Que Brasil é esse? O que pensam os líderes de sete pilares da economia

O BRAZIL ECONOMY ouviu sete presidentes das mais importantes entidades setoriais brasileiras. Todos reivindicam mais previsibilidade, menos burocracia e competição mais aberta

Paulo Pandjiarjian
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Imagens: Rogério Macadura/fotomontagem

Da esq. à dir., Antonio Carlos Souza dos Santos (SESCON-SP), Roberto Mateus Ordine (ACSP), Flávio Roscoe (FIEMG), Ricardo Alban (CNI), José Roberto Tadros (CNC),Tirso Meirelles (FAESP/SENAR-SP) e Tadeu Silva (Acrefi)

Da esq. à dir., Antonio Carlos Souza dos Santos (SESCON-SP), Roberto Mateus Ordine (ACSP), Flávio Roscoe (FIEMG), Ricardo Alban (CNI), José Roberto Tadros (CNC),Tirso Meirelles (FAESP/SENAR-SP) e Tadeu Silva (Acrefi)

Com a Selic em 15%, inflação resistente e um tabuleiro político em reorganização, o setor produtivo brasileiro vive um teste de estresse. Para captar o pulso dessa travessia, o BRAZIL ECONOMY ouviu os presidentes de sete entidades-chave: Antonio Carlos Souza dos Santos (SESCON-SP), Roberto Mateus Ordine (ACSP), Flávio Roscoe (FIEMG), Ricardo Alban (CNI), José Roberto Tadros (CNC), Tirso Meirelles (Sistema FAESP/SENAR-SP e vice-presidente do SEBRAE-SP) e Tadeu Silva (ACREFI).

Do ponto de vista de todos, previsibilidade, menos burocracia e competição mais aberta são condições de base. As ênfases, porém, mudam conforme o setor: crédito e liquidez para pequenas e médias, eficiência e produtividade na indústria e no agro, e segurança regulatória para o comércio e serviços.

Selic em 15%: preservar investimento e emprego

Juro alto pressiona capex, margens e fornecedores. A resposta, segundo os dirigentes, passa por gestão mais enxuta no curtíssimo prazo e agenda estrutural para elevar produtividade.

  • Flávio Roscoe (FIEMG): “O primeiro passo é aprimorar a gestão para reduzir custos e compensar a desaceleração.” O ganho de eficiência abre espaço para descontos e suaviza a queda nas vendas.
  • Roberto Mateus Ordine (ACSP): “É preciso um choque de gestão ao longo de 12 meses para enfrentar o custo de capital e a provável retração da demanda.”
  • Antonio Carlos Souza dos Santos (SESCON-SP): “Linhas de crédito subsidiadas preservam caixa e empregos no curto prazo.”
  • Tadeu Silva (ACREFI): “Financiamento e capacitação dão segurança a empresários e equipes para manter a operação sem comprometer a sustentabilidade.”
  • José Roberto Tadros (CNC): “Além do imediato, previsibilidade de longo prazo para que o comércio planeje expansão.”
  • Tirso Meirelles (FAESP/SENAR-SP): “No agro, eficiência e tecnologia contrabalançam o encarecimento do crédito rural.”

A CNI considera o atual patamar de juros “incompatível com crescimento sustentável” e propõe três frentes:

  1. Emergencial: capital de giro acessível, antecipação de créditos tributários e suporte às MPEs.
  2. Em até 90 dias: ampliar BNDES para modernização e proteção do emprego.
  3. Em 12 meses: crédito de longo prazo, inovação e capacitação para ganhar resiliência.

Síntese: há consenso sobre medidas imediatas de liquidez e redução de custos combinadas a gestão, qualificação e inovação. Divergem as prioridades (caixa/margem vs. eficiência/tecnologia), mas todos defendem respostas rápidas e coordenadas.

 

Política, eleições e previsibilidade

Com 2026 no horizonte, a incerteza eleitoral afeta o cronograma de investimentos.

  • CNC (Tadros): “Empresários adiam decisões estratégicas até terem clareza.”
  • FAESP/SENAR-SP (Meirelles): volatilidade em subsídios e crédito rural freia planos no campo.
  • ACSP (Ordine) e FIEMG (Roscoe): estabilidade regulatória e tributária é insumo de competitividade.
  • SESCON-SP (Souza dos Santos) e ACREFI (Silva): pedem calendário regulatório anual e avanço de reformas (como a administrativa).
  • CNI (Alban): propõe “pacto de nação” com diretrizes de 30 anos para emprego, ciência, tecnologia e inovação, redução do Custo Brasil e previsibilidade fiscal.

Ponto comum: segurança jurídica e coordenação de reformas para mitigar o “efeito eleição” sobre investimento, emprego e crescimento.

 

Tarifaço dos EUA e cadeias globais

Tarifas elevadas impostas pelos EUA reacenderam o debate sobre abertura e diversificação.

  • FIEMG (Roscoe): maior abertura reduziria custos de insumos, máquinas e equipamentos.
  • ACSP (Ordine): urge diversificar mercados e firmar acordos com Europa e México.
  • SESCON-SP e ACREFI: apoio via compliance, tecnologia e crédito às empresas expostas.
  • CNC (Tadros) e FAESP/SENAR-SP (Meirelles): ampliar destinos e fortalecer vendas regionais para diluir riscos.
  • CNI: alerta para forte alcance do tarifaço sobre a pauta exportadora e articula três frentes: negociação com os EUA por exceções, parcerias em setores estratégicos (data centers, combustíveis sustentáveis, minerais críticos) e suporte técnico ao governo brasileiro.

Diagnóstico: só abertura gradual, diversificação e suporte às exportadoras reduzem a vulnerabilidade e protegem a competitividade no médio e longo prazo.

 

Pacto fiscal e trajetória dos juros

A equação é conhecida: credibilidade fiscal reduz prêmio de risco e abre espaço para cortes sustentáveis da Selic.

  • FIEMG (Roscoe): o arcabouço atual não conteve a dívida; isso encarece tudo.
  • ACSP (Ordine): regra rígida e estável possibilitaria queda consistente dos juros em cerca de um ano.
  • CNC (Tadros): rever renúncias ineficientes e vincular novos gastos a fontes claras.
  • FAESP/SENAR-SP (Meirelles): previsibilidade para investimentos de longo prazo no agro.
  • SESCON-SP e ACREFI: segurança jurídica para MPEs e investidores.
  • CNI (Alban): responsabilidade fiscal deve caminhar com agenda de produtividade e inovação, para que os cortes de juros sejam sustentáveis.

Convergência: um pacto fiscal crível destrava investimento, emprego e crescimento — desde que respeitado e bem comunicado.

 

Políticas sociais: proteção com foco em autonomia

Todos convergem: inflação baixa, educação e capacitação ancoram a proteção aos vulneráveis sem romper a consolidação fiscal.

  • FIEMG (Roscoe) e ACSP (Ordine): controlar a inflação é a melhor política social.
  • CNC (Tadros) e FAESP/SENAR-SP (Meirelles): qualificação e empregabilidade reduzem dependência de auxílios.
  • SESCON-SP e ACREFI: microcrédito produtivo, simplificação tributária e assistência técnica fortalecem pequenos negócios.
  • CNI (Alban): políticas sociais conectadas a inovação e infraestrutura social ampliam oportunidades e fortalecem a base produtiva.

Trinca essencial: inflação sob controle, educação e emprego — combinados a inclusão financeira para os menores.

 

Investimento público e reformas: recuperar a competitividade

O caminho de longo prazo: infraestrutura física e digital, capital humano e ambiente de negócios simples.

  • FIEMG (Roscoe): atacar o Custo Brasil (logística, inovação, qualificação).
  • ACSP (Ordine): carência de mão de obra qualificada é gargalo reincidente.
  • FAESP/SENAR-SP (Meirelles): tecnologia e assistência técnica elevam produtividade no campo.
  • CNC (Tadros): modernização administrativa e simplificação tributária aliviam custos do comércio.
  • SESCON-SP e ACREFI: digitalização, inovação e previsibilidade regulatória atraem capital.
  • CNI (Alban): sem programa robusto de infraestrutura e abertura comercial, o Brasil perde terreno externo.

Prioridades setoriais variam, mas a estratégia integrada (infraestrutura + inovação + qualificação + reformas) é consenso.

 

Banco Central: autonomia com coordenação mínima

Há acordo amplo sobre a autonomia técnica do BC como pilar de credibilidade.

  • ACSP (Ordine) e SESCON-SP (Souza dos Santos): autonomia com coordenação institucional limitada e transparente.
  • FIEMG (Roscoe) e FAESP/SENAR-SP (Meirelles): independência técnica é prioridade absoluta.
  • ACREFI (Silva) e CNC (Tadros): transparência e comunicação clara reduzem incerteza.
  • CNI (Alban): sem previsibilidade fiscal e estabilidade política, a política monetária perde efetividade.

Essencial: BC autônomo, política fiscal crível e comunicação consistente para equilibrar inflação, atividade e confiança.

 

O quadro geral

Da indústria ao agro, do comércio aos serviços e ao crédito, emerge uma agenda comum:

  1. Previsibilidade (fiscal, regulatória e eleitoral).
  2. Liquidez de curto prazo para manter empresas e empregos.
  3. Produtividade via gestão, tecnologia e qualificação.
  4. Abertura e diversificação para reduzir vulnerabilidade externa.
  5. Autonomia do BC com comunicação clara e coordenação mínima.
  6. Políticas sociais ancoradas em educação e empregabilidade.

O recado é direto: o Brasil tem potencial para crescer, mas precisa sincronizar política monetária, fiscal e social; acelerar infraestrutura e reformas; e oferecer regras claras que reduzam risco e atraiam investimento. A confiança do setor privado (e a continuidade de uma economia real capaz de gerar empregos) dependerá da capacidade de transformar essa pauta consensual em execução consistente.

 

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