A mais recente edição da Sondagem Omie das Pequenas Empresas, realizada entre 12 e 24 de agosto com 535 empreendedores, revela que mais da metade dos entrevistados (56%) percebe impactos negativos da conjuntura econômica em suas vendas no curto prazo. Outros 34% preferem adotar uma postura de espera, sinalizando estagnação, enquanto apenas 43% ainda projetam crescimento, ainda que modesto, para os próximos meses.
Esse quadro de maior pessimismo reflete diretamente nas decisões relacionadas a recursos humanos. A parcela de empresas que não pretendem contratar aumentou de 28% no primeiro semestre para 38% no segundo, enquanto a fatia que planeja abrir novas vagas caiu de 43% para apenas 29%. O recuo evidencia o freio de mão puxado por empreendedores que, diante das condições adversas, evitam ampliar custos fixos e compromissos trabalhistas.
A pesquisa mostra que as taxas de juros seguem no topo da lista de entraves: 52% dos empresários apontam a Selic elevada como o principal impeditivo ao crescimento. O efeito é direto na tomada de crédito, que encarece investimentos, sufoca margens e impede movimentos de expansão. Além disso, 41% mencionaram a elevada competitividade como um fator que pressiona preços e exige constante esforço de diferenciação em mercados saturados. Outros 40% destacaram a falta de capital de giro, consequência da dificuldade de acesso a linhas de financiamento e da necessidade de equilibrar prazos de recebimento e pagamento.
Esses obstáculos não estão isolados. Dados do IODE-PMEs, indicador desenvolvido pela Omie em parceria com a Fundação Getulio Vargas (FGV), mostram que o faturamento real das pequenas empresas caiu 0,6% no primeiro semestre de 2025. O resultado acompanha o movimento de desaceleração do PIB e reflete a fragilidade de setores-chave, como serviços e comércio, que dependem do consumo interno e do crédito para girar.
Na avaliação de Felipe Beraldi, economista da Omie, o cenário atual se apoia em um tripé de desafios que limita o crescimento: juros altos, custos crescentes e queda na confiança. Segundo ele, esses três fatores se retroalimentam, criando um ciclo difícil de romper.
“O pequeno empresário brasileiro lida com múltiplas pressões simultâneas. Quando o custo do dinheiro sobe, a margem de manobra diminui. Isso afeta tanto a capacidade de investir quanto a disposição de contratar. Ao mesmo tempo, os custos operacionais aumentam, seja pela inflação residual, seja pela necessidade de se manter competitivo em um mercado cada vez mais exigente. E, diante disso, a confiança naturalmente cai, o que leva muitos a postergar decisões estratégicas”, explica.
Beraldi destaca ainda que, em um contexto em que a economia dá sinais de arrefecimento, o papel da contabilidade será ainda mais determinante. “Os dados mostram que há espaço para uma atuação mais consultiva dos contadores junto às PMEs. O momento é de apoiar o empreendedor a entender riscos, se adaptar e até encontrar oportunidades dentro da mudança tributária, para não ser surpreendido nos próximos anos”, afirma.
Reforma Tributária e eleições
Se o presente já é desafiador, o futuro adiciona novas camadas de incerteza. A implementação da Reforma Tributária, prevista para começar em 2026, tende a mexer profundamente com a dinâmica das pequenas empresas, que precisarão se adaptar às novas regras do sistema de impostos sobre consumo. Para muitas, será necessário rever processos internos, atualizar sistemas de gestão e contar com orientação especializada para evitar erros que possam custar caro.
Além disso, o calendário eleitoral aumenta a volatilidade das expectativas. Historicamente, anos de eleição presidencial costumam trazer hesitação tanto por parte dos empresários quanto dos investidores, o que tende a adiar planos de expansão e comprometer o ritmo de investimentos privados.
“Estamos diante de um ciclo que exige preparo. As empresas que conseguirem se antecipar, revisando seus custos, ajustando estratégias e buscando apoio especializado, terão mais chances de atravessar esse período com resiliência”, reforça Beraldi.
A vida real das PMEs
O impacto da conjuntura pode ser observado em casos concretos. Pequenos restaurantes e bares, por exemplo, têm relatado dificuldade em repassar aumentos de custos de insumos ao consumidor final, em um ambiente de renda ainda apertada. Já prestadores de serviços, como clínicas médicas e empresas de tecnologia, enfrentam clientes mais seletivos e contratos renegociados com prazos mais longos de pagamento.
No comércio, o movimento é de cautela: lojistas adiam a abertura de novas filiais e concentram esforços em manter o fluxo de caixa saudável. Muitos recorrem a alternativas como renegociação de dívidas ou busca por linhas de crédito mais acessíveis em cooperativas e fintechs, mas, mesmo assim, o espaço de manobra segue restrito.
A sondagem da Omie sugere que o próximo ano deve começar como mais um capítulo desafiador para os pequenos empresários. A manutenção de uma política monetária restritiva, somada à retração da confiança e às incertezas do processo eleitoral, desenha um cenário de transição delicado. Contudo, também abre espaço para que empresas mais estruturadas se destaquem.
A lógica é simples: em tempos de instabilidade, a sobrevivência depende menos do crescimento acelerado e mais da capacidade de se manter competitivo, preservando margens e fidelizando clientes. Para isso, planejamento financeiro, controle de custos e inovação nos modelos de negócio aparecem como caminhos inevitáveis.
Os resultados da sondagem deixam claro o peso da conjuntura atual sobre as PMEs. Mais da metade (56%) já percebe impactos negativos da economia em suas vendas, 34% acreditam que permanecerão estáveis e apenas 43% ainda mantêm expectativas de crescimento. No mercado de trabalho, a proporção de empresas que não pretendem contratar subiu de 28% no primeiro semestre para 38% no segundo, enquanto a fatia que planeja abrir novas vagas despencou de 43% para 29%. Os principais entraves citados foram os juros elevados (52%), a competitividade intensa (41%) e a falta de capital de giro (40%).
Esses indicadores, embora duros, servem como alerta para o futuro próximo. Eles reforçam a necessidade de adaptação rápida, de estratégias mais sólidas de gestão e do apoio de especialistas para enfrentar não apenas os desafios conjunturais, mas também as transformações estruturais que marcarão a economia brasileira a partir de 2026.