Distribuição de cheques de Trump de até US$ 2 mil deve alimentar a inflação

Embora o presidente ainda não tenha detalhado um plano para a receita tarifária, ele mencionou a ideia de um “dividendo” para americanos de baixa renda

Nino Paoli (Fortune)
Compartilhe:

Imagens: Anna Moneymaker/Getty Images

Trump disse que pretende distribuir aos americanos de baixa renda parte da arrecadação do tarifaço

Trump disse que pretende distribuir aos americanos de baixa renda parte da arrecadação do tarifaço

Cheques de US$ 1 mil a US$ 2 mil enviados aos americanos podem estar a caminho, disse recentemente o ex-presidente Donald Trump em entrevista à emissora de extrema direita One America News. Mas especialistas afirmam que esses cheques provavelmente seriam inflacionários.

“Pode acabar se tornando um tipo estranho de ciclo de retroalimentação, em que o estímulo das tarifas justifica o repasse de mais custos tarifários”, afirmou Chris Motola, analista financeiro da National Business Capital, plataforma de empréstimos e serviços financeiros, à revista Fortune.

No entanto, se os relatórios de inflação ou de emprego deste mês, que estão atrasados devido à paralisação do governo, apontarem para uma mudança na economia, os cheques oriundos da arrecadação tarifária poderiam “começar a parecer muito melhores e menos inflacionários”, acrescentou Motola.

Paul Johnson, professor adjunto de value investing na Gabelli School of Business da Universidade Fordham, disse à Fortune que, em vez de guardar o dinheiro, os consumidores provavelmente farão o que sabem fazer melhor: gastar.

“Se os consumidores fossem agentes econômicos racionais, colocariam esses cheques nas economias”, afirmou Johnson. “Mas as chances são grandes de que encarem isso como dinheiro grátis.”

O dinheiro extra proveniente dos possíveis cheques poderia compensar parte do impacto das tarifas sobre os consumidores, mas cheques emitidos pelo governo costumam ter como objetivo estimular o consumo, uma política fiscal inflacionária, completou o professor.

Um porta-voz da Casa Branca disse à Fortune: “Como ainda não apresentamos nenhum plano oficial nesse sentido que possa ser devidamente analisado, esses economistas estão apenas especulando com base em suposições não comprovadas sobre políticas hipotéticas.”

Embora Trump tenha anteriormente associado os pacotes de estímulo da era Biden (pagos sob o American Rescue Plan Act de 2021) ao aumento da inflação, Motola afirmou que os cheques de arrecadação tarifária poderiam ter um efeito semelhante, mas mais fraco.

No programa de Biden, adultos com renda bruta ajustada inferior a US$ 75 mil por ano, ou casais com renda conjunta inferior a US$ 150 mil, receberam US$ 1.400 por adulto, mais US$ 1.400 por dependente, independentemente da idade. Chefes de família com renda inferior a US$ 112.500 também se qualificaram.

Embora Trump ainda não tenha detalhado um plano para os cheques de receita tarifária, ele mencionou em agosto a ideia de um “dividendo” ou distribuição financiada por tarifas para americanos de baixa e média renda.

Os cheques hipotéticos de US$ 1.000 a US$ 2.000 poderiam ter valores semelhantes aos do estímulo de Biden, mas os “dólares da Covid” e os dólares de hoje são muito diferentes devido à inflação elevada dos últimos anos, que superou o crescimento dos salários.

Isso significa que o poder de compra real (ajustado pela inflação) caiu para o americano médio. O dinheiro não rende tanto quanto antes, o que faz com que o impacto inflacionário de uma nova rodada de cheques seja relativamente menor, explicou Motola.

Ainda assim, para o professor Johnson, a proposta de cheques financiados por tarifas não é uma medida econômica sólida, mas sim um movimento político, uma grande encenação. “Não há economia real por trás disso”, concluiu.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

ASSINE NOSSA NEWSLETTER E
FIQUE POR DENTRO DAS PRINCIPAIS NOTÍCIAS DO MERCADO

    Quer receber notícias pelo Whatsapp ou Telegram? Clique nos ícones e participe de nossas comunidades.

    `