Regime Especial de Tributação para Serviços de Data Center no Brasil, o Redata, criado por Medida Provisória assinada no mês passado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pretende trazer para o País um certo protagonismo em armazenagem, processamento e gestão de dados. Além do óbvio interesse das indústrias de tecnologia, o tema tem sido acompanhado com atenção pela DHL Global Forwarding Brasil, que oferece logística especializada de frete aéreo e marítimo para atender a esse nicho.
“O setor de tecnologia é o principal motor do nosso crescimento em logística de projetos, com a construção e a expansão de data centers em grande escala. Esses empreendimentos estratégicos são fundamentais para atender à crescente necessidade por poder computacional no País e na América Latina”, disse ao BRAZIL ECONOMY Eric Brenner, CEO da DHL Global Forwarding Brasil.
Segundo dados do Ministério da Fazenda, 60% dos serviços digitais brasileiros são prestados no exterior. Isso implica riscos à soberania nacional, limita o desempenho operacional das aplicações digitais e acarreta déficits na balança comercial do setor, de acordo com a pasta.
O Brasil é o 10º colocado no ranking mundial de data centers, atrás de países como Japão e Holanda. O Redata visa mudar esse panorama, com atração de projetos a partir dos benefícios tributários e também pelo uso de energia renovável a preços competitivos e infraestrutura de comunicações adequada para o tráfego internacional de dados por meio de cabos submarinos em operação.
O transporte desses equipamentos, marítimo ou aéreo, é uma das linhas de serviço especial da DHL Global Forwarding, que no ano passado foi responsável por € 19,6 bilhões dos € 84,2 bilhões do faturamento da companhia alemã.
No Brasil, onde a DHL abriu mais um gateway no Aeroporto de Viracopos (Campinas) no ano passado, o setor de data centers é visto como estratégico, segundo Brenner.
“O Brasil está ativamente se posicionando como um player estratégico na corrida competitiva impulsionada pela crescente demanda global por infraestrutura digital. Nesse contexto, o País possui uma representatividade significativa, com projetos de grande escala que não apenas atendem ao mercado local, mas também o consolidam como um polo regional”, disse o executivo.
Empresas como Ascenty, Elea, Equinix e Scala possuem investimentos bilionários no Brasil para aumentar sua capacidade de dados por aqui. Segundo o Data Center Map, o território brasileiro possui 188 equipamentos, todos voltados para cloud – no mundo são 12 mil.
Quatro voltados à Inteligência Artificial (IA) estão sendo projetados no Rio de Janeiro (RJ), em Eldorado do Sul (RS), em Maringá (PR) e em Uberlândia (MG). Outro, de iniciativa conjunta entre a ByteDance (controladora chinesa do TikTok) e a desenvolvedora de parques eólicos Casa dos Ventos, começa a ser montado no ano que vem no Complexo Portuário do Pecém, no Ceará, em investimento de R$ 50 bilhões.
Segundo a McKinsey, espera-se que as empresas invistam globalmente quase US$ 7 trilhões em infraestrutura de data centers até o final da década.
“Na DHL Global Forwarding, a megatendência global de digitalização, impulsionada por avanços em IA e 5G, se traduz em oportunidades concretas para o Brasil”, disse Brenner.
“A demanda por data centers, por exemplo, gera um pulso de projetos que exige nossa expertise em logística especializada para gerenciar a complexidade do transporte de equipamentos de alto valor e grande porte. Nossa capacidade de lidar com esses projetos críticos no Brasil é um reflexo direto do papel crescente do País no cenário tecnológico global.”
O executivo ressaltou que o transporte de cargas críticas, como data centers, exige um planejamento rigoroso e expertise para mitigar riscos em cada etapa.
“Também é fundamental aplicar metodologias de engenharia logística. Isso significa ir além do transporte básico e ser capaz de planejar e executar projetos com garantia de segurança e precisão, do ponto de origem até a instalação final”, disse o executivo, ao citar que ferramentas como o myDHLi são essenciais para que os clientes possam monitorar suas remessas e tomar decisões informadas rapidamente.
Pilares
Com o boom da infraestrutura digital, o avanço do e-commerce e a reestruturação das cadeias de suprimentos globais, que criam um ambiente de crescimento econômico, a DHL Global Forwarding ancora sua estratégia local no Brasil em três pilares de investimento.
“O primeiro, centrado no capital humano especializado, com a expansão da equipe local com profissionais de logística experientes em planejamento de orçamento e transporte não padrão”, apontou Brenner.
O segundo, na operação, “com o apoio de fornecedores certificados para garantir a segurança e a qualidade nos projetos críticos, minimizando riscos e interrupções”.
E o terceiro, no aprimoramento da gestão de projetos, “com a implementação de monitoramento em tempo real, uso de embalagens personalizadas e fornecimento de soluções de segurança para cargas sensíveis, garantindo a entrega e a integridade da carga”.
Semicondutores
Além dos data centers, a DHL Global Forwarding observa crescimento “sólido e estratégico” em outras áreas-chave no País, como o setor automotivo, com projetos de grande escala para montadoras e fornecedores de componentes, e o setor de Healthcare e Life Science, que demanda soluções de transporte com temperatura controlada e alta precisão.
Apenas o mercado global de semicondutores pode alcançar US$ 1 trilhão até 2030, sendo um dos principais impulsionadores de soluções logísticas especializadas.
“Essa diversificação mostra a maturidade do mercado brasileiro e nossa capacidade de atender a uma gama complexa de necessidades logísticas”, frisou o CEO, ao ressaltar que as demandas mais importantes do mercado brasileiro se concentram na necessidade de soluções logísticas que combinem agilidade, previsibilidade e segurança.
Reestruturação da globalização
O novo desenho da logística global, a partir das guerras e tensões comerciais entre os países, impulsiona as incertezas geopolíticas, gera novas tarifas e uma busca por maior resiliência nas cadeias de suprimentos.
Com isso, surgem novos corredores comerciais e algumas regiões se fortalecem, como o Sudeste Asiático, que está criando rotas emergentes para mercados como a América Latina e o Menat (Oriente Médio, África do Norte e Turquia).
“Essas transformações apresentam desafios claros. A volatilidade tarifária e as incertezas geopolíticas comprometem o planejamento ideal das rotas para equipamentos de grande porte, exigindo uma visão de longo prazo e um gerenciamento de risco constante”, disse Eric Brenner.
Para o CEO, esse cenário não é apenas um desafio, mas também uma oportunidade estratégica. “Nosso papel evoluiu de simples provedor de transporte para parceiro estratégico. Por isso, incentivamos veementemente os clientes a nos envolver o mais cedo possível nos projetos”, salientou.
“Isso nos permite cocriar soluções, otimizar rotas e cronogramas, e garantir a resiliência da cadeia de suprimentos por meio de soluções multimodais, rotas alternativas e expertise aduaneira, transformando a complexidade em vantagem competitiva”, concluiu.