasileiro vem ganhando velocidade e escala, e a Betha Sistemas está entre as empresas que lideram esse movimento. A govtech catarinense, com sede em Criciúma, já está presente em 22 estados e 800 municípios, oferecendo soluções em nuvem que integram todas as áreas da gestão pública. A empresa projeta alcançar R$ 300 milhões em contratos até o fim de 2025, com presença em todo o território nacional.
“Passamos uma década investindo em tecnologia para construir uma plataforma govtech com capacidade de criar interoperabilidade entre os atores do setor público, completa, única e modular, com oferta de sistemas de A a Z para os governos”, destaca Aldo Garcia, CEO da Betha Sistemas, em entrevista exclusiva ao BRAZIL ECONOMY. “Agora, o objetivo é ser a principal plataforma ‘full stack’ entre as govtechs do País. E estamos caminhando para isso. Até o final do ano, nossa meta é alcançar todos os estados da federação com a oferta de algum produto.
A digitalização da gestão pública vem exigindo das prefeituras mudanças culturais, estruturais e tecnológicas. Na Betha, o processo de migração para a nuvem levou quase seis anos e envolveu cerca de 3 mil contratos e licitações. “Do ponto de vista cultural, foi um processo longo, que atravessou gestões municipais distintas”, explica Garcia. “Isso significou lidar com equipes diferentes, trocas de lideranças e, muitas vezes, resistência ao novo por parte de servidores com mais tempo de carreira. Esse fator humano foi um dos grandes desafios, especialmente em relação ao que chamamos de ‘competência digital’.”
Segundo o executivo, o esforço de transição foi comparável à própria história da empresa. “É como se nós tivéssemos feito, em quase seis anos, o que a empresa havia feito nos seus primeiros 35: um esforço completo de reconquista e transformação junto à base de clientes”, diz.}
O modelo SaaS “full stack” desenvolvido pela empresa integra todas as áreas da administração municipal, de arrecadação e contabilidade a saúde, educação e assistência social. “Os casos que temos recebido dos nossos clientes mostram uma relação direta entre o modelo SaaS e a agilidade do poder público”, afirma o CEO. “Em muitas cidades atendidas pela Betha, por exemplo, já é possível abrir uma empresa em questão de horas, algo que antes era um processo extremamente burocrático, demorado e custoso.”
A interoperabilidade é outro pilar da operação. “Desde o início, a Betha contou com o apoio de grandes players do mercado, que contribuíram para a criação de uma infraestrutura segura, tecnológica e inovadora”, observa Garcia. A empresa oferece hoje um nível de disponibilidade de 99,999% de tempo no ar, com atendimento 24 horas por dia, sete dias por semana. “Atualmente, já temos 16 empresas integradas dentro do nosso próprio ecossistema, além de conexões pontuais feitas para atender exigências específicas de licitações públicas”, acrescenta.
Essa camada de APIs é o que permite o uso de novas tecnologias, como inteligência artificial e reconhecimento facial, de forma ética e transparente. “A Betha entende que essa transformação digital não acontece de forma isolada. A camada de APIs que entregamos hoje permite que as empresas do nosso ecossistema ofereçam serviços aos cidadãos e aos servidores de forma totalmente transparente, navegando entre diferentes sistemas sem a necessidade de múltiplos logins”, explica o executivo.
Colaboração, igualdade competitiva e o futuro da gestão pública
Com investimentos anuais de R$ 50 milhões em tecnologia, a Betha busca garantir que o avanço digital chegue também aos pequenos municípios. “Quanto menor o município, menores são os recursos disponíveis para competir em qualidade de serviços públicos com as cidades vizinhas”, observa Garcia. “O que fazemos na Betha é oferecer igualdade competitiva. O mesmo sistema que opera em uma prefeitura de 500 mil habitantes é o que entregamos a uma cidade de 5 mil. O código é o mesmo, a tecnologia é a mesma.”
Essa filosofia está alinhada à trajetória do próprio CEO, que começou na empresa como motorista e hoje lidera sua expansão nacional. “A Betha sempre foi uma empresa colaborativa. Desde o começo, apostou em parcerias. Entrei na empresa cerca de dez anos após sua fundação, há mais de três décadas, e tive o privilégio de aprender diretamente com os fundadores”, relata. “Acredito que esse espírito colaborativo é uma das nossas maiores lições: abrir espaço para govtechs, startups e novas empresas que ainda não têm estrutura para atender clientes em todo o País. Esse é o tipo de união que faz o serviço público brasileiro evoluir.”
Garcia reconhece, contudo, que o ambiente regulatório ainda impõe barreiras à inovação. “A nova Lei de Licitações trouxe benefícios, como a possibilidade de contratos mais longos, o que garante continuidade de sistemas e reduz custos. Por outro lado, ela também aumentou a complexidade dos processos para as empresas que desejam ingressar nesse mercado”, avalia. “O custo de aquisição de clientes é muito elevado, e o processo licitatório, por ser pesado, dificulta o avanço de ideias inovadoras.”
O executivo defende ajustes que equilibrem rigor e acesso. “Mesmo com algumas facilidades para micro e pequenas empresas, a carga regulatória sobre o setor de tecnologia é muito pesada e acaba limitando o crescimento de soluções que poderiam contribuir muito com a inovação pública.”
O olhar para o futuro inclui novas tecnologias como IA generativa, blockchain e 5G. “A inteligência artificial já é uma realidade dentro da Betha. Estamos aplicando IA em diferentes frentes, sempre com foco em melhorar a eficiência e a tomada de decisão na gestão pública”, revela Garcia. “Além disso, temos uma expectativa muito positiva em relação ao blockchain, especialmente na validação de documentos e transações de imóveis. No entanto, o custo tecnológico tem aumentado e, se não forem criadas condições para torná-lo mais acessível, podemos acabar freando a evolução.”
Com 40 anos de história, 69 soluções para o setor público e 2,5 milhões de usuários, a Betha impacta 44,5 milhões de pessoas em todo o País. O que começou com softwares básicos de contabilidade e arrecadação hoje representa uma das plataformas mais completas de gestão pública digital do Brasil. “Meu papel agora é garantir que a Betha esteja pronta para o futuro”, conclui o CEO.