Brasil precisa acelerar o ritmo das agendas prioritárias antes do Carnaval

A transição energética e a economia verde apresentam oportunidades únicas para o país recuperar seu protagonismo no setor, aproveitando suas vantagens competitivas em energia limpa e biodiversidade

Fernando Valente Pimentel*
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Imagens: Divulgação

Pimentel afirma que o Brasil precisa aumentar sua participação no comércio global de bens de maior valor agregado

Pimentel afirma que o Brasil precisa aumentar sua participação no comércio global de bens de maior valor agregado

O ano de 2024 deixou um legado misto para a economia brasileira. Por um lado, apresentou resultados positivos concretos: crescimento econômico relevante, mas ainda aquém das nossas necessidades; taxa de desemprego em níveis baixos para nossos padrões; aumento da renda média; e avanços na redução das desigualdades sociais. Essa fotografia do momento retrata um país que conseguiu superar diversos desafios e manter sua trajetória de desenvolvimento.

No entanto, o horizonte de 2025 apresenta alguns pontos de atenção. A sustentabilidade fiscal permanece uma fonte de preocupação para os mercados, refletindo-se na valorização do dólar e na manutenção de taxas de juros elevadas. As projeções indicam uma desaceleração do crescimento do PIB e uma redução no ritmo dos investimentos, sinalizando a necessidade de ações corretivas imediatas.

Nesse contexto, a agenda da Nova Indústria Brasil (NIB) emerge como pauta fundamental para o crescimento sustentável. O fortalecimento da base manufatureira, de modo a aumentar a participação do Brasil no comércio mundial de bens e produtos de maior valor agregado, é essencial para gerar empregos qualificados e reduzir vulnerabilidades externas. A transição energética e a economia verde apresentam oportunidades únicas para o país recuperar seu protagonismo no setor, aproveitando suas vantagens competitivas em energia limpa e biodiversidade.

Um desafio particularmente grave e urgente é o combate ao crime organizado, que tem demonstrado crescente ousadia e capacidade de articulação. As facções não apenas causam perdas irreparáveis de vidas humanas, mas também geram impactos econômicos substanciais, afetando o comércio, o turismo e os investimentos em diversas regiões. A sensação de insegurança e os custos diretos e indiretos da violência representam um pesado fardo para o desenvolvimento nacional, exigindo uma resposta coordenada e efetiva do Estado em todas as suas esferas.

O cenário internacional adiciona ingredientes de complexidade e incerteza para 2025. Os conflitos mais visíveis — entre Rússia e Ucrânia e no Oriente Médio — arrastam-se sem perspectiva clara de resolução e continuam impactando as cadeias globais de suprimentos e os preços das commodities. Em paralelo, as crescentes tensões entre China e Estados Unidos, especialmente no campo tecnológico e comercial, geram instabilidade nos mercados internacionais e exigem um delicado exercício de equilíbrio diplomático dos demais países.

A possível volta de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos adiciona uma nova variável à equação geopolítica global. As incertezas quanto ao posicionamento norte-americano em questões cruciais — desde acordos comerciais até compromissos climáticos — podem afetar significativamente o ambiente do comércio exterior e exigir readequações nas estratégias diplomáticas e comerciais do Brasil. Tal cenário reforça ainda mais a importância de fortalecermos nossa base industrial e reduzirmos dependências externas estratégicas. Além disso, um potencial aumento expressivo do imposto de importação sobre produtos chineses pelos EUA levaria a desvios de comércio, e o Brasil seria um dos principais destinos desse redirecionamento, impactando setores como o têxtil e de confecção. Em 2024, por exemplo, a importação de produtos têxteis e confeccionados cresceu seis vezes mais do que a produção e o consumo locais.

O ano de 2025 será decisivo, demandando ação coordenada e determinada em diversas frentes. O desequilíbrio fiscal, a trajetória ascendente da dívida pública e a necessidade de fortalecer uma política industrial moderna e competitiva são desafios que precisam ser enfrentados com eficácia e pragmatismo. Não há espaço para procrastinação ou soluções paliativas. O momento exige reformas estruturantes, como a administrativa, que seguiu adormecida em 2024, e medidas efetivas para equilibrar a dosimetria dos juros e a política fiscal.

No âmbito político-institucional, enfrentaremos uma agenda intensa no Congresso Nacional e no Poder Judiciário. As decisões tomadas nessas esferas terão impacto direto na capacidade do Brasil de endereçar seus problemas mais urgentes — desde a segurança pública até a manutenção de uma trajetória de crescimento sustentado e sustentável —, passando pela criação de um ambiente favorável aos investimentos produtivos e à inovação tecnológica.

Em paralelo, 2025 coloca o Brasil em posição de destaque no cenário internacional. A presidência do BRICS oferece uma oportunidade única para exercermos liderança em questões globais estratégicas, especialmente em um momento de realinhamento das forças geopolíticas mundiais. Além disso, a realização da COP 30, em Belém do Pará, em novembro, reforça o protagonismo brasileiro nas discussões sobre sustentabilidade e mudanças climáticas — um tema que ganha ainda mais relevância diante das incertezas sobre o comprometimento das grandes potências com as metas ambientais do planeta e que pode catalisar nossa reindustrialização verde.

O questionável estigma popular de que o ano brasileiro só começa após o Carnaval precisa ser deixado de lado. Os desafios e oportunidades que se apresentam não podem esperar. É imperativo iniciar 2025 a pleno vapor, com senso de urgência e determinação, mobilizando todos os setores da sociedade e do poder público em torno de uma agenda comum de desenvolvimento e segurança. O país não pode, como no verso de Chico Buarque de Holanda, ficar “se guardando para quando o Carnaval chegar”. É hora de manter a sintonia, a afinação, o ritmo e a harmonia no andamento das agendas prioritárias.

É premente arregaçar as mangas e trabalhar pela construção do futuro que o Brasil merece, levando em conta não apenas os desafios internos, mas também seu papel em um mundo cada vez mais complexo e interconectado. Um país mais forte industrialmente e em outros segmentos da economia será mais resiliente e capaz de garantir bem-estar e qualidade de vida para sua população.

*Fernando Valente Pimentel é diretor-superintendente e presidente emérito da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit)

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